segunda-feira, 10 de novembro de 2014


Segunda-feira da 32ª semana do Tempo Comum
Comentário do dia 
Isaac da Estrela (?-c. 1171), monge cisterciense 
Sermão 31: PL 194,1792, SC 207
Perdoar sete vezes ao dia
«Levai os fardos uns dos outros de outros; assim cumprireis a lei de Cristo»; «Suportai-vos uns aos outros com amor» (Gal 6,2; Ef 4,2): é esta a lei de Cristo. Quando vejo no meu irmão alguma coisa incorrigível, como resultado de dificuldades ou de enfermidades físicas ou morais, porque não suportá-lo com paciência, porque não consolá-lo com todo o coração, segundo a palavra da Escritura: «Os seus filhos serão levados ao colo e consolados sobre os joelhos» (Is 66,12)? Faltar-me-á essa caridade que tudo suporta, que é paciente para apoiar, indulgente para amar (cf 1Cor 13,7)? De qualquer maneira, esta é a lei de Cristo: na sua Paixão, Ele realmente «tomou sobre Si as nossas enfermidades» e, na sua misericórdia, «carregou com as nossas dores» (Is 53,4), amando aqueles que carregava, carregando aqueles que amava.

Quem, ao contrário, é agressivo para com o irmão em dificuldades, quem o atormenta pelas suas fraquezas, sejam elas quais forem, submete-se obviamente à lei do diabo e executa-a. Sejamos pois compassivos uns com os outros e cheios de amor fraternal; suportemos as fraquezas e lutemos contra os vícios. […] E qualquer tipo de vida que permita entregar-se com mais sinceridade ao amor de Deus e, por Ele, ao amor ao próximo – seja na vida religiosa ou na vida laica – é verdadeiramente agradável a Deus.

Segunda-feira da 32ª semana do Tempo Comum 

Carta a Tito 1,1-9. 
Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, em ordem à fé dos eleitos de Deus e ao conhecimento da verdade, que conduz à piedade,
na esperança da vida eterna, prometida desde os tempos antigos pelo Deus que não mente
e que, no devido tempo, manifestou a sua palavra, pela pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso Salvador:
a Tito, meu verdadeiro filho, pela fé comum, a graça e a paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador.
Deixei-te em Creta, para acabares de organizar o que ainda falta e para colocares presbíteros em cada cidade, de acordo com as minhas instruções.
Cada um deles deve ser irrepreensível, marido de uma só mulher, com filhos crentes, e não acusados de vida leviana ou de insubordinação.
Porque é preciso que o bispo, como administrador de Deus, seja irrepreensível, não arrogante, nem colérico, nem dado ao vinho, à violência ou ao lucro desonesto;
mas, antes, hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente,
firmemente enraizado na doutrina da palavra digna de fé, de modo que seja capaz de exortar com sãos ensinamentos e de refutar os contraditores.



Livro de Salmos 24(23),1-2.3-4ab.5-6. 
Ao Senhor pertence a terra e o que nela existe,
o mundo inteiro e os que nele habitam.
Pois Ele a fundou sobre os mares
e a consolidou sobre os abismos.

Quem poderá subir à montanha do Senhor
e apresentar-se no seu santuário?
O que tem as mãos inocentes e o coração limpo,
o que não ergue o espírito para as coisas vãs.

Este há-de receber a bênção do Senhor  
e a recompensa de Deus, seu salvador.
Esta é a geração dos que O procuram,
dos que buscam a face do Deus de Jacob.




Evangelho segundo S. Lucas 17,1-6. 
Naquele tempo, disse Jesus aos deus discípulos: «É inevitável que haja escândalos; mas ai daquele que os causa!
Melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem ao mar, do que escandalizar um só destes pequeninos.
Tende cuidado convosco! Se o teu irmão te ofender, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe.
Se te ofender sete vezes ao dia e sete vezes te vier dizer: 'Arrependo-me', perdoa-lhe.»
Os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé.»
O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: 'Arranca-te daí e planta-te no mar', e ela havia de obedecer-vos.»

O Mal Real



+ Senhor, valei-nos no Juízo particular e no Juízo final! Tende piedade de nós!... # Amplie-me, por favor...Quando perguntaram a S. Jerónimo por que se retirou para uma gruta de Belém, a fim de viver como eremita penitente, ele respondeu:
«Condenei-me a esta prisão, porque temo o Inferno!»Um gigante de doutrina e santidade, como ele, temia o Inferno!
E nós, sem doutrina nem santidade, 
não nos preocupamos, nem queremos pensar no Inferno!
E assim demonstramos o que realmente somos:
pobres e insensatos!S. Paulo, arrebatado ao 3.º Céu, carregado de méritos, temia o facto de poder condenar-se. (cf. 1 Cor 9, 27)E nós, com uma frivolidade que amedronta, presumimos evitar o Inferno, sem méritos nem receios!
Aliás, chegamos até ao cúmulo de recomendar não dever-se falar do Inferno, com o falso pretexto dissoassustar ou traumatizar,
 não nos importando sequer o facto de Jesus, no Evangelho, ter falado tanto doInferno, não uma só vez, mas 28 vezes, pelo menos!Como sempre, cobardes que somos, gostamos muito de discursos alegres e doces, dum cristianismo fácil, com efeitos de falsos "hossanas e aleluias"...
«Fora daqui, malditos!»Esta é a terrificante condenação dos que morrem em pecado mortal.
«Estes irão para eterno suplício»
 (Mt 25, 46)."Irão", quer dizer: só vai para o Infernoquem quer ir!
Deus criou-nos a todos para o Paraíso, e dá-nos os meios para lá chegar, mas deixa-nos livres para aceitar, ou não, esses meios.O homem que os recusa, sabe, portanto, que voluntariamente perde o Paraíso e escolhe o Inferno.Deus quer que façamos tudo livremente, com plena responsabilidade.
Assim mesmo, não podemos queixar-nos de qualquerimposição ou injustiça de Deus, na exacta medida em que Ele respeita a liberdade total do homem.

Porém, quanta loucura, maldade e ingratidão, renunciar a Deus Santíssimo, perdendo a Glória eterna do Paraíso, para cair, deliberadamente, naquele abismo de horrores, o Inferno eterno, que é a moradia dos demónios!A visão de Deus, face a face, a união a Jesus e a Nossa Senhora, a companhia dos Anjos e dos Santos, perpetuamente...!A perda eterna desses bens infinitos constitui a "pena de dano" dos réprobos; ou seja, a pena mais horrível e pavorosa que possamos conceber.
Ademais, sendo verdade que, com o pecado mortal, crucificamos misticamente a Jesus, o Seu próprio Coração, 
«de quanto maior suplício não será digno aquele que, assim mesmo, calcar aos pés o Filho de Deus!» (Heb 10, 29).




NO FOGO DO INFERNO

No Inferno existe também a "pena do sentido", ou seja, o «fogo eterno» (Mt 18, 7), «que põe os danados como vítimas dos tormentos... dum fogo ardente» (Lc 16, 23-24).A Geena é a figura mais expressiva que Jesus usou para figurar o Inferno.
A Geena é um profundo vale, sobre um dos lados de Jerusalém.
Nesse vale, lançava-se todo o lixo da cidade, que era queimado num fogo contínuo.
O Inferno é como um depósito de lixo do Céu e da Terra:Nele foram precipitados todos os anjos rebeldes, assim como são lançados todos os homens imundos, perversos e corrompidos, mortos em pecado mortal!

Todos aí são queimados com 
«fogo inextinguível» (Mc 9, 44), e odiando a Deus por toda a eternidade.Verdadeiramente, «é terrível cair nas mãos de Deus vivo!» (Heb 10, 31).
Mas não poder-se-á dizer, talvez, que a pena eterna seja desproporcional às culpas do homem?
Não, porque «
na medida em que a recompensa está no mérito, assim também (na mesma proporção) a pena está na culpa» (S. Tomás de Aquino).Às boas acções corresponde o Paraíso eterno; assim como às más acções (pecados mortais) corresponde o Inferno eterno.Rico avarento que, durante a vida, tinha gozado somente de "lautos banquetes", pensando apenas em divertir-se; e o pobre Lázaro, que sempre suportara em paz as próprias desventuras, deixando até que os cachorros lhe"lambessem as feridas", fazem-nos compreender, bastante bem, a diversa e oposta sorte eterna que caberá, justamente, aos homens maus e bons. (Cf. Lc 16, 19-31)



MUITOS CONDENAM-SE !

Em Fátima, a Virgem Imaculada não hesitou em mostrar o Inferno aos três Pastorinhos, a 13 de Julho de 1917.
E Lúcia descreveu aquela terrível visão, como melhor podia, com estas palavras:
«Vimos como que um mar de fogo, dele emergindo os demónios e as almas, como carvões pretos e transparentes, ardentes e em forma humana, flutuando entre muito fumo, como as faíscas nos grandes incêndios, caindo para todos os lados sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero, que aterrorizavam e faziam desmaiar de medo...!»«Viram o Inferno - disse Nossa Senhora -, para onde vão as almas dos pobres pecadores!
Para salvá-las, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração»...
E, na aparição de mês Agosto, Ela exortou e revelou:«Rezai muito e fazei penitência pelos pecadores, pois vão muitas almas para o Inferno, por não terem quem reze e se sacrifique por elas!»Reflictamos seriamente nestas palavras deNossa Senhora, unindo-nos fortemente ao seu Imaculado Coração, tendo bem radicado em nós o empenho de viver sempre na Graça de Deus, prontos a tudo sofrer para não cometermos nenhum pecado mortal.«Não temais os que matam o corpo, mas que não podem matar a alma. Temei, antes, Aquele que pode lançar a alma e o corpo na Geena» (Mt 10, 28).Se os homens pensassem seriamente nestas Palavras de Jesus, agindo em conformidade, quem seria condenado? Ninguém!



COMO MORRE UM 'RÉPROBO'

+ Amados Jesus, José e Maria, assisti-nos na última agonia!S. Clemente Hofbauer, apóstolo de Viena, foi visitar um moribundo não crente, sendo recebido com este insulto:«Vai para o diabo, frade! Vai-te embora!»"Antes disso, quero ver como morre um pecador arrependido!"-- respondeu o Frade.Com estas palavras, o moribundo pôs-se a pensar, ficando silencioso...S. Clemente invoca Maria, com ardor.
Logo depois, o moribundo chora e exclama: 

«Padre, perdoai-me! Aproximai-vos!».


Ele confessa-se, banhado em lágrimas, e morre invocando Maria, Refúgio dos pecadores.
"A Misericórdia de Maria salva um grande número de infelizes que, segundo as leis da Divina Justiça, iriam ser condenados".
Confiemos n'Ela, então, com toda a esperança!

 


terça-feira, 18 de março de 2014

Quarta-feira, dia 19 de Março de 2014
S. José, esposo da Virgem Maria

S. José

Hoje, comemoramos o grande patrono da Igreja Universal, São José. Ninguém ignora que São José é o esposo de Nossa Senhora e pai adotivo de Jesus. A Bíblia não ...fala muito dele. No entanto, o amor cristão faz de cada palavra do Evangelho de São Mateus um ensinamento novo para a vida. Eis alguns factos que sempre recordamos: A ordem dada a São José, de receber Maria como esposa. É o fim do Antigo Testamento e o começo do Novo. Ele é o patriarca, o grande pai. A fuga para o Egipto e a volta lembram a história de todo o povo de Israel - o Êxodo. Portanto, São José é o amigo do povo, dos pobres, dos pequeninos, dos perseguidos e dos sofredores. Da Bíblia, recebeu ele o título maior que ela costuma dar a alguém: Justo. São José era um homem "justo". Tanto a Idade Média quanto os tempos modernos lembraram muito São José como modelo para o lar e, também, para o operário. A simplicidade e a fidelidade fizeram de São José o protetor escolhido para Maria e para o próprio Jesus, bem como para todos nós.
 
 
CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA
DEI VERBUM SOBRE A REVELAÇÃO DIVINA
INTRODUÇÃO
1. A Palavra de Deus é religiosamente auscultada com coragem proclamada pelo Concílio, que faz suas as palavras de São João: "Nós vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e se nos manifestou: nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos para que vós também estejais em comunhão conosco e a nossa comunhão seja com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo" ( I Jo 1, 2-3). Por isto, seguindo as pegadas dos Concílios Tridentino e Vaticano I, este Santo Concílio se propõe expor a genuína doutrina acerca da Revelação Divina e de sua transmissão a fim de que, pelo anúncio da salvação, o mundo inteiro ouvindo creia, crendo espere, esperando ame.
I. A REVELAÇÃO COMO TAL
Natureza e objeto da Revelação
2. Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se e tomar conhecido o mistério de sua vontade (cf. Ef 1, 9), pelo qual os homens têm, no Espírito Santo, acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina por Cristo, Verbo feito carne (cf. Ef 2, 18; II Pe 1, 4). Mediante esta revelação, portanto, o Deus invisível (cf. Col 1, 15; I Tim 1, 17), levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos ( cf. Êx 33, 11; Jo 15, 14-15), entretém-se com eles (cf. Bar 3, 38) para convidá-los à participação de sua intimidade. Esta economia da Revelação se concretiza através de acontecimentos e palavras intimamente conexos. Assim, as obras realizadas por Deus na História da Salvação manifestam e corroboram os ensinamentos e as realidades significadas pelas palavras. Estas, por sua vez, proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido. No entanto, o conteúdo profundo da verdade comunicada por esta revelação a respeito de Deus e da salvação do homem se nos manifesta em Cristo que é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação.
Preparação da Revelação Evangélica
3. Criando pelo Verbo o universo (cf. Jo 1, 3) e conservando-o, Deus proporciona aos homens, nas coisas criadas, um permanente testemunho de si mesmo (cf Rom 1, 19-20). Além disso, no intuito de abrir o caminho de uma salvação superior, manifestou-se a si mesmo desde os primórdios a nossos primeiros pais. E após a queda destes, havendo prometido a redenção, alentou-os a esperar uma salvação (cf. Gên 3, 15) e velou permanentemente pelo gênero humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que, pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação (cf. Rom 2, 6-7). A seu tempo, Deus chamou a Abraão, a fim de fazer dele um grande povo (cf. Gên 12, 2-3), ao qual, após os Patriarcas, foi educando por meio de Moisés e dos Profetas a reconhecê-lo como único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e justo juiz, e a esperar o Salvador prometido. E assim foi Deus preparando, ao longo dos séculos, o caminho para o Evangelho.
Cristo completa a Revelação
4. Depois de ter falado em muitas ocasiões e de diversos modos pelos Profetas, "ultimamente, nesta etapa final, Deus nos falou por seu Filho" (Heb 1, 1-2). Com efeito, ele enviou seu Filho, o Verbo eterno que ilumina todos os homens, para que habitasse entre eles e lhes expusesse os arcanos de Deus (cf. Jo 1, 1-18). Jesus Cristo, portanto, Verbo feito carne, enviado como "homem aos homens", "fala a linguagem de Deus" (Jo 3, 34) e consuma a obra salvífica que o Pai lhe confiou (cf Jo 5, 36; 17, 4). Eis por que ele, ao qual quem vê vê também o Pai (cf Jo 14, 9), pela plena presença e manifestação de si mesmo por palavras e obras, sinais e milagres, e especialmente por sua morte e gloriosa ressurreição dentre os mortos e, enfim, pelo Espírito de verdade enviado, realiza e completa a revelação e a confirma, atestando de maneira divina que Deus está conosco para libertar-nos das trevas da morte e do pecado e para ressuscitar-nos para a vida eterna. A economia cristã, pois, em sua qualidade de aliança nova e definitiva, jamais passará, e não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. I Tim 6, 14; Tt 2, 13).
A Revelação deve ser recebida na fé
5. Ao Deus que revela deve-se "a obediência da fé" (Rom 16, 26; cf. Rom 1, 5; II Cor 10, 5-6), pela qual o homem livremente se entrega todo a Deus, prestando ao Deus revelador "um obséquio pleno do intelecto e da vontade" e dando voluntário assentimento à verdade por ele revelada. Para que se preste essa fé, exigem-se a graça prévia e adjuvante de Deus e os auxílios internos do Espírito Santo, que move o coração e converte-o a Deus, abre os olhos da mente e dá "a todos suavidade no consentir e crer na verdade". A fim de tornar sempre mais profunda a compreensão da Revelação, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa continuamente a fé por meio de seus dons.
As verdades reveladas
6. Pela revelação divina quis Deus manifestar-se e comunicar-se a si mesmo e os decretos eternos de sua vontade acerca da salvação dos homens, a saber, para fazer participar os bens divinos, que superam inteiramente a capacidade da mente humana. Este sacrossanto Concílio professa que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas criadas (cf Rom 1, 20); mas ensina que se deve atribuir à sua revelação o fato de mesmo na presente situação do gênero humano se poderem conhecer por todos e de modo acessível e com sólida certeza e sem mistura de nenhum erro aquelas coisas que em matéria divina não são de per si inacessíveis à razão humana.
II. A TRANSMISSÃO DA DIVINA REVELAÇÃO
Os Apóstolos e seus sucessores, pregoeiros do Evangelho
7. Em sua extrema benignidade, Deus tomou providências a fim de que aquilo que ele revelara para a salvação de todos os povos se conservasse inalterado para sempre e fosse transmitido a todas as gerações. Por isto o Cristo Senhor, em quem se completa toda a revelação do Sumo Deus (cf. II Cor 1, 20; 3, 16-4, 6), ordenou aos Apóstolos que o Evangelho, prometido antes pelos Profetas, completado por ele e por sua própria boca promulgado, fosse por eles pregado a todos os homens como fonte de toda verdade salvífica e de toda disciplina de costumes, comunicando-lhes dons divinos. E isto foi fielmente executado tanto pelos Apóstolos, que na pregação oral, por exemplos e instituições, transmitiram aquelas coisas que receberam das palavras, da convivência e das obras de Cristo ou que aprenderam das sugestões do Espírito Santo, como também por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação.
Mas para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como sucessores os Bispos, a eles transmitindo "o seu próprio encargo de Magistério". Portanto, esta Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura de ambos os Testamentos são como o espelho em que a Igreja peregrinante na terra contempla a Deus, de quem tudo recebe, até que chegue a vê-lo face a face como é (I Jo 3, 2). A Sagrada Tradição
8. Assim, a pregação apostólica, expressa de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se sem interrupção até a consumação dos tempos. Por isto os Apóstolos, transmitindo aquilo que eles próprios receberam (cf. I Cor 11, 23; 15, 3), exortam os fiéis a manter as tradições que aprenderam seja oralmente, seja por carta (cf. II Tes 2, 15) e a combater pela fé uma vez transmitida aos santos (cf. Jdr 3). Quanto à Tradição recebida dos Apóstolos ela compreende todas aquelas coisas que contribuem para santamente conduzir a vida e fazer crescer a fé do Povo de Deus, e assim a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê.
Esta Tradição, oriunda dos Apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Cresce, com efeito, a compreensão tanto das realidades como das palavras transmitidas, seja pela contemplação e estudo dos que crêem, os quais as meditam em seu coração (cf. Lc 2, 19 e 51), seja pela íntima compreensão que desfrutam das coisas espirituais, seja pela pregação daqueles que com a sucessão do episcopado receberam o carisma autêntico da verdade. É que a Igreja, no decorrer dos séculos, tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que se cumpram nelas as palavras de Deus.
O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante dessa Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja que crê e ora. Pela mesma Tradição toma-se conhecido à Igreja o Cânon completo dos Livros Sagrados e as próprias Sagradas Escrituras são nela cada vez melhor compreendidas e se fazem sem cessar atuantes. E assim o Deus, que outrora falou, mantém um permanente diálogo com a esposa de seu dileto Filho, e o Espírito Santo, pelo qual a voz viva do Evangelho ressoa na Igreja e através da Igreja no mundo, leva os fiéis à verdade toda e faz habitar neles abundantemente a palavra de Cristo (cf. Col 3, 16).
Relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura
9. A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão, portanto, estreitamente conexas e interpenetradas. Ambas promanam da mesma fonte divina, formam de certo modo um só todo e tendem para o mesmo fim. Com efeito, a Sagrada Escritura é a fala de Deus enquanto é redigida sob a moção do Espírito Santo; a Sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos para que, sob a luz do Espírito de verdade, eles em sua pregação fielmente a conservem, exponham e difundam. Resulta, assim, que não é através da Escritura apenas que a Igreja consegue sua certeza a respeito de tudo que foi revelado. Por isso, ambas - Escritura e Tradição - devem ser recebidas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência.
Relação da Tradição e da Bíblia com a Igreja e o Magistério
10. A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só sagrado depósito da palavra de Deus confiado à Igreja. Em se lhe apegando firmemente, o povo santo todo, unido a seus Pastores, persevera continuamente na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, na fração do pão e nas orações (cf. 1, 42 ), de sorte que se verifica, da parte de Antístites e de fiéis, uma singular convergência no conservar, praticar e professar a fé transmitida.
O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. Tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a seu serviço, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo religiosamente ausculta aquelas palavras, santamente a guarda e fielmente a expõe. E deste único depósito da fé o Magistério tira tudo aquilo que nos propõe como verdade de fé divinamente revelada.
Fica, portanto, claro que segundo o sapientíssimo plano divino a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal maneira entrelaçados e unidos que um perde sua consistência sem os outros e que, juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas.
III. INSPIRAÇÃO DIVINA DA BÍBLIA E SUA INTERPRETAÇÃO
Inspiração e verdade na Sagrada Escritura
11. As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito na Sagrada Escritura e nesta se nos oferecem, foram consignadas sob influxo do Espírito Santo. Pois a Santa Mãe lgreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo (cf. Jo 20, 31; II Tim 3, 16; II Pe 1, 19-21; 3, 15-16), eles têm em Deus o seu autor e nesta sua qualidade foram confiados a mesma Igreja. Na redação dos livros sagrados Deus escolheu homens, utilizou-se deles sem tirar-lhes o uso das próprias capacidades e faculdades, a fim de que, agindo ele próprio neles e por eles, consignassem por escrito, como verdadeiros autores, aquilo tudo e só aquilo que ele próprio quisesse.
Portanto, já que tudo o que os autores inspirados ou os hagiógrafos afirmam deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, segue-se que devemos confessar que os livros da Escritura ensinam inconcussamente, fielmente e sem erro a verdade que Deus para nossa salvação quis fosse consignada por escrito. Por isso, "toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra" (II Tim 3, 16-17).
Como interpretar a Sagrada Escritura
12. Entretanto, já que Deus na Sagrada Escritura falou através de homens e de modo humano, deve o intérprete da Sagrada Escritura, para bem entender o que Deus nos quis transmitir, investigar atentamente o que foi que os hagiógrafos de fato quiseram dar a entender e por suas palavras aprouve a Deus manifestar.
Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, deve-se levar em conta, entre outras coisas, também os gêneros literários. Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras bem diferentes nos textos de um modo ou outro históricos, ou proféticos, ou poéticos, bem como em outras modalidades de expressão. Ora, é preciso que o intérprete pesquise o sentido que, em determinadas circunstâncias, o hagiógrafo, conforme a situação de seu tempo e de sua cultura, quis exprimir e exprimiu por meio de gêneros literários então em uso. Pois, para corretamente entender aquilo que o autor sacro haja intencionado afirmar por escrito, é necessário levar devidamente em conta tanto as nossas maneiras comuns e espontâneas de pensar, falar e contar, as quais já eram correntes no tempo do hagiógrafo, como as que costumavam empregar-se no intercâmbio humano daquelas eras.
Mas como a Sagrada Escritura deve ser também lida e interpretada naquele mesmo Espírito em que foi escrita, para bem captar o sentido dos textos sagrados, deve-se atender com não menor diligência ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura, levada em conta a Tradição viva da Igreja toda e a analogia da fé. Cabe aos exegetas trabalhar esforçadamente dentro destas diretrizes para mais aprofundadamente entender e expor o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho de certo modo preparatório amadureça o julgamento da Igreja. Pois tudo o que concerne à maneira de interpretar a Escritura está sujeito em última instância ao juízo da Igreja, que exerce o mandato e ministério divino de guardar e interpretar a palavra de Deus. Condescendência de Deus
13. Na Sagrada Escritura, portanto, manifesta-se, resguardada sempre a verdade e santidade de Deus, a admirável condescendência da eterna Sabedoria, "a fim de que conheçamos a inefável benignidade de Deus, e de quanta acomodação de linguagem usou, providente e cuidadoso que é de nossa natureza". Pois as palavras de Deus expressas por línguas humanas se fizeram semelhantes à linguagem humana, tal como outrora o Verbo do Pai Eterno, havendo assumido a carne da fraqueza humana, se fez semelhante aos homens.
IV. O ANTIGO TESTAMENTO
A história da Salvação nos livros do Antigo Testamento
14. O amantíssimo Deus, querendo e preparando solicitamente a salvação de todo o gênero humano, por singular disposição escolheu para si um povo ao qual confiaria as promessas. Contraída a aliança com Abraão (cf. Gên 15, 18) e através de Moisés com o povo de Israel (cf. Êx 24, 8), Deus se revelou por palavras e ações como o único Deus verdadeiro e vivo. Israel fez assim a experiência dos caminhos de Deus para com os homens e, falando o próprio Deus pela boca dos Profetas, cada vez mais profunda e claramente os compreendeu e deles deu testemunho diante dos povos (cf. Sal 21, 28-29; 95, 1-3; Is 2, 1-4 ; Jer 3, 17). Mas a economia da salvação, prenunciada, narrada e explicada pelos autores sagrados, subsiste como verdadeira palavra de Deus nos livros do Antigo Testamento. Eis por que esses livros divinamente inspirados conservam um valor perene "Tudo quanto outrora foi escrito, foi escrito para a nossa instrução, a fim de que, pela perseverança e pela consolação que dão as Escrituras, tenhamos esperança" (Rom 15, 4).
Importância do Antigo Testamento para os cristãos
15. A economia do Antigo Testamento estava ordenada principalmente para preparar a vinda de Cristo, redentor de todos, e de seu Reino Messiânico, para anunciá-la profeticamente (cf. Lc 24, 44; Jo 5, 39; I Pe 1, 10) e dá-la a conhecer através de várias figuras (cf. I Cor 10, 11). Os livros do Antigo Testamento, em conformidade com a condição do gênero humano dos tempos anteriores à salvação realizada por Cristo, manifestam a todos o conhecimento de Deus e do homem e os modos pelos quais o justo e misterioso Deus trata com os homens. Estes livros, embora contenham também algumas coisas imperfeitas e transitórias manifestam, contudo, a verdadeira pedagogia divina. Por isto, devem ser devotamente recebidos pelos cristãos esses livros que exprimem um sentido vivo de Deus e contêm sublimes ensinamentos acerca de Deus e uma salutar sabedoria concernente à vida do homem e admiráveis tesouros de preces, nos quais enfim está latente o mistério de nossa salvação.
Unidade dos dois testamentos
16. Deus, pois, inspirador e autor dos livros de ambos os Testamentos, de tal modo dispôs sabiamente, que o Novo estivesse latente no Antigo e o Antigo no Novo se aclarasse. Com efeito, embora Cristo tenha estabelecido uma Nova Aliança em seu sangue (cf. Lc 22, 20; I Cor 11, 25), contudo, os livros todos do Antigo Testamento, recebidos na pregação evangélica, obtêm e manifestam seu sentido completo no Novo Testamento (cf. Mt 5, 17; Lc 24, 27; Rom 16, 25-26; II Cor 3, 14-16), e por sua vez o iluminam e explicam.
V. O NOVO TESTAMENTO
Excelência do Novo Testamento
17. A Palavra de Deus, que é a força de Deus para a salvação de todo o que crê (cf. Rom 1, 16), é apresentada e manifesta seu vigor de modo eminente nos escritos do Novo Testamento. Com efeito, quando chegou o tempo estabelecido (cf. Gal 4, 4), o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade (Jo 1, 14). Cristo instaurou na terra o Reino de Deus, por fatos e por palavras deu a conhecer o Pai e a si próprio, e completou sua obra com a morte, ressurreição e gloriosa ascensão e com o envio do Espírito Santo. Levantado da terra atrai todos a si (cf. Jo 12, 32). Ele é o único que tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6, 68). Este mistério, porém, não foi manifestado a outras gerações como foi revelado agora aos seus santos Apóstolos e Profetas no Espírito Santo (cf Ef 3, 46) para que pregassem o Evangelho, suscitassem à fé em Jesus Cristo e Senhor e congregassem a Igreja. Os escritos do Novo Testamento são testemunho perene e divino destas coisas.
Origem apostólica dos Evangelhos
18. Ninguém desconhece que entre todas as Escrituras, mesmo as do Novo Testamento, os Evangelhos gozam de merecida primazia, uma vez que constituem testemunho por excelência da vida e da doutrina do Verbo Encarnado, nosso Salvador. Que os quatro Evangelhos têm origem apostólica, a Igreja sempre e em toda parte o ensinou e ensina. Pois, aquilo que os Apóstolos pregaram por ordem de Cristo, eles próprios e os varões apostólicos sob a inspiração do Espírito Santo no-lo transmitiram em escritos que são o fundamento da fé, a saber, o quadriforme Evangelho segundo Mateus, Marcos, Lucas e João.
Índole histórica dos Evangelhos
19. A Santa Mãe Igreja firme e constantemente creu e crê que os quatro mencionados Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para salvação deles, até o dia em que foi elevado (cf. At 1, l-2). Os Apóstolos, após a ascensão do Senhor, transmitiram aos ouvintes aquilo que ele dissera e fizera, com aquela mais plena compreensão de que gozavam, instruídos que foram pelos gloriosos acontecimentos concernentes a Cristo e esclarecidos pela luz do Espírito da verdade. Os autores sagrados escreveram os quatro Evangelhos, escolhendo certas coisas das muitas transmitidas ou oralmente ou já por escrito, fazendo síntese de outras ou explanando-as com vistas à situação das igrejas, conservando enfim a forma de proclamação, sempre de maneira a transmitir-nos verdades autênticas a respeito de Jesus. Pois foi esta a intenção com que escreveram, seja com fundamento na própria memória e recordações, seja baseado no testemunho daqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da Palavra, para que conheçamos a solidez daqueles ensinamentos que temos recebido (Lc 1, 2-4).
Os demais escritos do Novo Testamento
20. O cânon do Novo Testamento contém, além dos quatro Evangelhos, também as cartas de São Paulo e outros escritos apostólicos exarados sob inspiração do Espírito Santo. É através deles que, por um sábio desígnio de Deus, é confirmado o testemunho de Cristo Senhor, é mais e mais elucidada a sua genuína doutrina, anuncia-se o poder salvífico da obra divina de Cristo, narram-se os inícios e a admirável difusão da Igreja e se prenuncia a sua gloriosa consumação. Pois o Senhor Jesus, conforme prometera, assistiu seus Apóstolos (cf. Mt 28, 20) e lhes enviou o Espírito Paráclito que deveria conduzi-los à plenitude da verdade (cf. Jo 16, 13).
VI. A SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA
A Igreja venera as Sagradas Escrituras
21 A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como sempre venerou ao próprio corpo do Senhor, já que sem cessar toma da mesa da palavra de Deus e do Corpo de Cristo o pão da vida e o serve aos filhos. Sempre as teve e tem, juntamente com a Tradição, como suprema regra de sua fé, porque, inspiradas por Deus e consignadas por escrito uma vez para sempre, comunicam imutavelmente a palavra do próprio Deus e fazem ressoar através das palavras dos Profetas e Apóstolos a voz do Espírito Santo. É necessário, portanto, que toda pregação eclesiástica, como a própria religião cristã, seja alimentada e orientada pela Sagrada Escritura. Nos Livros Santos, com efeito, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala. E é tão grande a força poderosa que se encerra na palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo vigoroso para a Igreja, firmeza na fé para seus filhos, alimento da alma, perene e pura fonte da vida espiritual. Por tudo isto, aplicam-se perfeitamente à Sagrada Escritura estas palavras: "A palavra de Deus é viva e eficaz (Heb 4, 12), poderosa para edificar e repartir a herança entre os santificados" (Ar 20, 32; cf. I Tes 2, 13).
Traduções corretas e adequadas
22. É preciso que o acesso à Sagrada Escritura seja amplamente aberto aos fiéis. Por isso, desde o início a Igreja acolheu como sua e conhecida antiquíssima versão do Antigo Testamento, chamada dos Setenta; e tem sempre em honrosa consideração as outras versões orientais e as versões latinas, principalmente a chamada Vulgata. Porém, como a palavra de Deus deve estar à disposição de todas as épocas, pede a Igreja com materna solicitude se façam versões corretas e adequadas para as diversas línguas, sobretudo a partir dos textos originais dos livros sagrados. Se se julgar oportuno, as traduções poderiam contar com a colaboração dos irmãos separados e, prévia anuência da autoridade eclesiástica, poderiam ser utilizadas por todos os cristãos.
Empenho dos estudiosos e especialistas
23. A Esposa do Verbo Encarnado, a Igreja, instruída pelo Espírito Santo, se esforça para conseguir cada dia uma compreensão mais profunda da Sagrada Escritura, a fim de incessantemente nutrir seus filhos com os ensinamentos divinos. Por esta razão, fomenta devidamente o estudo dos Santos Padres do Oriente e do Ocidente e das Sagradas Liturgias. É preciso que os exegetas católicos e todos aqueles que se dedicam à Sagrada Teologia, unindo corajosamente suas forças, procurem, com meios aptos, investigar e apresentar, sob a vigilância do Magistério, as divinas Letras, de maneira que o maior número possível de ministros da divina Palavra possa frutuosamente fornecer ao Povo de Deus o alimento das Escrituras que ilumine a mente, fortaleça as vontades e inflame os corações dos homens para o amor de Deus. Este concílio encoraja os filhos da Igreja que se dedicam aos assuntos bíblicos a que com todo o esforço prossigam de acordo com o sentir da Igreja, na execução do trabalho felizmente empreendido, com cotidiana renovação de forças.
Importância da Sagrada Escritura para a Teologia
24. A Sagrada Teologia tem por base, como seu perene fundamento, a palavra escrita de Deus junto com a Sagrada Tradição, e neste fundamento ela se fortalece firmissimamente e sempre se remoça perscrutando à luz da fé toda a verdade encerrada no mistério de Cristo. Ora, as Sagradas Escrituras contêm a palavra de Deus e, porque inspiradas, são verdadeiramente palavra de Deus. Por isto, o estudo das Sagradas Páginas seja como que a alma da Sagrada Teologia. Nesta mesma palavra da Sagrada Escritura também se nutre salutarmente e santamente floresce o ministério da palavra, a saber, a pregação pastoral, a catequese e toda a instrução cristã, na qual deve ter lugar de destaque a homilia litúrgica.
Recomenda-se a leitura da Sagrada Escritura
25. Eis por que é necessário que todos os clérigos, sobretudo os sacerdotes de Cristo e os outros que, como diáconos ou catequistas, legitimamente se consagram ao ministério da palavra, se apeguem às Escrituras Sagradas, mediante assídua leitura e cuidadoso estudo das mesmas, para que não venha a ser "vão pregador da palavra de Deus externamente, quem a ela não presta ouvido interiormente", quando, especialmente na Sagrada Liturgia, tem que comunicar aos fiéis a si confiados as vastíssimas riquezas da palavra divina. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, especialmente aos religiosos, a que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, alcancem esse bem supremo: "o conhecimento de Jesus Cristo" (Flp 3, 8). Porquanto "ignorar as Escrituras é ignorar Cristo". De bom grado, pois, vão ao próprio texto sagrado, quer pela Sagrada Liturgia, repleta da divina palavra, quer pela piedosa leitura, quer por cursos apropriados e outros meios que, com a aprovação e empenho dos Pastores da Igreja, hoje em dia louvavelmente se difundem por toda parte. Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração, a fim de que se estabeleça um colóquio entre Deus e o homem. Pois "com ele falamos quando rezamos, a ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos". Cabe aos sagrados Pastores, depositários da doutrina apostólicas, educar oportunamente os fiéis que lhes foram confiados para o correto uso dos livros divinos, sobretudo do Novo Testamento e dos Evangelhos, por meio de versões dos textos sagrados acompanhadas das explicações necessárias e realmente suficientes, a fim de que os filhos da Igreja, segura e utilmente, se familiarizem com as Escrituras Sagradas e de seu espírito fiquem imbuídos. Além disso, façam-se edições da Sagrada Escritura munidas de apropriadas anotações, para uso também dos não-cristãos e adaptadas à situação deles. E, tanto os Pastores de almas como os cristãos de qualquer condição, inteligentemente procurem difundi-las de todos os modos.
CONCLUSÃO
26. Assim, pois, com a leitura e o estudo dos Livros Sagrados, se propague e seja estimada a palavra do Senhor (II Tes 3, I), e o tesouro da Revelação confiado à Igreja cada vez mais tome conta dos corações dos homens. Assim como a vida da Igreja se desenvolve pela assídua participação no mistério eucarístico, assim é lícito esperar um novo impulso de vida espiritual de uma acrescida veneração pela palavra de Deus, que permanece eternamente (Is 40, 8; cf. I Pe 1, 23-25).
Todo o conjunto e cada um dos pontos que foram enunciados nesta Constituição Dogmática pareceram bem aos Padres Conciliares. E nós, em virtude do Poder Apostólico a nós confiado por Cristo, juntamente com os Veneráveis Padres, no Espírito Santo os aprovamos, decretamos e estatuímos. E o que foi determinado em Concílio mandamos seja promulgado para a Glória de Deus.

Roma, junto de São Pedro, no dia 18 de Novembro de 1965.
S. JOSÉ, esposo da Virgem Santa Maria, padroeiro da Igreja universal - Solenidade 

Comentário do dia

 São Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genebra, doutor da Igreja
Conversas, nº 19

«Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor»
Como foi fiel em humildade, este grande santo [que festejamos]! E tal não se pode dizer com base na sua perfeição pois, apesar de ser quem era, em que pobreza e opróbrio viveu durante toda a sua vida! Pobreza e opróbrio sob os quais escondeu e encobriu as suas grandes virtudes e a sua dignidade. […] Na verdade, não tenho dúvida nenhuma de que os anjos, cheios de admiração, vieram em bando considerar e admirar a sua humildade, quando ele guardava o Menino na oficina onde praticava o seu ofício, para alimentar o Filho e a Mãe que lhe estavam confiados.

Não há dúvida de que São José foi mais valente que David e mais sábio que Salomão [seus antepassados]; no entanto, vendo-o reduzido ao exercício da carpintaria, quem poderia conceber tal coisa sem estar iluminado pela luz celeste, tão bem escondidos ele trazia os dons admiráveis com que Deus o tinha agraciado? Mas tinha de ter muita sabedoria, visto que Deus tinha posto a seu cargo o seu glorioso Filho […], o Príncipe universal do céu e da terra! […] E, apesar de tudo, vedes como ele se rebaixou e humilhou mais do que se poderia dizer ou imaginar […]: foi à sua terra, à sua cidade de Belém, e ali ninguém foi mais rejeitado por todos do que ele. […] Vede como o Anjo o conduz à sua vontade: diz-lhe que tem de ir para o Egito e ele vai; ordena-lhe que regresse e ele regressa. Deus quer que ele se mantenha sempre pobre […], e ele a isso se submete amorosamente, e não apenas durante algum tempo, pois permaneceu pobre toda a sua vida.
S. JOSÉ, esposo da Virgem Santa Maria, padroeiro da Igreja universal - Solenidade

Livro de 2º Samuel 7,4-5a.12-14a.16.
Naqueles dias, o Senhor falou a Natan, dizendo: 
«Vai dizer ao meu servo David: Diz o Senhor: "És tu que me vais construir uma casa para Eu habitar?
Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino.
Ele construirá um templo ao meu nome, e Eu firmarei para sempre o seu trono régio.
Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Se ele cometer alguma falta, hei-de corrigi-lo com varas e com açoites, como fazem os homens,
A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre".»


Livro de Salmos 89(88),2-3.4-5.27.29.
Hei-de cantar para sempre o amor do Senhor;
a todas as gerações anunciarei a sua fidelidade.
Proclamarei que o teu amor é para sempre,
e que a tua fidelidade é eterna como o céu.

"Fiz uma aliança com o meu eleito,
jurei a David, meu servo:
'Estabelecerei a tua descendência para sempre
e o teu trono há-de manter-se eternamente'."

Ele me invocará, dizendo: 'Tu és meu pai,
és o meu Deus e o rochedo da minha salvação!'
Eternamente lhe assegurarei o meu favor,
e a minha aliança com ele será fiel.



Carta aos Romanos 4,13.16-18.22.
Irmãos: Não foi em virtude da Lei, mas da justiça obtida pela fé que a Abraão, ou à sua descendência, foi feita a promessa de que havia de receber o mundo em herança.
Por isso, é da fé que depende a herança. Só assim é que esta é gratuita, de tal modo que a promessa se mantém válida para todos os descendentes: não apenas para aqueles que o são em virtude da Lei, mas também para os que o são em virtude da fé de Abraão, pai de todos nós,
conforme o que está escrito: Fiz de ti o pai de muitos povos. Pai diante daquele em quem acreditou, o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência o que não existe.
Foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência.
Esta foi exactamente a razão pela qual isso lhe foi atribuído à conta de justiça.


Evangelho segundo S. Mateus 1,16.18-21.24a.
Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo.
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo.
José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente.
Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo.
Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.»
Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Sexta-feira da 1ª semana da Quaresma
14-03-2014

Livro de Ezequiel 18,21-28.

Assim fala o Senhor: « Se o pecador renuncia a todos os pecados que cometeu, se observa todas as minhas leis e pratica o direito e a justiça, ele deve viver, não morrerá.
Não serão lembradas as faltas que cometeu, viverá por causa da justiça que praticou.
Porventura me hei de comprazer com a morte do pecador - oráculo do Senhor DEUS - e não com o facto de ele se converter e viver?
Mas se o justo se desvia da sua justiça e pratica o mal, imitando os crimes abomináveis a que se entrega o pecador, porventura viverá? A justiça que praticou não será recordada; por causa da infidelidade a que se entregou e do pecado que cometeu, morrerá.
Porém, vós dizeis: 'O modo de proceder do Senhor não é justo.' Escutai, pois, casa de Israel: Então é o meu modo de agir que não é justo? Ou é o vosso que o não é ?
Se o justo se afasta da sua justiça para praticar o mal e morre por causa disto, é por causa do mal que praticou que ele morrerá.
Se o pecador se afasta do pecado que cometeu para praticar o direito e a justiça, ele merece viver.
Se ele se afasta dos pecados que cometeu, viverá certamente, não morrerá.


Livro de Salmos 130(129),1-2.3-4ab.4c-6.7-8.
Do fundo do abismo clamo por ti, Senhor,
Senhor, ouve a minha prece.
Estejam teus ouvidos atentos
à voz da minha súplica.

Se tiveres em conta os nossos pecados,
Senhor, quem poderá resistir? 
Mas junto de vós encontramos o perdão,
Mas junto de vós encontramos o vosso perdão

por isso temos o vosso temor em nós.
Eu espero no Senhor,
a minha alma espera na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor,
mais do que a sentinela na aurora.

No Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante a redenção
Ele há de livrar Israel
de todos os seus pecados.  



Evangelho segundo S. Mateus 5,20-26.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu.»
«Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo.
Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar 'imbecil’ será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar 'louco’ será réu da Geena do fogo.
Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti,
deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta.
Com o teu adversário mostra-te conciliador, enquanto caminhardes juntos, para não acontecer que ele te entregue ao juiz e este à guarda e te mandem para a prisão.
Em verdade te digo: Não sairás de lá até que pagues o último centavo.»