sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Maria Mãe de Deus e Mãe da Igreja



A Igreja apresenta-nos quatro dogmas sobre Maria 

Gostaria de iniciar por falar sobre os quatros dogmas que a Igreja proclamou sobre a Virgem Maria. Quando a Igreja proclama um dogma através do Papa, num Concílio, nós precisamos de o acolher como verdade, mesmo que por vezes não o entendamos. Santo Agostinho dizia: “Deus não é para ser entendido, mas adorado”. O Deus verdadeiro não cabe na nossa cabeça; por isso, muitas vezes, não entendemos os dogmas da fé.

Sobre Maria, é nos apresentado quatro dogmas:

 A Maternidade divina, a Imaculada Conceição, a Assunção de Nossa Senhora ao céu e a Virgindade Perpétua de Maria.

Primeiro Dogma: 

Maternidade Divina. A maior glória de Nossa Senhora foi ter sido escolhida para ser a Mãe de Deus, do Verbo Encarnado. É claro que Ele sempre existiu no seio da Santíssima Trindade, pois o Senhor é eterno. Ao contrário de nós que fomos criados, Deus sempre existiu. Por isso, no Credo, Niceno-Constantinopolitano diz-se: “Creio em um só Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos. ”. Jesus nasceu de forma humana, mas não deixa por isso de ser divino. Quando o Catecismo(CIC) fala da escolha de Nossa Senhora diz que, desde toda a eternidade, Deus já a havia escolhido para ser a Mãe de Seu filho ( 488).

“Deus juntou todas as águas e fez o mar. Deus juntou todas as graças e fez Maria” (Luís Maria Grignion de Montfort).

“Deus é um instante que não passa” (Karl Rahner). Podemos desta forma questionarmo-nos: “Porque Deus escolheu Maria?”. Ela responde no Magnificat: “Ele olhou para a pequenez de sua serva” (Lc. 1,45). Dizem que todas as mulheres de Israel tinham o sonho de ser mãe do Salvador, mas Nossa Senhora não tinha essa pretensão.

“Deus criou o homem para a imortalidade” (Sabedoria 2,23), mas este não quis obedecer a Deus. E o Senhor, para trazer a salvação ao mundo, enviou uma nova Mulher para vencer a soberba. Se pela soberba de Eva o pecado entrou no mundo, pela humildade de Maria entrou a salvação.

Quando Isabel ficou grávida e Maria foi visitá-la, o filho de Isabel estremeceu no seu seio, pois, no ventre de Maria, estava o Salvador; e no de Isabel, o precursor de Jesus, João Baptista. Isabel disse: “A que devo a honra de receber a visita da Mãe do meu Senhor”. A primeira parte da Ave-Maria, saiu da boca de Isabel e do Anjo Gabriel.

Desde os primeiro séculos, que já se acreditava neste dogma, Maria, a Mãe de Deus. Na biblioteca de Alexandria há papiros que dizem: “À vossa proteção nos recorremos Santa Mãe de Deus”. Esta oração é de meados do século 200. Nessa região houve muitas perseguições e martírios aos Cristãos. Quando chegou o ano 430, surgiu uma heresia: o Patriarca de Constantinopla dizia que Maria não era a Mãe de Deus. A Igreja precisou fazer um Concílio, na cidade de Éfeso, na Turquia, e ai a Igreja disse solenemente: “Maria é a Mãe de Deus (Theotokos).

Sabemos que existem, infelizmente, cristãos não dizem a “Mãe de Deus”, mas a “Mãe de Jesus”. Nós dizemos que Maria é a Mãe de Deus, porque Jesus é Deus. E tudo o que o Filho precisa, Ele pede à Mãe.


Segundo Dogma: 

A Imaculada Conceição. A Virgem Maria não teve pecado original. Santo Agostinho disse: “Nem se deve tocar na palavra “pecado” ao se tratar de Maria; e isto por respeito Àquele de quem ela mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça.”

Pio IX no ano de 1974: “Maria foi concebida sem pecado original”. Não teve pecado original e pessoais. Quatro anos depois, Nossa Senhora começou a aparecer a Bernadete, em França. Ela era uma criança, que mal sabia falar francês. Maria disse-lhe: “Diz ao padre que quero uma capela”. O Sacerdote, não acreditando na pobre menina, disse a Bernadete que perguntasse o nome dela. Maria disse a Bernadete, no dia 25 de março: “Je sui le Immaculée Conception” (Eu sou a Imaculada Conceição). Nossa Senhora ainda deixou um sinal especial, pediu que Bernadete cavasse no chão um buraco, pois ali haveria uma mina. Maria veio trazer um sinal do céu, e este sinal está em Lourdes.

Terceiro Dogma:

 Maria é sempre Virgem. Maria é virgem antes do parto, durante o parto e depois dele. A Igreja, na cidade de Cápoa, em 1972, proclamou este dogma. O Papa São João Paulo II disse: “Não queiras entender pela medicina, porque isso é um milagre”. “Eis que conceberás a luz e dará à luz” (Lc. 1,31). “A luz não passa no vidro sem quebrá-lo?”. 

“Para Aquele que é extraordinário, todos os fatos são excepcionais” (Santo Agostinho).


Quarto Dogma: 

Assunção de Nossa Senhora. Maria foi levada ao céu de corpo e alma. A Tradição da Igreja sempre acreditou nisto. Mas o Papa Pio XII disse: “A Virgem Maria é Mãe de Deus e Imaculada. Ao término da vida terrena, foi levada de corpo e alma para o céu”. É a única pessoa que a Igreja proclama que ressuscitou depois de Jesus. Os santos em espírito no céu e os corpos ainda na terra. Maria, onde aparece, mostra a sua feição conforme o lugar. Só pode fazer isso o corpo que ressuscitou, porque ele não está sujeito ao tempo nem ao espaço. Como Jesus, que apareceu aos discípulos no caminho de Emaús, e os discípulos não o reconheceram. Maria subiu ao céu para preparar o caminho de todos nós, seus filhos.

No meio do Concílio, o Papa proclamou: “Mater Eclesi” (Mãe da Igreja). Assim como nós precisamos de uma mãe para nos gerar e criar, para nos dar o alimento, também precisamos de Maria como nossa Mãe no céu.


Fernando Ilídio, 01 de Janeiro de 2019

Cantinho da Teologia ®


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Entrevista Especial 2019

Uma entrevista especial com o teólogo Fernando Ilídio sobre a Igreja e os seus Leigos.

Ilídio é dos mais promissores teólogos católicos da novíssima geração. Com 39 anos de idade, é formado em Teologia pelo Centro de Cultura Católica do Porto, onde concluiu os três anos do curso básico. Pesquisador, e Fundador do CDT (Cantinho da Teologia). Foi Acólito, Ministro Extraordinário da Comunhão, participou como representante do grupo de Acólitos de Matosinhos, no Concelho Pastoral Paroquial, fez parte do grupo de CPM (Preparação para o Matrimonio) , foi membro da equipa Pastoral Vocacional, formador do Grupo de Acólitos da Paróquia de Matosinhos e membro da equipa de Liturgia. 

Na entrevista, ele foi contundente e realista:


os leigos devem se afastar deste modelo estrutural e buscar novos caminhos, novas maneiras de viver a fé, dentro do chamado que é próprio da sua vocação, que é o mundo secular e as grandes causas da humanidade. Aqui está a vocação e a missão dos leigos! Ai devem ser sal e luz. Sujeitos da história. É onde os leigos, como Igreja que são, podem oferecer o seu testemunho e o seu serviço concreto. Observo que as ações do Papa Francisco também vão por aí.

Mostrou-se profundamente alinhado com o papa Francisco, quando afirma que

o clericalismo é uma doença que impede a Igreja de ser serviço e, com isso, inibe as demais vocações, sobretudo os leigos, de assumirem o seu papel, a sua missão dentro do corpo eclesial, e também na sociedade. O clericalismo traz e vive de uma imagem de Igreja que se quer garantir por si mesma, sem abertura ao novo e que busca sempre o poder, que quer estar acima, que vive ‘à parte’ e agarra-se nas estruturas, na dureza das tradições, no enrijecimento da doutrina, na dominação de uma letra sem espírito e num autoritarismo eclesiástico/hierárquico doente.

No momento em que Francisco abre a Igreja, os resultados dos anos de domínio conservador estão à vista:

o clero mais jovem, que se satisfaz em formalismos, panos e paramentos riquíssimos (até medievais) e em ritos antigos, carregados na rigidez, ou camuflados de aspectos modernos, em alguns casos, mas muito distante da simplicidade do Evangelho, o que é lamentável. Seja pela linguagem ou pela vestimenta, cria-se uma estrutura que decide por caminhar separada do mundo, distante dos problemas e com a sustentação de um ar superior.

Segundo Ilídio, pode-se constatar que a Igreja, infelizmente, continua impermeável aos leigos:

“Numa carta ao Cardeal Marc Ouellet, em 2016, o papa Francisco recorda que desde o Concílio Vaticano II se falou muito sobre a ‘hora dos leigos’, mas para o Papa esta hora ainda está longe de se concretizar. Para Francisco, e aqui para nós que nos unimos a ele, as causas são várias, mas a passividade é por culpa do próprio laicado, é um fato, mas também das estruturas, que não formam e não permitem um espaço favorável, onde leigos e leigas possam exercer criticamente e com maturidade a sua vocação.

O caminho, aponta o teólogo, é retomar a originalidade do cristianismo:

Se na resposta da Igreja antiga precisou se falar que não há escravos ou livres, homens ou mulheres, mas todos são um em Cristo Jesus, deveríamos trazer esta máxima para hoje, como uma definição basilar, para que não haja mais clero ou leigos, mas para que todos possamos ser uma só Igreja n'Ele.

Superar a contradição profunda que ainda persiste entre o laicado e a estrutura:

como é ser leigo, sujeito eclesial, numa Igreja clericalizada? Impossível! É necessário romper com isto!

Na opinião de Ilídio, muitos processos posteriores ao Concílio Vaticano II tentaram de certa forma revogar a abertura aos leigos:

Por exemplo: o que significa ser discípulo missionário, hoje? Será que há alguma mudança?… Por certo que não. Raras exceções. Continuamos com as mesmas estruturas e linhas de ação, seguimos com os mesmos planos e projetos pastorais, a mesma insistência na formação clerical dos nossos seminaristas e na pouca valorização da formação laical (…).

Consequente com a reflexão desenvolvida, foi taxativo:

Sem a ação dos leigos não há uma ação de Igreja em saída.

Cantinho da Teologia® - 02-01-2019