sexta-feira, 22 de março de 2019

A vocação dos leigos na Igreja



Qual é, então, a vocação do leigo na Igreja? O que é que ele está chamado a fazer?


Entender porque motivo se faz esta pergunta atualmente já é um bom caminho no sentido da direção da resposta que procuramos. Parece existir na Igreja uma noção errada de que os clérigos (bispos, padres e diáconos, em oposição aos leigos, que são todos os demais fiéis) são os “mais importantes e os protagonistas” da Igreja, enquanto os leigos são “os que escutam”, que passivamente se alimentam daquilo que os clérigos possuem para dar. A este clericalismo o Concílio Vaticano II respondeu voltando a afirmar a dignidade e a missão fundamental dos leigos na Igreja.
Devido à sua realidade de batizados, todos os leigos não estão apenas na Igreja, mas são Igreja, são parte do corpo que tem Cristo por cabeça, assim como os clérigos. Como tal, estão também chamados a ser discípulos missionários, participantes da missão da Igreja de anunciar o Evangelho a todas as nações do mundo inteiro. E para isto é necessário experimentar renovadamente  o encontro verdadeiro de cada um com Jesus, a fim de anunciá-lo na primeira pessoa. Isto acontece por meio de uma vida de oração intensa, onde se saboreia a mensagem de Jesus e se experimenta a sua graça sempre presente.
A partir deste encontro renovado, deve-se superar alguns antagonismos que hoje vemos muito presentes. Um primeiro antagonismo é o que se dá entre a fé e a vida, que faz referência a uma espécie de separação da vida de fé e da vida prática, como se as duas realidades não se relacionassem. Muitos vivem uma espécie de agnosticismo funcional, no qual a fé não interpela mais a vida cotidiana. São os cristãos de Domingo e dias de festa, quando o verdadeiro chamado é a ter uma vida (completamente) cristã.
Outro antagonismo que precisa ser superado acontece entre a Igreja e o Mundo. Muitos podem pensar que a Igreja é uma espécie de refúgio, no qual se pode fugir do mundo hostil. Se bem que é verdade que na Igreja encontramos este espaço de paz verdadeira, precisamos reconhecer que é essencial que esta paz chegue aos quatro cantos do mundo. Cristo, com a sua encarnação, valorizou o mundo e os homens, e é por isso que não nos desentendemos do mundo, mas procurámos transformá-lo, de acordo com o máximo das nossas capacidades e possibilidades, fazendo com que seja cada vez mais conformado com Cristo e o Reino de Deus de que Ele nos veio anunciar.
Superado estes (e outros) antagonismos, o leigo percebe que está chamado a ser o que se dá o nome de Sujeito Eclesial, que significa reconciliar toda a realidade humana e divina  numa mesma pessoa, o cristão, à imagem daquele que é Deus e homem, Jesus. Este sujeito atua no mundo como cidadão, mas o seu atuar é fruto do seu ser, e o seu ser é católico. Noutras palavras, o sujeito eclesial está chamado a fazer parte ativa da missão da Igreja de restaurar tudo em Cristo.

Fernando Ilídio
in Cantinho da Teologia ®