Este blog tem como finalidade a troca de conhecimentos acerca do vasto campo da Teologia. Dedica-se a todos aqueles que procuram um maior aprofundamento da Fé.
domingo, 13 de novembro de 2022
XXXIII Domingo do Tempo Comum Ano C
domingo, 24 de abril de 2022
II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia
PRIMEIRA LEITURA
Actos 5, 12-16
Cada vez mais gente aderia ao Senhor pela fé, uma multidão de homens e mulheres
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Pelas mãos dos Apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo. Unidos pelos mesmos sentimentos, reuniam-se todos no Pórtico de Salomão; nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo enaltecia-os. Uma multidão cada vez maior de homens e mulheres aderia ao Senhor pela fé, de tal maneira que traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Das cidades vizinhas de Jerusalém, a multidão também acorria, trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros e todos eram curados.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL
Salmo 117 (118), 2-4.22-24.25-27ª
Refrão: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia. Repete-se
Ou: Aclamai o Senhor, porque Ele é bom:
o seu amor é para sempre. Repete-se
Ou: Aleluia. Repete-se
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia. Refrão
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria. Refrão
Senhor, salvai os vossos servos,
Senhor, dai-nos a vitória.
Bendito o que vem em nome do Senhor,
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
O Senhor é Deus
e fez brilhar sobre nós a sua luz. Refrão
SEGUNDA LEITURA
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos
Leitura do Livro do Apocalipse
Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. No dia do Senhor fui movido pelo Espírito e ouvi atrás de mim uma voz forte, semelhante à da trombeta, que dizia: «Escreve num livro o que vês e envia-o às sete Igrejas». Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava; ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro e, no meio dos candelabros, alguém semelhante a um filho do homem, vestido com uma longa túnica e cingido no peito com um cinto de ouro. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Mas ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me: «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos. Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão-de acontecer depois destas».
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Jo 20, 29
Refrão: Aleluia. Repete-se
Disse o Senhor a Tomé:
«Porque Me viste, acreditaste;
felizes os que acreditam sem terem visto. Refrão
EVANGELHO
Jo 20, 19-31
Oito dias depois, veio Jesus..
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
Palavra da salvação.
sexta-feira, 15 de abril de 2022
Maria, terna Mãe!
Sexta Feira da Paixão do Senhor
PRIMEIRA LEITURA
Is 52, 13 – 53, 12
Leitura do Livro de Isaías
Vede como vai prosperar o meu servo: subirá, elevar-se-á, será exaltado. Assim como, à sua vista, muitos se encheram de espanto – tão desfigurado estava o seu rosto que tinha perdido toda a aparência de um ser humano – assim se hão-de encher de assombro muitas nações e, diante dele, os reis ficarão calados, porque hão-de ver o que nunca lhes tinham contado e observar o que nunca tinham ouvido. Quem acreditou no que ouvimos dizer? A quem se revelou o braço do Senhor? O meu servo cresceu diante do Senhor como um rebento, como raiz numa terra árida, sem distinção nem beleza para atrair o nosso olhar, nem aspecto agradável que possa cativar-nos. Desprezado e repelido pelos homens, homem de dores, acostumado ao sofrimento, era como aquele de quem se desvia o rosto, pessoa desprezível e sem valor para nós. Ele suportou as nossas enfermidades e tomou sobre si as nossas dores. Mas nós víamos nele um homem castigado, ferido por Deus e humilhado. Ele foi trespassado por causa das nossas culpas e esmagado por causa das nossas iniquidades. Caiu sobre ele o castigo que nos salva: pelas suas chagas fomos curados. Todos nós, como ovelhas, andávamos errantes, cada qual seguia o seu caminho. E o Senhor fez cair sobre ele as faltas de todos nós. Maltratado, humilhou-se voluntariamente e não abriu a boca. Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam, ele não abriu a boca. Foi eliminado por sentença iníqua, mas quem se preocupa com a sua sorte? Foi arrancado da terra dos vivos e ferido de morte pelos pecados do seu povo. Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios e um túmulo no meio de malfeitores, embora não tivesse cometido injustiça, nem se tivesse encontrado mentira na sua boca. Aprouve ao Senhor esmagar o seu servo pelo sofrimento. Mas se oferecer a sua vida como sacrifício de expiação, terá uma descendência duradoira, viverá longos dias e a obra do Senhor prosperará em suas mãos. Terminados os sofrimentos, verá a luz e ficará saciado na sua sabedoria. O justo, meu servo, justificará a muitos e tomará sobre si as suas iniquidades. Por isso, Eu lhe darei as multidões como prémio e terá parte nos despojos no meio dos poderosos; porque ele próprio entregou a sua vida à morte e foi contado entre os malfeitores, tomou sobre si as culpas das multidões e intercedeu pelos pecadores.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL
Salmo 30 (31), 2.6.12-13.15-16.17.25
Refrão: Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito. Repete-se
Em Vós, Senhor, me refugio,
jamais serei confundido,
pela vossa justiça, salvai-me.
Em vossas mãos entrego o meu espírito,
Senhor, Deus fiel, salvai-me. Refrão
Tornei-me o escárnio dos meus inimigos,
o desprezo dos meus vizinhos
e o terror dos meus conhecidos:
todos evitam passar por mim.
Esqueceram-me como se fosse um morto,
tornei-me como um objecto abandonado. Refrão
Eu, porém, confio no Senhor:
Disse: «Vós sois o meu Deus,
nas vossas mãos está o meu destino».
Livrai-me das mãos dos meus inimigos
e de quantos me perseguem. Refrão
Fazei brilhar sobre mim a vossa face,
salvai-me pela vossa bondade.
Tende coragem e animai-vos,
vós todos que esperais no Senhor. Refrão
SEGUNDA LEITURA
4, 14-16; 5, 7-9
Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos: Tendo nós um sumo sacerdote que penetrou os Céus, Jesus, Filho de Deus, permaneçamos firmes na profissão da nossa fé. Na verdade, nós não temos um sumo sacerdote incapaz de Se compadecer das nossas fraquezas. Pelo contrário, Ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, excepto no pecado. Vamos, portanto, cheios de confiança, ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos a graça de um auxílio oportuno. Nos dias da sua vida mortal, Ele dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte, e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento. E, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se, para todos os que Lhe obedecem, causa de salvação eterna.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Filip 2, 8-9
Refrão: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo. Repete-se
Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome
que está acima de todos os nomes. Refrão
EVANGELHO
Jo 18, 1 - 19, 42
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
N Naquele tempo,
Jesus saiu com os seus discípulos
para o outro lado da torrente do Cedron.
Havia lá um jardim, onde Ele entrou com os seus discípulos.
Judas, que O ia entregar, conhecia também o local,
porque Jesus Se reunira lá muitas vezes
com os discípulos.
Tomando consigo uma companhia de soldados
e alguns guardas,
enviados pelos príncipes dos sacerdotes e pelos fariseus,
Judas chegou ali, com archotes, lanternas e armas.
Sabendo Jesus tudo o que Lhe ia acontecer,
adiantou-Se e perguntou-lhes:
J «A quem buscais?».
N Eles responderam-Lhe:
R «A Jesus, o Nazareno».
N Jesus disse-lhes:
J «Sou Eu».
N Judas, que O ia entregar, também estava com eles.
Quando Jesus lhes disse: «Sou Eu»,
recuaram e caíram por terra.
Jesus perguntou-lhes novamente:
J «A quem buscais?».
N Eles responderam:
R «A Jesus, o Nazareno».
N Disse-lhes Jesus:
J «Já vos disse que sou Eu.
Por isso, se é a Mim que buscais,
deixai que estes se retirem».
N Assim se cumpriam as palavras que Ele tinha dito:
«Daqueles que Me deste, não perdi nenhum».
Então, Simão Pedro, que tinha uma espada,
desembainhou-a e feriu um servo do sumo sacerdote,
cortando-lhe a orelha direita.
O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro:
J «Mete a tua espada na bainha.
Não hei-de beber o cálice que meu Pai Me deu?».
N Então, a companhia de soldados,
o oficial e os guardas dos judeus
apoderaram-se de Jesus e manietaram-n’O.
Levaram-n’O primeiro a Anás,
por ser sogro de Caifás,
que era o sumo sacerdote nesse ano.
Caifás é que tinha dado o seguinte conselho aos judeus:
«Convém que morra um só homem pelo povo».
Entretanto, Simão Pedro seguia Jesus
com outro discípulo.
Esse discípulo era conhecido do sumo sacerdote
e entrou com Jesus no pátio do sumo sacerdote,
enquanto Pedro ficava à porta, do lado de fora.
Então o outro discípulo, conhecido do sumo sacerdote,
falou à porteira e levou Pedro para dentro.
A porteira disse a Pedro:
R «Tu não és dos discípulos desse homem?».
N Ele respondeu:
R «Não sou».
N Estavam ali presentes os servos e os guardas,
que, por causa do frio, tinham acendido um braseiro
e se aqueciam.
Pedro também se encontrava com eles a aquecer-se.
Entretanto, o sumo sacerdote interrogou Jesus
acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
Jesus respondeu-lhe:
J «Falei abertamente ao mundo.
Sempre ensinei na sinagoga e no templo,
onde todos os judeus se reúnem,
e não disse nada em segredo.
Porque Me interrogas?
Pergunta aos que Me ouviram o que lhes disse:
eles bem sabem aquilo de que lhes falei».
N A estas palavras, um dos guardas que estava ali presente
deu uma bofetada a Jesus e disse-Lhe:
R «É assim que respondes ao sumo sacerdote?».
N Jesus respondeu-lhe:
J «Se falei mal, mostra-Me em quê.
Mas, se falei bem, porque Me bates?».
N Então Anás mandou Jesus manietado
ao sumo sacerdote Caifás.
Simão Pedro continuava ali a aquecer-se.
Disseram-lhe então:
R «Tu não és também um dos seus discípulos?».
N Ele negou, dizendo:
R «Não sou».
N Replicou um dos servos do sumo sacerdote,
parente daquele a quem Pedro cortara a orelha:
R «Então eu não te vi com Ele no jardim?».
N Pedro negou novamente,
e logo um galo cantou.
Depois, levaram Jesus da residência de Caifás ao Pretório.
Era de manhã cedo. Eles não entraram no pretório, para
não se contaminarem e assim poderem comer a Páscoa.
Pilatos veio cá fora ter com eles e perguntou-lhes:
R «Que acusação trazeis contra este homem?».
N Eles responderam-lhe:
R «Se não fosse malfeitor, não t’O entregávamos».
N Disse-lhes Pilatos:
R «Tomai-O vós próprios, e julgai-O segundo a vossa lei».
N Os judeus responderam:
R «Não nos é permitido dar a morte a ninguém».
N Assim se cumpriam as palavras que Jesus tinha dito,
ao indicar de que morte ia morrer.
Entretanto, Pilatos entrou novamente no pretório,
chamou Jesus e perguntou-Lhe:
R «Tu és o Rei dos judeus?».
N Jesus respondeu-lhe:
J «É por ti que o dizes,
ou foram outros que to disseram de Mim?».
N Disse-Lhe Pilatos:
R «Porventura sou eu judeu?
O teu povo e os sumos sacerdotes
é que Te entregaram a Mim.
Que fizeste?».
N Jesus respondeu:
J «O meu reino não é deste mundo.
Se o meu reino fosse deste mundo,
os meus guardas lutariam
para que Eu não fosse entregue aos judeus.
Mas o meu reino não é daqui».
N Disse-Lhe Pilatos:
R «Então, Tu és Rei?».
N Jesus respondeu-lhe:
J «É como dizes: sou Rei.
Para isso nasci e vim ao mundo,
a fim de dar testemunho da verdade.
Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».
N Disse-Lhe Pilatos:
R «Que é a verdade?».
N Dito isto, saiu novamente para fora e declarou aos judeus:
R «Não encontro neste homem culpa nenhuma.
Mas vós estais habituados
a que eu vos solte alguém pela Páscoa.
Quereis que vos solte o Rei dos judeus?».
N Eles gritaram de novo:
R «Esse não. Antes Barrabás».
N Barrabás era um salteador.
Então Pilatos mandou que levassem Jesus
e O açoitassem.
Os soldados teceram uma coroa de espinhos,
colocaram-Lha na cabeça
e envolveram Jesus num manto de púrpura.
Depois aproximavam-se d’Ele e diziam:
R «Salve, Rei dos judeus».
N E davam-Lhe bofetadas.
Pilatos saiu novamente para fora e disse:
R «Eu vo-l’O trago aqui fora,
para saberdes que não encontro n’Ele culpa nenhuma».
N Jesus saiu,
trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura.
Pilatos disse-lhes:
R «Eis o homem».
N Quando viram Jesus,
os príncipes dos sacerdotes e os guardas gritaram:
R «Crucifica-O! Crucifica-O!».
N Disse-lhes Pilatos:
R «Tomai-O vós mesmos e crucificai-O,
que eu não encontro n’Ele culpa alguma».
N Responderam-lhe os judeus:
R «Nós temos uma lei
e, segundo a nossa lei, deve morrer,
porque Se fez Filho de Deus».
N Quando Pilatos ouviu estas palavras, ficou assustado.
Voltou a entrar no pretório e perguntou a Jesus:
R «Donde és Tu?».
N Mas Jesus não lhe deu resposta.
Disse-Lhe então Pilatos:
R «Não me falas? Não sabes que tenho poder
para Te soltar e para Te crucificar?».
N Jesus respondeu-lhe:
J «Nenhum poder terias sobre Mim,
se não te fosse dado do alto.
Por isso, quem Me entregou a ti tem maior pecado».
N A partir de então, Pilatos procurava libertar Jesus.
Mas os judeus gritavam:
R «Se O libertares, não és amigo de César:
todo aquele que se faz rei é contra César».
N Ao ouvir estas palavras,
Pilatos trouxe Jesus para fora
e sentou-se no tribunal,
no lugar chamado «Lagedo», em hebraico «Gabatá».
Era a Preparação da Páscoa, por volta do meio-dia.
Disse então aos judeus:
R «Eis o vosso Rei!».
N Mas eles gritaram:
R «À morte, à morte! Crucifica-O!».
N Disse-lhes Pilatos:
R «Hei-de crucificar o vosso Rei?».
N Replicaram-lhe os príncipes dos sacerdotes:
R «Não temos outro rei senão César».
N Entregou-lhes então Jesus, para ser crucificado.
E eles apoderaram-se de Jesus.
Levando a cruz,
Jesus saiu para o chamado Lugar do Calvário,
que em hebraico se diz Gólgota.
Ali O crucificaram, e com Ele mais dois:
um de cada lado e Jesus no meio.
Pilatos escreveu ainda um letreiro
e colocou-o no alto da cruz; nele estava escrito:
«Jesus, o Nazareno, Rei dos judeus».
Muitos judeus leram esse letreiro,
porque o lugar onde Jesus tinha sido crucificado
era perto da cidade.
Estava escrito em hebraico, grego e latim.
Diziam então a Pilatos
os príncipes dos sacerdotes dos judeus:
R «Não escrevas: ‘Rei dos judeus’,
mas que Ele afirmou: ‘Eu sou o Rei dos judeus’».
N Pilatos retorquiu:
R «O que escrevi está escrito».
N Quando crucificaram Jesus,
os soldados tomaram as suas vestes,
das quais fizeram quatro lotes, um para cada soldado,
e ficaram também com a túnica.
A túnica não tinha costura:
era tecida de alto a baixo como um todo.
Disseram uns aos outros:
R «Não a rasguemos, mas lancemos sortes,
para ver de quem será».
N Assim se cumpria a Escritura:
«Repartiram entre si as minhas vestes
e deitaram sortes sobre a minha túnica».
Foi o que fizeram os soldados.
Estavam junto à cruz de Jesus
sua Mãe, a irmã de sua Mãe,
Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.
Ao ver sua Mãe e o discípulo predilecto,
Jesus disse a sua Mãe:
J «Mulher, eis o teu filho».
N Depois disse ao discípulo:
J «Eis a tua Mãe».
N E a partir daquela hora,
o discípulo recebeu-a em sua casa.
Depois, sabendo que tudo estava consumado
e para que se cumprisse a Escritura,
Jesus disse:
J «Tenho sede».
N Estava ali um vaso cheio de vinagre.
Prenderam a uma vara uma esponja embebida em vinagre
e levaram-Lha à boca.
Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou:
J «Tudo está consumado».
N E, inclinando a cabeça, expirou.
N Por ser a Preparação, e para que os corpos
não ficassem na cruz durante o sábado,
– era um grande dia aquele sábado –
os judeus pediram a Pilatos
que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados.
Os soldados vieram e quebraram as pernas ao primeiro,
depois ao outro que tinha sido crucificado com ele.
Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto,
não Lhe quebraram as pernas,
mas um dos soldados
trespassou-Lhe o lado com uma lança,
e logo saiu sangue e água.
Aquele que viu é que dá testemunho
e o seu testemunho é verdadeiro.
Ele sabe que diz a verdade,
para que também vós acrediteis.
Assim aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz:
«Nenhum osso Lhe será quebrado».
Diz ainda outra passagem da Escritura:
«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram».
Depois disto, José de Arimateia,
que era discípulo de Jesus,
embora oculto por medo dos judeus,
pediu licença a Pilatos para levar o corpo de Jesus.
Pilatos permitiu-lho.
José veio então tirar o corpo de Jesus.
Veio também Nicodemos,
aquele que, antes, tinha ido de noite ao encontro de Jesus.
Trazia uma mistura de quase cem libras de mirra e aloés.
Tomaram o corpo de Jesus
e envolveram-no em ligaduras juntamente com os perfumes,
como é costume sepultar entre os judeus.
No local em que Jesus tinha sido crucificado,
havia um jardim e, no jardim, um sepulcro novo,
no qual ainda ninguém fora sepultado.
Foi aí que, por causa da Preparação dos judeus,
porque o sepulcro ficava perto,
depositaram Jesus.
Palavra da salvação.
domingo, 10 de abril de 2022
Domingo de Ramos da Paixão do Senhor
domingo, 13 de março de 2022
Domingo II da Quaresma - Ano C
sábado, 5 de março de 2022
Domingo I da Quaresma- Ano C
domingo, 27 de fevereiro de 2022
Jesus Cristo Divinamente Humano e Humanamente Divino
“Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher" (Gal 4,4). Assim se cumpre a promessa que Deus fez a Adão e Eva ao serem expulsos do Paraíso, de nos dar um Salvador: “Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a dela; ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar" (Gn 3,15). Este versículo do Génesis constitui o primeiro anúncio da boa- nova da salvação. Tradicionalmente, tem-se interpretado que a mulher a que se refere é, tanto Eva, em sentido imediato, como Maria, em sentido pleno; e que a descendência da mulher refere-se tanto à humanidade como a Cristo.
Desde então, até o momento em que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1, 14), Deus foi preparando a humanidade para que pudesse acolher frutuosamente a seu Filho Unigénito. Deus "escolheu" o povo israelita e estabeleceu com ele uma Aliança, formou-o progressivamente, intervindo de forma gradual na sua história, manifestando-lhe assim os seus desígnios através dos patriarcas e dos profetas, santificando-o para si. E tudo isto, como preparação e figura daquela nova e perfeita Aliança que havia de concluir-se em Cristo. Daquela plena e definitiva revelação que devia ser efectuada pelo próprio Verbo encarnado [1]. Ainda que Deus tenha preparado a vinda do Salvador, principalmente mediante a eleição do povo de Israel, isto não significa que abandonasse os demais povos, os “gentios", pois nunca deixou de dar testemunho de si mesmo (cf. Atos 14, 16-17). A Providência divina fez com que os gentios tivessem uma consciência mais ou menos explícita da necessidade da salvação, e até os últimos rincões da terra se conservavam o desejo de ser redimidos.
A Encarnação tem sua origem no amor de Deus pela Humanidade : “Nisto se manifestou o amor de Deus para connosco , em que Deus enviou ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por meio dEle" (1Jo 4, 9). A Encarnação é a demonstração por excelência do Amor de Deus para com os homens, já que nela, é o próprio Deus que se entrega aos homens, fazendo-se participante da natureza humana, na unidade da pessoa.
Após a "queda de Adão e Eva no paraíso," a Encarnação tem uma finalidade salvadora e redentora, como professamos no Credo: “por nós homens e para nossa salvação, desceu dos céus e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem"[2]. Cristo afirmou de Si mesmo que o Filho do homem veio para procurar e salvar o que estava perdido" (Lc 19, 19; cf Mt 18,11) e que “Deus não enviou seu Filho para condenar o mundo, mas que o mundo fosse salvo por Ele" (Jo 3,17).
A Encarnação não só manifesta o infinito amor de Deus aos homens, a sua infinita misericórdia, a sua justiça, o seu poder, mas também a coerência do plano divino da salvação. A profunda sabedoria divina consiste na forma segundo a qual Deus decidiu salvar o homem, isto é, do modo como convém à natureza, que é precisamente mediante a Encarnação do Verbo.
Jesus Cristo, o Verbo encarnado, “não é nem um mito, nem uma ideia abstracta qualquer. É um homem que viveu num contexto concreto e que morreu depois de ter levado a sua própria existência dentro da evolução da história. A investigação histórica sobre Ele é, pois, uma exigência da fé cristã" [3].
Que Cristo existiu pertence à doutrina da fé, como também que morreu realmente por nós e que ressuscitou ao terceiro dia (cf. 1 Co 15, 3-11). A existência de Jesus é um facto provado pela ciência histórica, sobre tudo mediante a análise do Novo Testamento, cujo o valor histórico está fora de dúvida. Há outros testemunhos antigos não cristãos, pagãos e judeus, sobre a existência de Jesus. Precisamente por isto, não são aceitáveis as posições de quem contrapõe um Jesus histórico ao Jesus da fé e defendem a hipótese de que quase tudo o que o Novo Testamento diz acerca de Cristo seria uma interpretação de fé que fizeram os discípulos de Jesus, mas não a sua autêntica figura histórica, que ainda permaneceria oculta para nós. Estas posturas, que em muitas ocasiões encerram um forte preconceito contra o sobrenatural, não levam em conta que a investigação histórica contemporânea concorda em afirmar que a apresentação que faz o cristianismo primitivo de Jesus baseia-se em factos autênticos sucedidos verdadeiramente .
2. Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro
A Encarnação é “o mistério da união admirável da natureza divina e da natureza humana, na única Pessoa do Verbo" (CIC, 483). A Encarnação do Filho de Deus “não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que seja o resultado de uma mistura confusa do divino com o humano. Ele fez-Se verdadeiro homem, permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem." (Catecismo, 464).
A Igreja definiu e esclareceu esta verdade de fé durante os primeiros séculos frente às heresias que a falseavam. Já no século I, alguns cristãos de origem judaica, os ebionitas, consideraram Cristo um simples homem, ainda que muito santo. No século II, surge o adocionismo , que sustentava a tese de Jesus Cristo ser filho adotivo de Deus; Jesus seria apenas um homem em quem habita a força de Deus; para eles, Deus era uma só pessoa. Esta heresia foi condenada no ano 190 pelo papa São Victor, pelo Concílio de Antioquia, de 268, pelo Concílio I de Constantinopla e pelo sínodo romano de 382 [4]. A heresia ariana, ao negar a divindade do Verbo, negava também que Jesus Cristo fosse Deus. Ario foi condenado pelo Concílio I de Nicéia, no ano de 325. Também atualmente, a Igreja voltou a recordar que Jesus Cristo é o Filho de Deus subsistente desde a eternidade, que na Encarnação assumiu a natureza humana na sua única pessoa divina [5].
A Igreja também enfrentou outros erros que negavam a realidade da natureza humana de Cristo. Entre esses, encontram-se as heresias que negavam a realidade do corpo ou da alma de Cristo. Entre as primeiras, encontra-se o docetismo, nas suas diversas variantes, que possui um fundo gnóstico e maniqueu. Alguns dos seus seguidores afirmavam que Cristo teve um corpo celeste, ou que seu corpo era puramente aparente, ou ainda, que apareceu de repente na Judeia, sem ter tido que nascer ou crescer. Já São João teve que combater este tipo de erros: “muitos são os sedutores que apareceram no mundo, que não confessam que Jesus veio em carne" (2 Jo 7; cf. 1 Jo 4, 1-2).
Ario e Apolinar de Laodiceia negaram que Cristo tivesse verdadeira alma humana. O segundo teve particular importância neste campo e a sua influência esteve presente durante vários séculos nas controvérsias cristológicas posteriores. Na tentativa de defender a unidade de Cristo e a sua impecabilidade, Apolinar sustentou que o Verbo desempenha as funções da alma humana espiritual. Esta doutrina, porém, supunha a negação da verdadeira humanidade de Cristo, composta, como em todos os homens, de corpo e alma espiritual (cf. Catecismo, 471). Foi condenado no Concílio I de Constantinopla e no Sínodo Romano de 382 [6].
3. A união hipostática
Nos inícios do século V, após as controvérsias precedentes, estava bem clara a necessidade de sustentar firmemente a integridade das duas naturezas, divina e humana, na Pessoa do Verbo; de modo que a unidade pessoal de Cristo começa a constituir-se no centro de atenções da cristologia e da soteriologia patrísticas. Para este novo aprofundamento contribuíram novas discussões.
A primeira grande controvérsia teve a sua origem em algumas afirmações de Nestório, patriarca de Constantinopla, que utilizava uma linguagem na qual dava a entender que em Cristo há dois sujeitos: o sujeito divino e o sujeito humano, unidos entre si por um vínculo moral, mas não fisicamente. Este erro cristológico tem na sua origem o seu rechaço do título de Mãe de Deus, Theotókos, aplicado a Santa Maria. Maria seria Mãe de Cristo, mas não Mãe de Deus. Frente a esta heresia, São Cirilo de Alexandria e o Concilio de Éfeso de 431 recordaram que “a humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde que foi concebida... Por isso, o Concílio de Éfeso proclamou, no ano 431, Maria, com toda a verdade Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus no seu seio" (Catecismo, 466;cf. DS 250 e 251).
Uns anos mais tarde, surgiu a heresia monofisita. Esta heresia tem os seus antecedentes no apolinarismo e numa má compreensão da doutrina e da linguagem empregada por São Cirilo, por parte de Eutiques, ancião arquimandrita de um mosteiro de Constantinopla. Eutiques afirmava, entre outras coisas, que Cristo é uma Pessoa que subsiste em uma só natureza, pois a natureza humana teria sido absorvida pela divina. Este erro foi condenado pelo Papa São Leão Magno, no seu Tomus ad Flavium [7], autêntica jóia da teologia latina, e pelo Concílio ecuménico de Caledónia, do ano 451, ponto de referência obrigatório para a Cristologia. Assim ensina: “há que confessar a um só e mesmo Filho e Senhor nosso Jesus Cristo: perfeito na divindade e perfeito na humanidade" [8], e acrescenta que a união das duas naturezas é “sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação" [9].
A doutrina calcedonense foi confirmada e esclarecida pelo II Concílio de Constantinopla do ano 553, que oferece uma interpretação autêntica do Concílio anterior. Após enfatizar várias vezes a unidade de Cristo [10], afirma que a união das duas naturezas de Cristo tem lugar segundo a hipóstasis [11], superando assim a equivocidade da formula ciriliana que falava da unidade segundo a “fisis". Nesta linha, o Concílio de Constantinopla indicou também o sentido em que havia de entender-se a conhecida fórmula ciriliana de “uma natureza do Verbo de Deus encarnada" [12], frase que São Cirilo pensava ser de Santo Atanásio, mas que na realidade tratava-se de uma falsificação apolinarista.
Nestas definições conciliares, que tinham como finalidade esclarecer alguns erros concretos e não expor o mistério de Cristo na sua totalidade, os Padres conciliares utilizaram a linguagem do seu tempo. Da mesma forma que Nicéia empregou o termo consubstancial, Caledónia utilizou termos como natureza, pessoa, hipóstasis etc., segundo o significado habitual que tinham na linguagem comum, e na teologia da sua época. Isto não significa, como afirmaram alguns, que a mensagem evangélica se helenizara. Ao contrário, quem se mostrou rigidamente helenizantes foram precisamente os que propunham as doutrinas heréticas, como Ario ou Nestório, que não souberam ver as limitações da linguagem filosófica de seu tempo, frente ao mistério de Deus e de Cristo.
4. A Humanidade Santíssima de Jesus Cristo
“Na união misteriosa da Encarnação, «a natureza humana foi assumida, não absorvida» (GS 22,2)" (Catecismo, 470). Por isso, a Igreja tem ensinado a “plena realidade da alma humana, com as suas operações de inteligência e vontade, e do corpo humano de Cristo. Mas, paralelamente, a mesma Igreja teve de lembrar repetidamente que a natureza humana de Cristo pertence, como própria, à pessoa divina do Filho de Deus que a assumiu. Tudo o que Ele fez e faz nela, depende de «um da Trindade». Portanto, o Filho de Deus comunica à sua humanidade o seu próprio modo de existir pessoal na Santíssima Trindade. E assim, tanto na sua alma como no seu corpo, Cristo exprime humanamente os costumes divinos da Trindade (cf. Jo 14, 9-12)" (Catecismo, 470).
A alma humana de Cristo está dotada de um verdadeiro conhecimento humano. A doutrina católica tem ensinado tradicionalmente que Cristo, enquanto homem, possuía um conhecimento adquirido, uma ciência infusa e a ciência beata própria dos bem-aventurados no céu. A ciência adquirida de Cristo não podia ser, por si, ilimitada: “por isso que o Filho de Deus, fazendo-Se homem, pôde aceitar «crescer em sabedoria, estatura e graça» (Lc 2, 52) e também teve de Se informar sobre o que, na condição humana, deve aprender-se de modo experimental (cf. Mc 6, 38; 8, 26; Jo 11, 34)" (Catecismo, 472). Cristo, em quem repousa a plenitude do Espírito Santo com os seus dons (cf. Is 11,1-3), possuiu também a ciência infusa, isto é, aquele conhecimento que não se adquire diretamente pelo trabalho da razão, mas é infundido diretamente por Deus na inteligência humana. Com efeito, “O Filho também mostrava, no seu conhecimento humano, a clarividência divina que tinha dos pensamentos secretos do coração dos homens (cf. Mc 2, 8; Jo 2, 25; 6, 61" (Catecismo, 473). Cristo possuía também a ciência própria dos beatos: “Pela sua união com a Sabedoria divina na pessoa do Verbo Encarnado, o conhecimento humano de Cristo gozava, em plenitude, da ciência dos desígnios eternos que tinha vindo revelar (cf. Mc 8, 31; 9, 31; 10, 33-34; 14, 18-20.26-30» (Catecismo, 474). Por tudo isto, deve-se afirmar que Cristo, enquanto homem, é infalível: admitir nele o erro seria admiti-lo no Verbo, única pessoa existente em Cristo. No que diz respeito a uma eventual ignorância propriamente dita, deve-se ter presente que “O que neste domínio Ele reconhece ignorar (cf. Mc 13, 32) declara, noutro ponto, não ter a missão de revelá-lo (cf. Atos 1, 7)» (Catecismo, 474). Entende-se que Cristo fosse humanamente consciente de ser o Verbo e de sua missão salvífica [13]. Por outro lado, a teologia católica, ao pensar que Cristo possuía, já na terra, a visão imediata de Deus, sempre negou a existência em Cristo da virtude da fé [14].
Frente às heresias monoenergeta e monotelita que, em lógica continuidade com o monofisismo precedente, afirmavam que em Cristo há uma só operação ou uma só vontade, a Igreja confessou, no III Concílio ecuménico de Constantinopla, do ano 681, que Cristo possui duas vontades e duas operações naturais, divinas e humanas, não opostas, mas cooperantes, de forma que o Verbo feito carne, em sua obediência ao Pai, quis humanamente tudo aquilo que decidiu divinamente com o Pai e o Espírito Santo, para nossa salvação (cf. DS 556-559). A vontade humana de Cristo “segue a sua vontade divina, sem fazer resistência nem oposição em relação a ela, antes estando subordinada a essa vontade onipotente" (DS 556)" (Catecismo 475). Trata-se de uma questão fundamental, pois está diretamente relacionada com o ser de Cristo e com nossa salvação. São Máximo, o Confessor, distinguiu-se por este esforço doutrinal de esclarecimento e se serviu com grande eficácia da conhecida passagem da oração de Jesus no Horto, em que aparece o acordo da vontade humana de Cristo com a vontade do Pai (cf. Mt 26, 39).
Consequência da dualidade de naturezas é também a dualidade de operações. Em Cristo, há duas operações, as divinas, procedentes de sua natureza divina, e as humanas, que procedem da natureza humana. Fala-se também de operações teândricas para referir-se àquelas nas quais a operação humana opera como instrumento da divina: é o caso dos milagres realizados por Cristo.
O realismo da Encarnação do Verbo manifestou-se também na última grande controvérsia cristológica da época patrística: a disputa sobre as imagens. O costume de representar a Cristo, em afrescos, ícones, baixos relevos etc., é antiquíssima e existem testemunhos que remontam ao menos até o século segundo. A crise iconoclasta ocorreu em Constantinopla nos inícios do século VIII e teve sua origem em uma decisão do Imperador. Anteriormente, já tinham aparecido teólogos que haviam se mostrado ao longo dos séculos partidários ou contrários ao uso das imagens, mas ambas as tendências tinham coexistido pacificamente. Aqueles que se opunham costumavam acrescentar que Deus não tem limites e não pode, portanto, encerrar-se dentro de umas linhas, de uns traços, não pode ser circunscrito. Porém, como assinalou São João Damasceno, foi a própria Encarnação que circunscreveu o Verbo, incircunscrível. “Uma vez que o Verbo Se fez carne, assumindo uma verdadeira natureza humana, o corpo de Cristo era circunscrito (...).Portanto, o rosto humano de Jesus pode ser «pintado» (Ga 3, 2)" (Catecismo,476). No II Concílio ecuménico de Nicéia, do ano 787, “a Igreja reconheceu como legítimo que ele fosse representado em santas imagens" (Catecismo, 476). Com efeito, “as particularidades individuais do corpo de Cristo expressam a pessoa divina do Filho de Deus. Ele fez seus os traços de seu próprio corpo humano até o ponto que, pintados em uma imagem sagrada, podem ser venerados porque o crente que venera sua imagem, venera a pessoa representada nela" [15].
A alma de Cristo, ao não ser divina por essência, mas humana, foi aperfeiçoada, como as almas dos demais homens, mediante a graça habitual, que é “um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural, que aperfeiçoa a alma, mesmo para torná-la capaz de viver com Deus e de agir por seu amor" (Catecismo, 2000). Cristo é santo, como anunciou o arcanjo Gabriel a Santa Maria na Anunciação: Lc 1, 35. A humanidade de Cristo é radicalmente santa, fonte e paradigma da santidade de todos os homens. Pela Encarnação, a natureza humana de Cristo foi elevada à maior união com a divindade – com a Pessoa do Verbo – a que pode ser elevada alguma criatura. Do ponto de vista da humanidade do Senhor, a união hipostática é o maior dom que jamais se tenha podido receber, e costuma ser conhecida com o nome de graça de união. Pela graça habitual, a alma de Cristo foi divinizada com essa transformação que eleva a natureza e as operações da alma ao plano da vida íntima de Deus, proporcionando às suas operações sobrenaturais uma co-naturalidade que, de outro modo, não teria. Sua plenitude de graça implica também na existência das virtudes infusas e dos dons do Espírito Santo. Desta plenitude de graça de Cristo, “recebemos todos, graça sobre graça" (Jo 1, 16). A graça e os dons foram outorgados a Cristo não só em atenção à sua dignidade de Filho, mas também em atenção à sua missão de novo Adão e Cabeça da Igreja. Por isso se fala de uma graça capital em Cristo que não é uma graça distinta da graça pessoal do Senhor, mas é um aspecto dessa mesma graça que acentua sua ação santificadora sobre os membros da Igreja. A Igreja, com efeito, “é o Corpo de Cristo" (Catecismo, 805), um corpo “do qual Cristo é a Cabeça: vive d'Ele, n'Ele e por Ele; Ele vive com ela e nela" (Catecismo, 807).
O Coração do Verbo encarnado. “Jesus conheceu-nos e amou-nos, a todos e a cada um, durante a sua vida, a sua agonia e a sua paixão, entregando-Se por cada um de nós: «O Filho de Deus amou-me e entregou-Se por mim» (Gl 2, 20). Amou-nos a todos com um coração humano" (Catecismo, 478). Por este motivo, o Sagrado Coração de Jesus é o símbolo por excelência do amor com que ama continuamente ao eterno Pai e a todos os homens (cf. ibidem).
Fernando Ilídio
Bibliografia:
Bento XVI-Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré, ed Planeta, São Paulo 2007.
Catecismo da Igreja Católica, 422-483.
A. Amato, Jesús el Señor, BAC, Madri 1998.
F. Ocáriz – L.F. Mateo Seco – J.A. Riestra, El misterio de Jesucristo, 3ª ed., EUNSA, Pamplona 2004.
[1] Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 9.
[2] Concílio de Constantinopla I, Symbolum, DS 150; cf. Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 55.
[3] Comisión Teológica Internacional, Cuestiones selectas de Cristología (1979), en ID., Documentos 1969-1996, 2ª ed., BAC, Madri 2000, 221.
[4] Cf. DS 151 y 157-158.
[5] Cf. Congregación para la Doctrina de la Fe, Decl. Mysterium Filii Dei, 21-02-1972, en AAS 64(1972)237-241.
[6] Cf. DS 151 y 159.
[7] Cf. Ibidem, 290-295.
[8] Cf. Ibidem, 301; Catecismo, 467.
[9] Cf. Idem.
[10] Cf. Ibidem, 423.
[11] Cf. Ibidem, 425.
[12] Cf. Ibidem, 429.
[13] Cf. Comissão Teológica Internacional, La conciencia que Jesús tenía de Sí mismo y de su misión (1985), en ID., Documentos 1969-1996, 2ª ed., BAC, Madri 2000, 377-391.
[14] Cf. Congregação para a Douctrina da Fé, Notificación, n. V, 26-11-2006.
[15] Concilio de Nicea II, DS 601.
VIII Domingo do Tempo Comum Ano C
PRIMEIRA LEITURA
Sir 27, 5-8 (gr. 4-7)
«Não elogies ninguém antes de ele falar»
Leitura do Livro de Ben-Sirá
Quando agitamos o crivo, só ficam impurezas: assim os defeitos do homem aparecem nas suas palavras. O forno prova os vasos do oleiro e o homem é posto à prova pelos seus pensamentos. O fruto da árvore manifesta a qualidade do campo: assim as palavras do homem revelam os seus sentimentos. Não elogies ninguém antes de ele falar, porque é assim que se experimentam os homens.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL
Salmo 91 (92), 2-3.13-14.15-16 (R.cf. 2a)
Refrão: É bom louvar o Senhor. Repete-se
Ou: É bom louvar-Vos, Senhor,
e cantar salmos ao vosso nome. Repete-se
É bom louvar o Senhor
e cantar salmos ao vosso nome, ó Altíssimo,
proclamar pela manhã a vossa bondade
e durante a noite a vossa fidelidade. Refrão
O justo florescerá como a palmeira,
crescerá como o cedro do Líbano:
plantado na casa do Senhor,
florescerá nos átrios do nosso Deus. Refrão
Mesmo na velhice dará o seu fruto,
cheio de seiva e de vigor,
para proclamar que o Senhor é justo:
n’Ele, que é o meu refúgio, não há iniquidade. Refrão
SEGUNDA LEITURA
1 Cor 15, 54-58
«Deu-nos a vitória por Jesus Cristo»
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Quando este nosso corpo corruptível se tornar incorruptível e este nosso corpo mortal se tornar imortal, então se realizará a palavra da Escritura: «A morte foi absorvida na vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?». O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei. Mas dêmos graças a Deus, que nos dá a vitória por Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, caríssimos irmãos, permanecei firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor, sabendo que o vosso esforço não é inútil no Senhor.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Filip 2, 15d.16a
Refrão: Aleluia. Repete-se
Vós brilhais como estrelas no mundo,
ostentando a palavra da vida. Refrão.
EVANGELHO
Lc 6, 39-45
«A boca fala do que transborda do coração»
+Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos a seguinte parábola: «Poderá um cego guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? O discípulo não é superior ao mestre, mas todo o discípulo perfeito deverá ser como o seu mestre. Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua? Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o argueiro que tens na vista’, se tu não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão. Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore conhece-se pelo seu fruto: não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas das sarças. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal; pois a boca fala do que transborda do coração».
Palavra da salvação.