domingo, 13 de novembro de 2022

XXXIII Domingo do Tempo Comum Ano C

XXXIII Domingo do Tempo Comum Ano C 

PRIMEIRA LEITURA
Mal 3, 19-20a

«Para vós nascerá o sol de justiça»

Leitura da Profecia de Malaquias

Há-de vir o dia do Senhor, ardente como uma fornalha; e serão como a palha todos os soberbos e malfeitores. O dia que há-de vir os abrasará – diz o Senhor do Universo – e não lhes deixará raiz nem ramos. Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol de justiça, trazendo nos seus raios a salvação. 

Palavra do Senhor. 

SALMO RESPONSORIAL
Salmo 97 (98), 5-9 (R. cf. 9)

Refrão: O Senhor virá governar com justiça. Repete-se 

Ou: O Senhor julgará o mundo com justiça. Repete-se. 

Cantai ao Senhor ao som da cítara, 
ao som da cítara e da lira; 
ao som da tuba e da trombeta, 
aclamai o Senhor, nosso Rei. Refrão 

Ressoe o mar e tudo o que ele encerra, 
a terra inteira e tudo o que nela habita; 
aplaudam os rios 
e as montanhas exultem de alegria. Refrão 

Diante do Senhor que vem, 
que vem para julgar a terra; 
julgará o mundo com justiça 
e os povos com equidade. Refrão 

SEGUNDA LEITURA
2 Tes 3, 7-12

«Quem não quer trabalhar, também não deve comer»

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses 

Irmãos: Vós sabeis como deveis imitar-nos, pois não vivemos entre vós na ociosidade, nem comemos de graça o pão de ninguém. Trabalhámos dia e noite, com esforço e fadiga, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não é que não tivéssemos esse direito, mas quisemos ser para vós exemplo a imitar. Quando ainda estávamos convosco, já vos dávamos esta ordem: quem não quer trabalhar, também não deve comer. Ouvimos dizer que alguns de vós vivem na ociosidade, sem fazerem trabalho algum, mas ocupados em futilidades. A esses ordenamos e recomendamos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que trabalhem tranquilamente, para ganharem o pão que comem. 

Palavra do Senhor. 

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Lc 21, 28

Refrão: Aleluia. Repete-se 

Erguei-vos e levantai a cabeça, 
porque a vossa libertação está próxima. Refrão

EVANGELHO
Lc 21, 5-19

«Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas»

 Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, comentavam alguns que o templo estava ornado com belas pedras e piedosas ofertas. Jesus disse-lhes: «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Eles perguntaram-Lhe: «Mestre, quando sucederá isto? Que sinal haverá de que está para acontecer?». Jesus respondeu: «Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim». Disse-lhes ainda: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias. Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu. Mas antes de tudo isto, deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Assim tereis ocasião de dar testemunho. Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa. Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas». 

Palavra da salvação.

domingo, 24 de abril de 2022

II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia

PRIMEIRA LEITURA
Actos 5, 12-16

Cada vez mais gente aderia ao Senhor pela fé, uma multidão de homens e mulheres

Leitura dos Actos dos Apóstolos

Pelas mãos dos Apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo. Unidos pelos mesmos sentimentos, reuniam-se todos no Pórtico de Salomão; nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo enaltecia-os. Uma multidão cada vez maior de homens e mulheres aderia ao Senhor pela fé, de tal maneira que traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Das cidades vizinhas de Jerusalém, a multidão também acorria, trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros e todos eram curados.

Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL
Salmo 117 (118), 2-4.22-24.25-27ª

Refrão: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia. Repete-se

Ou: Aclamai o Senhor, porque Ele é bom:
o seu amor é para sempre. Repete-se

Ou: Aleluia. Repete-se

Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia. Refrão

A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria. Refrão

Senhor, salvai os vossos servos,
Senhor, dai-nos a vitória.
Bendito o que vem em nome do Senhor,
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
O Senhor é Deus
e fez brilhar sobre nós a sua luz. Refrão

SEGUNDA LEITURA
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19

Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos

Leitura do Livro do Apocalipse

Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. No dia do Senhor fui movido pelo Espírito e ouvi atrás de mim uma voz forte, semelhante à da trombeta, que dizia: «Escreve num livro o que vês e envia-o às sete Igrejas». Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava; ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro e, no meio dos candelabros, alguém semelhante a um filho do homem, vestido com uma longa túnica e cingido no peito com um cinto de ouro. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Mas ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me: «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos. Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão-de acontecer depois destas».

Palavra do Senhor.

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Jo 20, 29

Refrão: Aleluia. Repete-se

Disse o Senhor a Tomé:
«Porque Me viste, acreditaste;
felizes os que acreditam sem terem visto. Refrão

EVANGELHO
Jo 20, 19-31

Oito dias depois, veio Jesus..

 Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

Palavra da salvação.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Maria, terna Mãe!

Ó minha bendita Mãe! 
É desta forma que os homens respondem ao amor que lhes mostrastes, consentindo que vosso Jesus morresse pela nossa salvação. Ingratos como são, nem depois de o haverem crucificado, deixam de persegui-lo com os seus pecados, e assim continuam também a afligir-vos, ó grande Rainha dos Mártires. Eu também sou um daqueles infelizes. Ah! minha Mãe dulcíssima, alcançai-me lágrimas para chorar tamanha ingratidão. Pela dor que sentistes, quando vosso Filho se despediu de vós para ir ao encontro da morte, intercede para que receba a graça de contemplar sempre com fruto os mistérios dolorosos da sua Paixão, especialmente nestes dias em que a recordamos de forma especial. Esta graça eu vo-la peço pelo amor do mesmo Jesus Cristo; de vós a espero Santíssima e terna Mãe!

Fernando Ilídio

Sexta Feira da Paixão do Senhor

PRIMEIRA LEITURA
Is 52, 13 – 53, 12

Leitura do Livro de Isaías

Vede como vai prosperar o meu servo: subirá, elevar-se-á, será exaltado. Assim como, à sua vista, muitos se encheram de espanto – tão desfigurado estava o seu rosto que tinha perdido toda a aparência de um ser humano – assim se hão-de encher de assombro muitas nações e, diante dele, os reis ficarão calados, porque hão-de ver o que nunca lhes tinham contado e observar o que nunca tinham ouvido. Quem acreditou no que ouvimos dizer? A quem se revelou o braço do Senhor? O meu servo cresceu diante do Senhor como um rebento, como raiz numa terra árida, sem distinção nem beleza para atrair o nosso olhar, nem aspecto agradável que possa cativar-nos. Desprezado e repelido pelos homens, homem de dores, acostumado ao sofrimento, era como aquele de quem se desvia o rosto, pessoa desprezível e sem valor para nós. Ele suportou as nossas enfermidades e tomou sobre si as nossas dores. Mas nós víamos nele um homem castigado, ferido por Deus e humilhado. Ele foi trespassado por causa das nossas culpas e esmagado por causa das nossas iniquidades. Caiu sobre ele o castigo que nos salva: pelas suas chagas fomos curados. Todos nós, como ovelhas, andávamos errantes, cada qual seguia o seu caminho. E o Senhor fez cair sobre ele as faltas de todos nós. Maltratado, humilhou-se voluntariamente e não abriu a boca. Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam, ele não abriu a boca. Foi eliminado por sentença iníqua, mas quem se preocupa com a sua sorte? Foi arrancado da terra dos vivos e ferido de morte pelos pecados do seu povo. Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios e um túmulo no meio de malfeitores, embora não tivesse cometido injustiça, nem se tivesse encontrado mentira na sua boca. Aprouve ao Senhor esmagar o seu servo pelo sofrimento. Mas se oferecer a sua vida como sacrifício de expiação, terá uma descendência duradoira, viverá longos dias e a obra do Senhor prosperará em suas mãos. Terminados os sofrimentos, verá a luz e ficará saciado na sua sabedoria. O justo, meu servo, justificará a muitos e tomará sobre si as suas iniquidades. Por isso, Eu lhe darei as multidões como prémio e terá parte nos despojos no meio dos poderosos; porque ele próprio entregou a sua vida à morte e foi contado entre os malfeitores, tomou sobre si as culpas das multidões e intercedeu pelos pecadores.

Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL
Salmo 30 (31), 2.6.12-13.15-16.17.25

Refrão: Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito. Repete-se

Em Vós, Senhor, me refugio,
jamais serei confundido,
pela vossa justiça, salvai-me.
Em vossas mãos entrego o meu espírito,
Senhor, Deus fiel, salvai-me. Refrão

Tornei-me o escárnio dos meus inimigos,
o desprezo dos meus vizinhos 
e o terror dos meus conhecidos:
todos evitam passar por mim.
Esqueceram-me como se fosse um morto,
tornei-me como um objecto abandonado. Refrão

Eu, porém, confio no Senhor:
Disse: «Vós sois o meu Deus,
nas vossas mãos está o meu destino».
Livrai-me das mãos dos meus inimigos
e de quantos me perseguem. Refrão

Fazei brilhar sobre mim a vossa face,
salvai-me pela vossa bondade.
Tende coragem e animai-vos,
vós todos que esperais no Senhor. Refrão

SEGUNDA LEITURA
4, 14-16; 5, 7-9

Leitura da Epístola aos Hebreus

Irmãos: Tendo nós um sumo sacerdote que penetrou os Céus, Jesus, Filho de Deus, permaneçamos firmes na profissão da nossa fé. Na verdade, nós não temos um sumo sacerdote incapaz de Se compadecer das nossas fraquezas. Pelo contrário, Ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, excepto no pecado. Vamos, portanto, cheios de confiança, ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos a graça de um auxílio oportuno. Nos dias da sua vida mortal, Ele dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte, e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento. E, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se, para todos os que Lhe obedecem, causa de salvação eterna.

Palavra do Senhor.

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Filip 2, 8-9

Refrão: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo. Repete-se

Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome
que está acima de todos os nomes. Refrão

EVANGELHO
Jo 18, 1 - 19, 42

 Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

N Naquele tempo,
Jesus saiu com os seus discípulos
para o outro lado da torrente do Cedron.
Havia lá um jardim, onde Ele entrou com os seus discípulos.
Judas, que O ia entregar, conhecia também o local,
porque Jesus Se reunira lá muitas vezes
com os discípulos.
Tomando consigo uma companhia de soldados
e alguns guardas,
enviados pelos príncipes dos sacerdotes e pelos fariseus,
Judas chegou ali, com archotes, lanternas e armas.
Sabendo Jesus tudo o que Lhe ia acontecer,
adiantou-Se e perguntou-lhes:
J «A quem buscais?».
N Eles responderam-Lhe:
R «A Jesus, o Nazareno».
N Jesus disse-lhes:
«Sou Eu».
N Judas, que O ia entregar, também estava com eles.
Quando Jesus lhes disse: «Sou Eu»,
recuaram e caíram por terra.
Jesus perguntou-lhes novamente:
J «A quem buscais?».
N Eles responderam:
R «A Jesus, o Nazareno».
N Disse-lhes Jesus:
J «Já vos disse que sou Eu.
Por isso, se é a Mim que buscais,
deixai que estes se retirem».
N Assim se cumpriam as palavras que Ele tinha dito:
«Daqueles que Me deste, não perdi nenhum».
Então, Simão Pedro, que tinha uma espada,
desembainhou-a e feriu um servo do sumo sacerdote,
cortando-lhe a orelha direita.
O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro:
J «Mete a tua espada na bainha.
Não hei-de beber o cálice que meu Pai Me deu?».
N Então, a companhia de soldados, 
o oficial e os guardas dos judeus
apoderaram-se de Jesus e manietaram-n’O.
Levaram-n’O primeiro a Anás,
por ser sogro de Caifás, 
que era o sumo sacerdote nesse ano.
Caifás é que tinha dado o seguinte conselho aos judeus:
«Convém que morra um só homem pelo povo».
Entretanto, Simão Pedro seguia Jesus
com outro discípulo.
Esse discípulo era conhecido do sumo sacerdote
e entrou com Jesus no pátio do sumo sacerdote,
enquanto Pedro ficava à porta, do lado de fora.
Então o outro discípulo, conhecido do sumo sacerdote,
falou à porteira e levou Pedro para dentro.
A porteira disse a Pedro:
R «Tu não és dos discípulos desse homem?».
N Ele respondeu:
R «Não sou».
N Estavam ali presentes os servos e os guardas,
que, por causa do frio, tinham acendido um braseiro 
e se aqueciam.
Pedro também se encontrava com eles a aquecer-se.
Entretanto, o sumo sacerdote interrogou Jesus
acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
Jesus respondeu-lhe:
J «Falei abertamente ao mundo.
Sempre ensinei na sinagoga e no templo,
onde todos os judeus se reúnem,
e não disse nada em segredo.
Porque Me interrogas?
Pergunta aos que Me ouviram o que lhes disse:
eles bem sabem aquilo de que lhes falei».
N A estas palavras, um dos guardas que estava ali presente
deu uma bofetada a Jesus e disse-Lhe:
R «É assim que respondes ao sumo sacerdote?».
N Jesus respondeu-lhe:
J «Se falei mal, mostra-Me em quê.
Mas, se falei bem, porque Me bates?».
N Então Anás mandou Jesus manietado
ao sumo sacerdote Caifás.
Simão Pedro continuava ali a aquecer-se.
Disseram-lhe então:
R «Tu não és também um dos seus discípulos?».
N Ele negou, dizendo:
R «Não sou».
N Replicou um dos servos do sumo sacerdote,
parente daquele a quem Pedro cortara a orelha:
R «Então eu não te vi com Ele no jardim?».
N Pedro negou novamente,
e logo um galo cantou.
Depois, levaram Jesus da residência de Caifás ao Pretório.
Era de manhã cedo. Eles não entraram no pretório, para
não se contaminarem e assim poderem comer a Páscoa.
Pilatos veio cá fora ter com eles e perguntou-lhes:
R «Que acusação trazeis contra este homem?».
N Eles responderam-lhe:
R «Se não fosse malfeitor, não t’O entregávamos».
N Disse-lhes Pilatos:
R «Tomai-O vós próprios, e julgai-O segundo a vossa lei».
N Os judeus responderam:
R «Não nos é permitido dar a morte a ninguém».
N Assim se cumpriam as palavras que Jesus tinha dito,
ao indicar de que morte ia morrer.
Entretanto, Pilatos entrou novamente no pretório,
chamou Jesus e perguntou-Lhe:
R «Tu és o Rei dos judeus?».
N Jesus respondeu-lhe:
J «É por ti que o dizes,
ou foram outros que to disseram de Mim?».

N Disse-Lhe Pilatos:
R «Porventura sou eu judeu?
O teu povo e os sumos sacerdotes
é que Te entregaram a Mim.
Que fizeste?».
N Jesus respondeu:
J «O meu reino não é deste mundo.
Se o meu reino fosse deste mundo,
os meus guardas lutariam
para que Eu não fosse entregue aos judeus.
Mas o meu reino não é daqui».
N Disse-Lhe Pilatos:
R «Então, Tu és Rei?».
N Jesus respondeu-lhe:
J «É como dizes: sou Rei.
Para isso nasci e vim ao mundo,
a fim de dar testemunho da verdade.
Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».
N Disse-Lhe Pilatos:
R «Que é a verdade?».
N Dito isto, saiu novamente para fora e declarou aos judeus:
R «Não encontro neste homem culpa nenhuma.
Mas vós estais habituados 
a que eu vos solte alguém pela Páscoa.
Quereis que vos solte o Rei dos judeus?».
N Eles gritaram de novo:
R «Esse não. Antes Barrabás».
N Barrabás era um salteador.
Então Pilatos mandou que levassem Jesus
e O açoitassem.
Os soldados teceram uma coroa de espinhos,
colocaram-Lha na cabeça
e envolveram Jesus num manto de púrpura.
Depois aproximavam-se d’Ele e diziam:
R «Salve, Rei dos judeus».
N E davam-Lhe bofetadas.
Pilatos saiu novamente para fora e disse:
R «Eu vo-l’O trago aqui fora,
para saberdes que não encontro n’Ele culpa nenhuma».

N Jesus saiu,
trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura.
Pilatos disse-lhes:
R «Eis o homem».
N Quando viram Jesus,
os príncipes dos sacerdotes e os guardas gritaram:
R «Crucifica-O! Crucifica-O!».
N Disse-lhes Pilatos:
R «Tomai-O vós mesmos e crucificai-O,
que eu não encontro n’Ele culpa alguma».
N Responderam-lhe os judeus:
R «Nós temos uma lei
e, segundo a nossa lei, deve morrer,
porque Se fez Filho de Deus».
N Quando Pilatos ouviu estas palavras, ficou assustado.
Voltou a entrar no pretório e perguntou a Jesus:
R «Donde és Tu?».
N Mas Jesus não lhe deu resposta.
Disse-Lhe então Pilatos:
R «Não me falas? Não sabes que tenho poder
para Te soltar e para Te crucificar?».
N Jesus respondeu-lhe:
J «Nenhum poder terias sobre Mim, 
se não te fosse dado do alto.
Por isso, quem Me entregou a ti tem maior pecado».
N A partir de então, Pilatos procurava libertar Jesus.
Mas os judeus gritavam:
R «Se O libertares, não és amigo de César:
todo aquele que se faz rei é contra César».
N Ao ouvir estas palavras,
Pilatos trouxe Jesus para fora
e sentou-se no tribunal,
no lugar chamado «Lagedo», em hebraico «Gabatá».
Era a Preparação da Páscoa, por volta do meio-dia.
Disse então aos judeus:
R «Eis o vosso Rei!».
N Mas eles gritaram:
R «À morte, à morte! Crucifica-O!».

N Disse-lhes Pilatos:
R «Hei-de crucificar o vosso Rei?».
N Replicaram-lhe os príncipes dos sacerdotes:
R «Não temos outro rei senão César».
N Entregou-lhes então Jesus, para ser crucificado.
E eles apoderaram-se de Jesus.
Levando a cruz,
Jesus saiu para o chamado Lugar do Calvário,
que em hebraico se diz Gólgota.
Ali O crucificaram, e com Ele mais dois:
um de cada lado e Jesus no meio.
Pilatos escreveu ainda um letreiro
e colocou-o no alto da cruz; nele estava escrito:
«Jesus, o Nazareno, Rei dos judeus».
Muitos judeus leram esse letreiro,
porque o lugar onde Jesus tinha sido crucificado 
era perto da cidade.
Estava escrito em hebraico, grego e latim.
Diziam então a Pilatos
os príncipes dos sacerdotes dos judeus:
R «Não escrevas: ‘Rei dos judeus’,
mas que Ele afirmou: ‘Eu sou o Rei dos judeus’».
N Pilatos retorquiu:
R «O que escrevi está escrito».
N Quando crucificaram Jesus,
os soldados tomaram as suas vestes,
das quais fizeram quatro lotes, um para cada soldado,
e ficaram também com a túnica.
A túnica não tinha costura:
era tecida de alto a baixo como um todo.
Disseram uns aos outros:
R «Não a rasguemos, mas lancemos sortes,
para ver de quem será».
N Assim se cumpria a Escritura:
«Repartiram entre si as minhas vestes
e deitaram sortes sobre a minha túnica».
Foi o que fizeram os soldados.
Estavam junto à cruz de Jesus
sua Mãe, a irmã de sua Mãe,
Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.
Ao ver sua Mãe e o discípulo predilecto,
Jesus disse a sua Mãe:
J «Mulher, eis o teu filho».
N Depois disse ao discípulo:
J «Eis a tua Mãe».
N E a partir daquela hora,
o discípulo recebeu-a em sua casa.
Depois, sabendo que tudo estava consumado
e para que se cumprisse a Escritura,
Jesus disse:
J «Tenho sede».
N Estava ali um vaso cheio de vinagre.
Prenderam a uma vara uma esponja embebida em vinagre
e levaram-Lha à boca.
Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou:
J «Tudo está consumado».
N E, inclinando a cabeça, expirou.
N Por ser a Preparação, e para que os corpos
não ficassem na cruz durante o sábado,
– era um grande dia aquele sábado –
os judeus pediram a Pilatos
que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados.
Os soldados vieram e quebraram as pernas ao primeiro,
depois ao outro que tinha sido crucificado com ele.
Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto,
não Lhe quebraram as pernas,
mas um dos soldados
trespassou-Lhe o lado com uma lança,
e logo saiu sangue e água.
Aquele que viu é que dá testemunho
e o seu testemunho é verdadeiro.
Ele sabe que diz a verdade, 
para que também vós acrediteis.
Assim aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz:
«Nenhum osso Lhe será quebrado».
Diz ainda outra passagem da Escritura:
«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram».
Depois disto, José de Arimateia,
que era discípulo de Jesus,
embora oculto por medo dos judeus,
pediu licença a Pilatos para levar o corpo de Jesus.
Pilatos permitiu-lho.
José veio então tirar o corpo de Jesus.
Veio também Nicodemos,
aquele que, antes, tinha ido de noite ao encontro de Jesus.
Trazia uma mistura de quase cem libras de mirra e aloés.
Tomaram o corpo de Jesus
e envolveram-no em ligaduras juntamente com os perfumes,
como é costume sepultar entre os judeus.
No local em que Jesus tinha sido crucificado,
havia um jardim e, no jardim, um sepulcro novo,
no qual ainda ninguém fora sepultado.
Foi aí que, por causa da Preparação dos judeus,
porque o sepulcro ficava perto,
depositaram Jesus.

Palavra da salvação.


domingo, 10 de abril de 2022

Domingo de Ramos da Paixão do Senhor

Domingo de Ramos da Paixão do Senhor

PRIMEIRA LEITURA
Is. 50, 4-7

«Não desviei o meu rosto dos que Me ultrajavam, mas sei que não ficarei desiludido»

Leitura do Livro de Isaías

O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio, e, por isso, não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido.

Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL
Sal. 21 (22), 8-9.17-18a.19-20.23-24 (R. 2a)

Refrão: Meu Deus, meu Deus,
porque me abandonastes? Repete-se

Todos os que me vêem escarnecem de mim,
estendem os lábios e meneiam a cabeça:
«Confiou no Senhor, Ele que o livre,
Ele que o salve, se é seu amigo». Refrão

Matilhas de cães me rodearam,
cercou-me um bando de malfeitores.
Trespassaram as minhas mãos e os meus pés,
posso contar todos os meus ossos. Refrão

Repartiram entre si as minhas vestes
e deitaram sortes sobre a minha túnica.
Mas Vós, Senhor, não Vos afasteis de mim,
sois a minha força, apressai-Vos a socorrer-me. Refrão

Hei-de falar do vosso nome aos meus irmãos,
hei-de louvar-Vos no meio da assembleia.
Vós, que temeis o Senhor, louvai-O,
glorificai-O, vós todos os filhos de Jacob,
reverenciai-O, vós todos os filhos de Israel. Refrão

SEGUNDA LEITURA
Filip 2, 6-11

«Humilhou-Se a Si próprio; por isso Deus O exaltou»

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

Palavra do Senhor.

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Filip 2, 8-9

Refrão: Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória. Repete-se

Cristo obedeceu até à morte
e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu um nome
que está acima de todos os nomes. Refrão

EVANGELHO
Lc 22,14–23,56

Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo

N Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 

Quando chegou a hora, 
Jesus sentou-Se à mesa com os seus Apóstolos 
e disse-lhes: 
J «Tenho desejado ardentemente 
comer convosco esta Páscoa, 
antes de padecer; 
pois digo-vos que não tornarei a comê-la, 
até que se realize plenamente no reino de Deus». 
N Então, tomando um cálice, deu graças e disse: 
J «Tomai e reparti entre vós, 
pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, 
até que venha o reino de Deus». 

N Depois tomou o pão e, dando graças, 
partiu-o e deu-lho, dizendo: 
J «Isto é o meu Corpo entregue por vós. 
Fazei isto em memória de Mim». 
N No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: 
J «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue, 
derramado por vós. 
Entretanto, está comigo à mesa 
a mão daquele que Me vai entregar. 
a mão daquele que Me vai entregar. 
O Filho do homem vai partir, como está determinado. 
Mas ai daquele por quem Ele vai ser entregue!». 

N Começaram então a perguntar uns aos outros 
qual deles iria fazer semelhante coisa. 
Levantou-se também entre eles uma questão: 
qual deles se devia considerar o maior? 
Disse-lhes Jesus: 
J «Os reis das nações exercem domínio sobre elas 
e os que têm sobre elas autoridade 
são chamados benfeitores. 
Vós não deveis proceder desse modo. 
O maior entre vós seja como o menor 
e aquele que manda seja como quem serve. 
Pois quem é o maior: 
o que está à mesa ou o que serve? 
Não é o que está à mesa? 
Ora Eu estou no meio de vós 
como aquele que serve. 
Vós estivestes sempre comigo 
nas minhas provações. 
E Eu preparo para vós um reino, 
como meu Pai o preparou para Mim: 
comereis e bebereis à minha mesa, no meu reino, 
e sentar-vos-eis em tronos, 
a julgar as doze tribos de Israel. 
Simão, Simão, Satanás vos reclamou 
para vos agitar na joeira como trigo. 
Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. 
E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos». 
N Pedro respondeu-Lhe: 
R «Senhor, eu estou pronto a ir contigo, 
até para a prisão e para a morte». 
N Disse-lhe Jesus: 
J «Eu te digo, Pedro: Não cantará hoje o galo, 
sem que tu, por três vezes, negues conhecer-Me». 
N Depois acrescentou: 
J «Quando vos enviei 
sem bolsa nem alforge nem sandálias, 
faltou-vos alguma coisa?». 
N Eles responderam que não lhes faltara nada. 
Disse-lhes Jesus: 
J «Mas agora, quem tiver uma bolsa pegue nela, 
bem como no alforge; 
e quem não tiver espada venda a capa e compre uma. 
Porque Eu vos digo 
que se deve cumprir em Mim o que está escrito: 
‘Foi contado entre os malfeitores’. 
Na verdade, o que Me diz respeito 
está a chegar ao fim». 
N Eles disseram: 
R «Senhor, estão aqui duas espadas». 
N Mas Jesus respondeu: 
J «Basta». 

N Então saiu 
e foi, como de costume, para o monte das Oliveiras 
e os discípulos acompanharam-n’O. 
Quando chegou ao local, disse-lhes: 
J «Orai, para não entrardes em tentação». 
N Depois afastou-Se deles cerca de um tiro de pedra 
e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo: 
J «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice. 
Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua». 
N Então apareceu-Lhe um Anjo, vindo do Céu, 
para O confortar. 
Entrando em angústia, orava mais instantemente 
e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, 
que caíam na terra. 

Depois de ter orado, 
levantou-Se e foi ter com os discípulos, 
que encontrou a dormir, por causa da tristeza. 
Disse-lhes Jesus: 
J «Porque estais a dormir? 
Levantai-vos e orai, para não entrardes em tentação». 
N Ainda Ele estava a falar, 
quando apareceu uma multidão de gente. 
O chamado Judas, um dos Doze, vinha à sua frente 
e aproximou-se de Jesus, para O beijar. 
Disse-lhe Jesus: 
J «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do homem?». 
N Ao verem o que ia suceder, 
os que estavam com Jesus perguntaram-Lhe: 
R «Senhor, vamos feri-los à espada?». 
N E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, 
cortando-lhe a orelha direita. 
Mas Jesus interveio, dizendo: 
J «Basta! Deixai-os». 
N E, tocando na orelha do homem, curou-o. 

Disse então Jesus aos que tinham vindo ao seu encontro, 
príncipes dos sacerdotes, oficiais do templo e anciãos: 
J «Vós saístes com espadas e varapaus, 
como se viésseis ao encontro dum salteador. 
Eu estava todos os dias convosco no templo 
e não Me deitastes as mãos. 
Mas esta é a vossa hora e o poder das trevas. 
N Apoderaram-se então de Jesus, 
levaram-n’O e introduziram-n’O em casa do sumo sacerdote. 

Pedro seguia-os de longe. 
Acenderam uma fogueira no meio do pátio, 
sentaram-se em volta dela 
e Pedro foi sentar-se no meio deles. 
Ao vê-lo sentado ao lume, 
uma criada, fitando os olhos nele, disse: 
R «Este homem também andava com Jesus». 
N Mas Pedro negou: 
R «Não O conheço, mulher». 
N Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: 
R «Tu também és um deles». 
N Mas Pedro disse: 
R «Homem, não sou». 
N Passada mais ou menos uma hora, 
afirmava outro com insistência: 
R «Esse homem, com certeza, também andava com Jesus, 
pois até é galileu». 
N Pedro respondeu: 
R «Homem, não sei o que dizes». 
N Nesse instante – ainda ele falava – um galo cantou. 
O Senhor voltou-Se e fitou os olhos em Pedro. 
Então Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, 
quando lhe disse: 
‘Antes de o galo cantar, Me negarás três vezes’. 
E, saindo para fora, chorou amargamente. 

Entretanto, os homens que guardavam Jesus 
troçavam d’Ele e maltratavam-n’O. 
Cobrindo-Lhe o rosto, perguntavam-Lhe: 
R «Adivinha, profeta: Quem Te bateu?». 
N E dirigiam-Lhe muitos outros insultos. 
Ao romper do dia, 
reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, 
os príncipes dos sacerdotes e os escribas. 
Levaram-n’O ao seu tribunal e disseram-Lhe: 
R «Diz-nos se Tu és o Messias». 
N Jesus respondeu-lhes: 
J «Se Eu vos disser, não acreditareis 
e, se fizer alguma pergunta, não respondereis. 
Mas o Filho do homem 
sentar-Se-á doravante 
à direita do poder de Deus». 

N Disseram todos: 
R «Tu és então o Filho de Deus?». 
N Jesus respondeu-lhes: 
J «Vós mesmos dizeis que Eu sou». 
N Então exclamaram: 
R «Que necessidade temos ainda de testemunhas? 
Nós próprios o ouvimos da sua boca». 
N Levantaram-se todos e levaram Jesus a Pilatos. 
Começaram a acusá-l’O, dizendo: 
R «Encontrámos este homem a sublevar o nosso povo, 
a impedir que se pagasse o tributo a César 
e dizendo ser o Messias-Rei». 
N Pilatos perguntou-Lhe: 
R «Tu és o Rei dos judeus?». 
N Jesus respondeu-lhe: 
J «Tu o dizes». 
N Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e à multidão: 
R «Não encontro nada de culpável neste homem». 
N Mas eles insistiam: 
R «Amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, 
desde a Galileia, onde começou, até aqui». 

N Ao ouvir isto, Pilatos perguntou 
se o homem era galileu; 
e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, 
enviou-O a Herodes, 
que também estava nesses dias em Jerusalém. 
Ao ver Jesus, Herodes ficou muito satisfeito. 
Havia bastante tempo que O queria ver, 
pelo que ouvia dizer d’Ele, 
e esperava que fizesse algum milagre na sua presença. 
Fez-Lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu. 
Os príncipes dos sacerdotes e os escribas que lá estavam 
acusavam-n’O com insistência. 
Herodes, com os seus oficiais, tratou-O com desprezo 
e, por troça, mandou-O cobrir com um manto magnífico 
e remeteu-O a Pilatos. 
Herodes e Pilatos, que eram inimigos, 
ficaram amigos nesse dia. 
Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes, 
os chefes e o povo, e disse-lhes: 
R «Trouxestes este homem à minha presença 
como agitador do povo. 
Interroguei-O diante de vós 
e não encontrei n’Ele 
nenhum dos crimes de que O acusais. 
Herodes também não, 
uma vez que no-l’O mandou de novo. 
Como vedes, não praticou nada que mereça a morte. 
Vou, portanto, soltá-l’O, depois de O mandar castigar». 

N Pilatos tinha obrigação de lhes soltar um preso 
por ocasião da festa. 
E todos se puseram a gritar: 
R «Mata Esse e solta-nos Barrabás». 
N Barrabás tinha sido metido na cadeia 
por causa de uma insurreição desencadeada na cidade 
e por assassínio. 
De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra, 
querendo libertar Jesus. 
Mas eles gritavam: 
R «Crucifica-O! Crucifica-O!». 
N Pilatos falou-lhes pela terceira vez: 
R «Mas que mal fez este homem? 
Não encontrei n’Ele nenhum motivo de morte. 
Por isso vou soltá-l’O, depois de O mandar castigar». 
N Mas eles continuavam a gritar, 
pedindo que fosse crucificado, 
e os seus clamores aumentavam de violência. 
Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam: 
soltou aquele que fora metido na cadeia 
por insurreição e assassínio, 
como eles reclamavam, 
e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam. 

Quando O conduziam, 
lançaram mão de um certo Simão de Cirene, 
que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, 
para a levar atrás de Jesus. 
Seguia-O grande multidão de povo 
e mulheres que batiam no peito 
e se lamentavam, chorando por Ele. 
Mas Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes: 
J «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim; 
chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; 
pois dias virão em que se dirá: 
‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram 
e os peitos que não amamentaram’. 
Começarão a dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’; 
e às colinas: ‘Cobri-nos’. 
Porque, se tratam assim a madeira verde, 
que acontecerá à seca?». 

N Levavam ainda dois malfeitores 
para serem executados com Jesus. 
Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, 
crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores, 
um à direita e outro à esquerda. 
Jesus dizia: 
J «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem». 
N Depois deitaram sortes, 
para repartirem entre si as vestes de Jesus. 
O povo permanecia ali a observar. 
Por sua vez, os chefes zombavam e diziam: 
R «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, 
se é o Messias de Deus, o Eleito». 
N Também os soldados troçavam d’Ele; 
aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: 
R «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». 
N Por cima d’Ele havia um letreiro: 
«Este é o Rei dos judeus». 
Entretanto, um dos malfeitores 
que tinham sido crucificados 
insultava-O, dizendo: 
R «Não és Tu o Messias? 
Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». 
N Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: 
R «Não temes a Deus, 
tu que sofres o mesmo suplício? 
Quanto a nós, fez-se justiça, 
pois recebemos o castigo das nossas más acções. 
Mas Ele nada praticou de condenável». 
N E acrescentou: 
R «Jesus, lembra-Te de mim, 
quando vieres com a tua realeza». 
N Jesus respondeu-lhe: 
J «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso». 

N Era já quase meio-dia, 
quando as trevas cobriram toda a terra, 
até às três horas da tarde, 
porque o sol se tinha eclipsado. 
O véu do templo rasgou-se ao meio. 
E Jesus exclamou com voz forte: 
J «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito». 
N Dito isto, expirou. 

Vendo o que sucedera, 
o centurião deu glória a Deus, dizendo: 
R «Realmente este homem era justo». 
N E toda a multidão 
que tinha assistido àquele espectáculo, 
ao ver o que se passava, regressava batendo no peito. 
Todos os conhecidos de Jesus, 
bem como as mulheres que O acompanhavam 
desde a Galileia, 
mantinham-se à distância, observando estas coisas. 

Havia um homem chamado José, 
da cidade de Arimateia, 
que era pessoa recta e justa e esperava o reino de Deus. 
Era membro do Sinédrio, mas não tinha concordado 
com a decisão e o proceder dos outros. 
Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. 
E depois de o ter descido da cruz, 
envolveu-o num lençol 
e depositou-o num sepulcro escavado na rocha, 
onde ninguém ainda tinha sido sepultado. 
Era o dia da Preparação 
e começavam a aparecer as luzes do sábado. 
Entretanto, 
as mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia 
acompanharam José e observaram o sepulcro 
e a maneira como fora depositado o corpo de Jesus. 
No regresso, prepararam aromas e perfumes. 
E no sábado guardaram o descanso, 
conforme o preceito. 

Palavra da salvação. 

EVANGELHO – Forma breve Lc 23, 1-49 

N Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 

Naquele tempo, 
levantaram-se os anciãos do povo, 
os príncipes dos sacerdotes e os escribas, 
levaram Jesus a Pilatos 
e começaram a acusá-l’O, dizendo: 
R «Encontrámos este homem a sublevar o nosso povo, 
a impedir que se pagasse o tributo a César 
e dizendo ser o Messias-Rei». 
N Pilatos perguntou a Jesus: 
R «Tu és o Rei dos judeus?». 
N Jesus respondeu: 
J «Tu o dizes». 
N Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e à multidão: 
R «Não encontro nada de culpável neste homem». 
N Mas eles insistiam: 
R «Amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, 
desde a Galileia, onde começou, até aqui». 
N Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu; 
e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, 
enviou-O a Herodes, 
que também estava nesses dias em Jerusalém. 
Ao ver Jesus, Herodes ficou muito satisfeito. 
Havia bastante tempo que O queria ver, 
pelo que ouvia dizer d’Ele, 
e esperava que fizesse algum milagre na sua presença. 
Fez-Lhe muitas perguntas; mas Ele nada respondeu. 
Os príncipes dos sacerdotes e os escribas que lá estavam 
acusavam-n’O com insistência. 
Herodes, com os seus oficiais, tratou-O com desprezo 
e, por troça, mandou-O cobrir com um manto magnífico 
e remeteu-O a Pilatos. 
Herodes e Pilatos, que eram inimigos, 
ficaram amigos nesse dia. 
Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes, 
os chefes e o povo, e disse-lhes: 
R «Trouxestes este homem à minha presença 
como agitador do povo. 
Interroguei-O diante de vós 
e não encontrei n’Ele nenhum dos crimes de que O acusais. 
Herodes também não, 
uma vez que no-l’O mandou de novo. 
Como vedes, não praticou nada que mereça a morte. 
Vou, portanto, soltá-l’O, depois de O mandar castigar». 
N Pilatos tinha obrigação de lhes soltar um preso 
por ocasião da festa. 
E todos se puseram a gritar: 
R «Mata Esse e solta-nos Barrabás». 
N Barrabás tinha sido metido na cadeia 
por causa de uma insurreição desencadeada na cidade 
e por assassínio. 
De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra, 
querendo libertar Jesus. 
Mas eles gritavam: 
R «Crucifica-O! Crucifica-O!». 
N Pilatos falou-lhes pela terceira vez: 
R «Mas que mal fez este homem? 
Não encontrei n’Ele nenhum motivo de morte. 
Por isso vou soltá-l’O, depois de O mandar castigar». 
N Mas eles continuavam a gritar, 
pedindo que fosse crucificado, 
e os seus clamores aumentavam de violência. 
Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam: 
soltou aquele que tinha sido metido na cadeia 
por insurreição e assassínio, 
como eles reclamavam, 
e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam. 
Quando O conduziam, 
lançaram mão de um certo Simão de Cirene, 
que vinha do campo, 
e puseram-lhe a cruz às costas, 
para a levar atrás de Jesus. 
Seguia-O grande multidão de povo 
e mulheres que batiam no peito 
e se lamentavam, chorando por Ele. 
Mas Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes: 
J «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim; 
chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos. 
Pois dias virão em que se dirá: 
‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram 
e os peitos que não amamentaram’. 
Começarão a dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’; 
e às colinas: ‘Cobri-nos’. 
Porque se tratam assim a madeira verde, 
que acontecerá à seca?». 
N Levavam ainda dois malfeitores 
para serem executados com Jesus. 
Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, 
crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores, 
um à direita e outro à esquerda. 
Jesus dizia: 
J «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem». 
N Depois deitaram sortes, 
para repartirem entre si as vestes de Jesus. 
O povo permanecia ali a observar. 
Por sua vez, os chefes zombavam e diziam: 
R «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, 
se é o Messias de Deus, o Eleito». 
N Também os soldados troçavam d’Ele; 
aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: 
R «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». 
N Por cima d’Ele havia um letreiro: 
«Este é o Rei dos judeus». 
Entretanto, um dos malfeitores 
que tinham sido crucificados 
insultava-O, dizendo: 
R «Não és Tu o Messias? 
Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». 
N Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: 
R «Não temes a Deus, 
tu que sofres o mesmo suplício? 
Quanto a nós, fez-se justiça, 
pois recebemos o castigo das nossas más acções. 
Mas Ele nada praticou de condenável». 
N E acrescentou: 
R «Jesus, lembra-Te de mim, 
quando vieres com a tua realeza». 
N Jesus respondeu-lhe: 
J «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso». 
N Era já quase meio-dia, 
quando as trevas cobriram toda a terra, 
até às três horas da tarde, 
porque o sol se tinha eclipsado. 
O véu do templo rasgou-se ao meio. 
E Jesus exclamou com voz forte: 
J «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito». 
N Dito isto, expirou. 
Vendo o que sucedera, 
o centurião deu glória a Deus, dizendo: 
R «Realmente este homem era justo». 
N E toda a multidão que tinha assistido àquele espectáculo, 
ao ver o que se passava, regressava batendo no peito. 
Todos os conhecidos de Jesus, 
bem como as mulheres que O acompanhavam 
desde a Galileia, 
mantinham-se à distância, observando estas coisas. 

Palavra da salvação.

domingo, 13 de março de 2022

Domingo II da Quaresma - Ano C


PRIMEIRA LEITURA
Gen 15, 5-12.17-18

Deus estabelece a aliança com Abraão

Leitura do Livro do Génesis 

Naqueles dias, Deus levou Abrão para fora de casa e disse-lhe: «Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar». E acrescentou: «Assim será a tua descendência». Abraão acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído como justiça. Disse-lhe Deus: «Eu sou o Senhor que te mandou sair de Ur dos caldeus, para te dar a posse desta terra». Abraão perguntou: «Senhor, meu Deus, como saberei que a vou possuir?». O Senhor respondeu-lhe: «Toma uma vitela de três anos, uma cabra de três anos e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho». Abraão foi buscar todos esses animais, cortou-os ao meio e pôs cada metade em frente da outra metade; mas não cortou as aves. Os abutres desceram sobre os cadáveres, mas Abraão pô-los em fuga. Ao pôr do sol, apoderou-se de Abraão um sono profundo, enquanto o assaltava um grande e escuro terror. Quando o sol desapareceu e caíram as trevas, um brasido fumegante e um archote de fogo passaram entre os animais cortados. Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abraão uma aliança, dizendo: «Aos teus descendentes darei esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio Eufrates». 

Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL
Salmo 26 (27), 1.7-8.9abc.13-14 (R. 1a)

Refrão: O Senhor é a minha luz 
e a minha salvação. Repete-se 

O Senhor é minha luz e salvação: 
a quem hei-de temer? 
O Senhor é protector da minha vida: 
de quem hei-de ter medo? Refrão 

Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica, 
tende compaixão de mim e atendei-me. 
Diz-me o coração: «Procurai a sua face». 
A vossa face, Senhor, eu procuro. Refrão 

Não escondais de mim o vosso rosto, 
nem afasteis com ira o vosso servo. 
Não me rejeiteis nem me abandoneis, 
meu Deus e meu Salvador. Refrão 

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor 
na terra dos vivos. 
Confia no Senhor, sê forte. 
Tem coragem e confia no Senhor. Refrão 

SEGUNDA LEITURA
Filip 3, 17 – 4,1

Cristo nos transformará à imagem do seu corpo glorioso

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses 

Irmãos: Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós. Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição: têm por deus o ventre, orgulham-se da sua vergonha e só apreciam as coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que Ele tem de sujeitar a Si todo o universo. Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor. 

Palavra do Senhor. 

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO

Refrão: Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória. Repete-se

No meio da nuvem luminosa, ouviu-se a voz do Pai:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». Refrão

EVANGELHO
Lc 9, 28b-36

«Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto»

 Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto. 

Palavra da salvação. 

sábado, 5 de março de 2022

Domingo I da Quaresma- Ano C

Domingo I da Quaresma Ano C

PRIMEIRA LEITURA
Deut 26, 4-10

A profissão de fé do povo eleito

Leitura do Livro do Deuteronómio 

Moisés falou ao povo, dizendo: «O sacerdote receberá da tua mão as primícias dos frutos da terra e colocá-las-á diante do altar do Senhor teu Deus. E diante do Senhor teu Deus, dirás as seguintes palavras: ‘Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egipto com poucas pessoas, e aí viveu como estrangeiro até se tornar uma nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios maltrataram-nos, oprimiram-nos e sujeitaram-nos a dura escravidão. Então invocámos o Senhor Deus dos nossos pais e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a opressão que nos dominava. O Senhor fez-nos sair do Egipto com mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios. Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e mel. E agora venho trazer-Vos as primícias dos frutos da terra que me destes, Senhor’. Então colocarás diante do Senhor teu Deus as primícias dos frutos da terra e te prostrarás diante do Senhor teu Deus». 

Palavra do Senhor. 

SALMO RESPONSORIAL
Salmo 90 (91), 1-2.10-15 (R. cf. 15b)

Refrão: Estai comigo, Senhor, 
no meio da adversidade. Repete-se 

Tu que habitas sob a protecção do Altíssimo 
e moras à sombra do Omnipotente, 
diz ao Senhor: 
«Sois o meu refúgio e a minha cidadela: 
meu Deus, em Vós confio». Refrão 

Nenhum mal te acontecerá, 
nem a desgraça se aproximará da tua tenda, 
porque Ele mandará aos seus Anjos 
que te guardem em todos os teus caminhos. Refrão 

Na palma das mãos te levarão, 
para que não tropeces em alguma pedra. 
Poderás andar sobre víboras e serpentes, 
calcar aos pés o leão e o dragão. Refrão 

Porque em Mim confiou, hei-de salvá-lo; 
hei-de protegê-lo, pois conheceu o meu nome. 
Quando Me invocar, hei-de atendê-lo, 
estarei com ele na tribulação, 
hei-de libertá-lo e dar-lhe glória. Refrão 

SEGUNDA LEITURA
Rom 10, 8-13

Profissão de fé dos que crêem em Cristo

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos 

Irmãos: Que diz a Escritura? «A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração». Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo. Pois com o coração se acredita para obter a justiça e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação. Na verdade, a Escritura diz: «Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido». Não há diferença entre judeu e grego: todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que O invocam. Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. 

Palavra do Senhor. 

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Mt 4, 4b

Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor. Repete-se

Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Refrão

EVANGELHO
Lc 4, 1-13

«Esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado»

Croce Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome. O Diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’». O Diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo levou-O a Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». Então o Diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo. 

Palavra da salvação.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Jesus Cristo Divinamente Humano e Humanamente Divino

1. O Verbo Encarnado

“Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher" (Gal 4,4). Assim se cumpre a promessa que Deus fez a Adão e Eva ao serem expulsos do Paraíso, de nos dar um Salvador: “Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a dela; ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar" (Gn 3,15). Este versículo do Génesis constitui o primeiro anúncio da boa- nova da salvação. Tradicionalmente, tem-se interpretado que a mulher a que se refere é, tanto Eva, em sentido imediato, como Maria, em sentido pleno; e que a descendência da mulher refere-se tanto à humanidade como a Cristo.

Desde então, até o momento em que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1, 14), Deus foi preparando a humanidade para que pudesse acolher frutuosamente a seu Filho Unigénito. Deus "escolheu" o povo israelita e estabeleceu com ele uma Aliança,  formou-o progressivamente, intervindo  de forma gradual na sua história, manifestando-lhe  assim os seus desígnios através dos patriarcas e dos profetas, santificando-o para si. E tudo isto, como preparação e figura daquela nova e perfeita Aliança que havia de concluir-se em Cristo. Daquela plena e definitiva revelação que devia ser efectuada pelo próprio Verbo encarnado [1]. Ainda que Deus tenha preparado a vinda do Salvador, principalmente mediante a eleição do povo de Israel, isto não significa que abandonasse os demais povos, os “gentios", pois nunca deixou de dar testemunho de si mesmo (cf. Atos 14, 16-17). A Providência divina fez com que os gentios tivessem uma consciência mais ou menos explícita da necessidade da salvação, e até os últimos rincões da terra se conservavam o desejo de ser redimidos.

A Encarnação tem sua origem no amor de Deus  pela Humanidade : “Nisto se manifestou o amor de Deus para connosco , em que Deus enviou ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por meio dEle" (1Jo 4, 9). A Encarnação é a demonstração por excelência do Amor de Deus para com os homens, já que nela, é o próprio Deus que se entrega aos homens, fazendo-se participante da natureza humana, na unidade da pessoa.

Após a "queda de Adão e Eva no paraíso," a Encarnação tem uma finalidade salvadora e redentora, como professamos no Credo: “por nós homens e para nossa salvação, desceu dos céus e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem"[2]. Cristo afirmou de Si mesmo que o Filho do homem veio para procurar e salvar o que estava perdido" (Lc 19, 19; cf Mt 18,11) e que “Deus não enviou seu Filho para condenar o mundo, mas que o mundo fosse salvo por Ele" (Jo 3,17).

A Encarnação não só manifesta o infinito amor de Deus aos homens, a sua infinita misericórdia, a sua justiça, o seu poder, mas também a coerência do plano divino da salvação. A profunda sabedoria divina consiste na forma segundo a qual Deus decidiu salvar o homem, isto é, do modo como convém à natureza, que é precisamente mediante a Encarnação do Verbo.

Jesus Cristo, o Verbo encarnado, “não é nem um mito, nem uma ideia abstracta qualquer. É um homem que viveu num contexto concreto e que morreu depois de ter levado a sua própria existência dentro da evolução da história. A investigação histórica sobre Ele é, pois, uma exigência da fé cristã" [3].

Que Cristo existiu pertence à doutrina da fé, como também que morreu realmente por nós e que ressuscitou ao terceiro dia (cf. 1 Co 15, 3-11). A existência de Jesus é um facto provado pela ciência histórica, sobre tudo mediante a análise do Novo Testamento, cujo o valor histórico está fora de dúvida. Há outros testemunhos antigos não cristãos, pagãos e judeus, sobre a existência de Jesus. Precisamente por isto, não são aceitáveis as posições de quem contrapõe um Jesus histórico ao Jesus da fé e defendem a hipótese de que quase tudo o que o Novo Testamento diz acerca de Cristo seria uma interpretação de fé que fizeram os discípulos de Jesus, mas não a sua autêntica figura histórica, que ainda permaneceria oculta para nós. Estas posturas, que em muitas ocasiões encerram um forte preconceito contra o sobrenatural, não levam em conta que a investigação histórica contemporânea concorda em afirmar que a apresentação que faz o cristianismo primitivo de Jesus baseia-se em factos autênticos sucedidos verdadeiramente .

2. Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro

A Encarnação é “o mistério da união admirável da natureza divina e da natureza humana, na única Pessoa do Verbo" (CIC, 483). A Encarnação do Filho de Deus “não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que seja o resultado de uma mistura confusa do divino com o humano. Ele fez-Se verdadeiro homem, permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem." (Catecismo, 464).

A Igreja definiu e esclareceu esta verdade de fé durante os primeiros séculos frente às heresias que a falseavam. Já no século I, alguns cristãos de origem judaica, os ebionitas, consideraram Cristo um simples homem, ainda que muito santo. No século II, surge o adocionismo , que sustentava a tese de Jesus Cristo ser filho adotivo de Deus; Jesus seria apenas um homem em quem habita a força de Deus; para eles, Deus era uma só pessoa. Esta heresia foi condenada no ano 190 pelo papa São Victor, pelo Concílio de Antioquia, de 268, pelo Concílio I de Constantinopla e pelo sínodo romano de 382 [4]. A heresia ariana, ao negar a divindade do Verbo, negava também que Jesus Cristo fosse Deus. Ario foi condenado pelo Concílio I de Nicéia, no ano de 325. Também atualmente, a Igreja voltou a recordar que Jesus Cristo é o Filho de Deus subsistente desde a eternidade, que na Encarnação assumiu a natureza humana na sua única pessoa divina [5].

A Igreja também enfrentou outros erros que negavam a realidade da natureza humana de Cristo. Entre esses, encontram-se as heresias que negavam a realidade do corpo ou da alma de Cristo. Entre as primeiras, encontra-se o docetismo, nas suas diversas variantes, que possui um fundo gnóstico e maniqueu. Alguns dos seus seguidores afirmavam que Cristo teve um corpo celeste, ou que seu corpo era puramente aparente, ou ainda, que apareceu de repente na Judeia, sem ter tido que nascer ou crescer. Já São João teve que combater este tipo de erros: “muitos são os sedutores que apareceram no mundo, que não confessam que Jesus veio em carne" (2 Jo 7; cf. 1 Jo 4, 1-2).

Ario e Apolinar de Laodiceia negaram que Cristo tivesse verdadeira alma humana. O segundo teve particular importância neste campo e a sua influência esteve presente durante vários séculos nas controvérsias cristológicas posteriores. Na tentativa de defender a unidade de Cristo e a sua impecabilidade, Apolinar sustentou que o Verbo desempenha as funções da alma humana espiritual. Esta doutrina, porém, supunha a negação da verdadeira humanidade de Cristo, composta, como em todos os homens, de corpo e alma espiritual (cf. Catecismo, 471). Foi condenado no Concílio I de Constantinopla e no Sínodo Romano de 382 [6].

3. A união hipostática

Nos inícios do século V, após as controvérsias precedentes, estava bem clara a necessidade de sustentar firmemente a integridade das duas naturezas, divina e humana, na Pessoa do Verbo; de modo que a unidade pessoal de Cristo começa a constituir-se no centro de atenções da cristologia e da soteriologia patrísticas. Para este novo aprofundamento contribuíram novas discussões.

A primeira grande controvérsia teve a sua origem em algumas afirmações de Nestório, patriarca de Constantinopla, que utilizava uma linguagem na qual dava a entender que em Cristo há dois sujeitos: o sujeito divino e o sujeito humano, unidos entre si por um vínculo moral, mas não fisicamente. Este erro cristológico tem na sua origem o seu rechaço do título de Mãe de Deus, Theotókos, aplicado a Santa Maria. Maria seria Mãe de Cristo, mas não Mãe de Deus. Frente a esta heresia, São Cirilo de Alexandria e o Concilio de Éfeso de 431 recordaram que “a humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde que foi concebida... Por isso, o Concílio de Éfeso proclamou, no ano 431, Maria, com toda a verdade Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus no seu seio" (Catecismo, 466;cf. DS 250 e 251).

Uns anos mais tarde, surgiu a heresia monofisita. Esta heresia tem os seus antecedentes no apolinarismo e numa má compreensão da doutrina e da linguagem empregada por São Cirilo, por parte de Eutiques, ancião arquimandrita de um mosteiro de Constantinopla. Eutiques afirmava, entre outras coisas, que Cristo é uma Pessoa que subsiste em uma só natureza, pois a natureza humana teria sido absorvida pela divina. Este erro foi condenado pelo Papa São Leão Magno, no seu Tomus ad Flavium [7], autêntica jóia da teologia latina, e pelo Concílio ecuménico de Caledónia, do ano 451, ponto de referência obrigatório para a Cristologia. Assim ensina: “há que confessar a um só e mesmo Filho e Senhor nosso Jesus Cristo: perfeito na divindade e perfeito na humanidade" [8], e acrescenta que a união das duas naturezas é “sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação" [9].

A doutrina calcedonense foi confirmada e esclarecida pelo II Concílio de Constantinopla do ano 553, que oferece uma interpretação autêntica do Concílio anterior. Após enfatizar várias vezes a unidade de Cristo [10], afirma que a união das duas naturezas de Cristo tem lugar segundo a hipóstasis [11], superando assim a equivocidade da formula ciriliana que falava da unidade segundo a “fisis". Nesta linha, o Concílio de Constantinopla indicou também o sentido em que havia de entender-se a conhecida fórmula ciriliana de “uma natureza do Verbo de Deus encarnada" [12], frase que São Cirilo pensava ser de Santo Atanásio, mas que na realidade tratava-se de uma falsificação apolinarista.

Nestas definições conciliares, que tinham como finalidade esclarecer alguns erros concretos e não expor o mistério de Cristo na sua totalidade, os Padres conciliares utilizaram a linguagem do seu tempo. Da mesma forma que Nicéia empregou o termo consubstancial, Caledónia utilizou termos como natureza, pessoa, hipóstasis etc., segundo o significado habitual que tinham na linguagem comum, e na teologia da sua época. Isto não significa, como afirmaram alguns, que a mensagem evangélica se helenizara. Ao contrário, quem se mostrou rigidamente helenizantes foram precisamente os que propunham as doutrinas heréticas, como Ario ou Nestório, que não souberam ver as limitações da linguagem filosófica de seu tempo, frente ao mistério de Deus e de Cristo.

4. A Humanidade Santíssima de Jesus Cristo

“Na união misteriosa da Encarnação, «a natureza humana foi assumida, não absorvida» (GS 22,2)" (Catecismo, 470). Por isso, a Igreja tem ensinado a “plena realidade da alma humana, com as suas operações de inteligência e vontade, e do corpo humano de Cristo. Mas, paralelamente, a mesma Igreja teve de lembrar repetidamente que a natureza humana de Cristo pertence, como própria, à pessoa divina do Filho de Deus que a assumiu. Tudo o que Ele fez e faz nela, depende de «um da Trindade». Portanto, o Filho de Deus comunica à sua humanidade o seu próprio modo de existir pessoal na Santíssima Trindade. E assim, tanto na sua alma como no seu corpo, Cristo exprime humanamente os costumes divinos da Trindade (cf. Jo 14, 9-12)" (Catecismo, 470).

A alma humana de Cristo está dotada de um verdadeiro conhecimento humano. A doutrina católica tem ensinado tradicionalmente que Cristo, enquanto homem, possuía um conhecimento adquirido, uma ciência infusa e a ciência beata própria dos bem-aventurados no céu. A ciência adquirida de Cristo não podia ser, por si, ilimitada: “por isso que o Filho de Deus, fazendo-Se homem, pôde aceitar «crescer em sabedoria, estatura e graça» (Lc 2, 52) e também teve de Se informar sobre o que, na condição humana, deve aprender-se de modo experimental (cf. Mc 6, 38; 8, 26; Jo 11, 34)" (Catecismo, 472). Cristo, em quem repousa a plenitude do Espírito Santo com os seus dons (cf. Is 11,1-3), possuiu também a ciência infusa, isto é, aquele conhecimento que não se adquire diretamente pelo trabalho da razão, mas é infundido diretamente por Deus na inteligência humana. Com efeito, “O Filho também mostrava, no seu conhecimento humano, a clarividência divina que tinha dos pensamentos secretos do coração dos homens (cf. Mc 2, 8; Jo 2, 25; 6, 61" (Catecismo, 473). Cristo possuía também a ciência própria dos beatos: “Pela sua união com a Sabedoria divina na pessoa do Verbo Encarnado, o conhecimento humano de Cristo gozava, em plenitude, da ciência dos desígnios eternos que tinha vindo revelar (cf. Mc 8, 31; 9, 31; 10, 33-34; 14, 18-20.26-30» (Catecismo, 474). Por tudo isto, deve-se afirmar que Cristo, enquanto homem, é infalível: admitir nele o erro seria admiti-lo no Verbo, única pessoa existente em Cristo. No que diz respeito a uma eventual ignorância propriamente dita, deve-se ter presente que “O que neste domínio Ele reconhece ignorar (cf. Mc 13, 32) declara, noutro ponto, não ter a missão de revelá-lo (cf. Atos 1, 7)» (Catecismo, 474). Entende-se que Cristo fosse humanamente consciente de ser o Verbo e de sua missão salvífica [13]. Por outro lado, a teologia católica, ao pensar que Cristo possuía, já na terra, a visão imediata de Deus, sempre negou a existência em Cristo da virtude da fé [14].

Frente às heresias monoenergeta e monotelita que, em lógica continuidade com o monofisismo precedente, afirmavam que em Cristo há uma só operação ou uma só vontade, a Igreja confessou, no III Concílio ecuménico de Constantinopla, do ano 681, que Cristo possui duas vontades e duas operações naturais, divinas e humanas, não opostas, mas cooperantes, de forma que o Verbo feito carne, em sua obediência ao Pai, quis humanamente tudo aquilo que decidiu divinamente com o Pai e o Espírito Santo, para nossa salvação (cf. DS 556-559). A vontade humana de Cristo “segue a sua vontade divina, sem fazer resistência nem oposição em relação a ela, antes estando subordinada a essa vontade onipotente" (DS 556)" (Catecismo 475). Trata-se de uma questão fundamental, pois está diretamente relacionada com o ser de Cristo e com nossa salvação. São Máximo, o Confessor, distinguiu-se por este esforço doutrinal de esclarecimento e se serviu com grande eficácia da conhecida passagem da oração de Jesus no Horto, em que aparece o acordo da vontade humana de Cristo com a vontade do Pai (cf. Mt 26, 39).

Consequência da dualidade de naturezas é também a dualidade de operações. Em Cristo, há duas operações, as divinas, procedentes de sua natureza divina, e as humanas, que procedem da natureza humana. Fala-se também de operações teândricas para referir-se àquelas nas quais a operação humana opera como instrumento da divina: é o caso dos milagres realizados por Cristo.

O realismo da Encarnação do Verbo manifestou-se também na última grande controvérsia cristológica da época patrística: a disputa sobre as imagens. O costume de representar a Cristo, em afrescos, ícones, baixos relevos etc., é antiquíssima e existem testemunhos que remontam ao menos até o século segundo. A crise iconoclasta ocorreu em Constantinopla nos inícios do século VIII e teve sua origem em uma decisão do Imperador. Anteriormente, já tinham aparecido teólogos que haviam se mostrado ao longo dos séculos partidários ou contrários ao uso das imagens, mas ambas as tendências tinham coexistido pacificamente. Aqueles que se opunham costumavam acrescentar que Deus não tem limites e não pode, portanto, encerrar-se dentro de umas linhas, de uns traços, não pode ser circunscrito. Porém, como assinalou São João Damasceno, foi a própria Encarnação que circunscreveu o Verbo, incircunscrível. “Uma vez que o Verbo Se fez carne, assumindo uma verdadeira natureza humana, o corpo de Cristo era circunscrito (...).Portanto, o rosto humano de Jesus pode ser «pintado» (Ga 3, 2)" (Catecismo,476). No II Concílio ecuménico de Nicéia, do ano 787, “a Igreja reconheceu como legítimo que ele fosse representado em santas imagens" (Catecismo, 476). Com efeito, “as particularidades individuais do corpo de Cristo expressam a pessoa divina do Filho de Deus. Ele fez seus os traços de seu próprio corpo humano até o ponto que, pintados em uma imagem sagrada, podem ser venerados porque o crente que venera sua imagem, venera a pessoa representada nela" [15].

A alma de Cristo, ao não ser divina por essência, mas humana, foi aperfeiçoada, como as almas dos demais homens, mediante a graça habitual, que é “um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural, que aperfeiçoa a alma, mesmo para torná-la capaz de viver com Deus e de agir por seu amor" (Catecismo, 2000). Cristo é santo, como anunciou o arcanjo Gabriel a Santa Maria na Anunciação: Lc 1, 35. A humanidade de Cristo é radicalmente santa, fonte e paradigma da santidade de todos os homens. Pela Encarnação, a natureza humana de Cristo foi elevada à maior união com a divindade – com a Pessoa do Verbo – a que pode ser elevada alguma criatura. Do ponto de vista da humanidade do Senhor, a união hipostática é o maior dom que jamais se tenha podido receber, e costuma ser conhecida com o nome de graça de união. Pela graça habitual, a alma de Cristo foi divinizada com essa transformação que eleva a natureza e as operações da alma ao plano da vida íntima de Deus, proporcionando às suas operações sobrenaturais uma co-naturalidade que, de outro modo, não teria. Sua plenitude de graça implica também na existência das virtudes infusas e dos dons do Espírito Santo. Desta plenitude de graça de Cristo, “recebemos todos, graça sobre graça" (Jo 1, 16). A graça e os dons foram outorgados a Cristo não só em atenção à sua dignidade de Filho, mas também em atenção à sua missão de novo Adão e Cabeça da Igreja. Por isso se fala de uma graça capital em Cristo que não é uma graça distinta da graça pessoal do Senhor, mas é um aspecto dessa mesma graça que acentua sua ação santificadora sobre os membros da Igreja. A Igreja, com efeito, “é o Corpo de Cristo" (Catecismo, 805), um corpo “do qual Cristo é a Cabeça: vive d'Ele, n'Ele e por Ele; Ele vive com ela e nela" (Catecismo, 807).

O Coração do Verbo encarnado. “Jesus conheceu-nos e amou-nos, a todos e a cada um, durante a sua vida, a sua agonia e a sua paixão, entregando-Se por cada um de nós: «O Filho de Deus amou-me e entregou-Se por mim» (Gl 2, 20). Amou-nos a todos com um coração humano" (Catecismo, 478). Por este motivo, o Sagrado Coração de Jesus é o símbolo por excelência do amor com que ama continuamente ao eterno Pai e a todos os homens (cf. ibidem).

Fernando Ilídio

Bibliografia:


Bento XVI-Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré, ed Planeta, São Paulo 2007.

Catecismo da Igreja Católica, 422-483.


A. Amato, Jesús el Señor, BAC, Madri 1998.

F. Ocáriz – L.F. Mateo Seco – J.A. Riestra, El misterio de Jesucristo, 3ª ed., EUNSA, Pamplona 2004.


[1] Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 9.

[2] Concílio de Constantinopla I, Symbolum, DS 150; cf. Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 55.

[3] Comisión Teológica Internacional, Cuestiones selectas de Cristología (1979), en ID., Documentos 1969-1996, 2ª ed., BAC, Madri 2000, 221.

[4] Cf. DS 151 y 157-158.

[5] Cf. Congregación para la Doctrina de la Fe, Decl. Mysterium Filii Dei, 21-02-1972, en AAS 64(1972)237-241.

[6] Cf. DS 151 y 159.

[7] Cf. Ibidem, 290-295.

[8] Cf. Ibidem, 301; Catecismo, 467.

[9] Cf. Idem.

[10] Cf. Ibidem, 423.

[11] Cf. Ibidem, 425.

[12] Cf. Ibidem, 429.

[13] Cf. Comissão Teológica Internacional, La conciencia que Jesús tenía de Sí mismo y de su misión (1985), en ID., Documentos 1969-1996, 2ª ed., BAC, Madri 2000, 377-391.

[14] Cf. Congregação para a Douctrina da Fé, Notificación, n. V, 26-11-2006.

[15] Concilio de Nicea II, DS 601.

VIII Domingo do Tempo Comum Ano C

PRIMEIRA LEITURA
Sir 27, 5-8 (gr. 4-7)

«Não elogies ninguém antes de ele falar»

Leitura do Livro de Ben-Sirá

Quando agitamos o crivo, só ficam impurezas: assim os defeitos do homem aparecem nas suas palavras. O forno prova os vasos do oleiro e o homem é posto à prova pelos seus pensamentos. O fruto da árvore manifesta a qualidade do campo: assim as palavras do homem revelam os seus sentimentos. Não elogies ninguém antes de ele falar, porque é assim que se experimentam os homens.

Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL
Salmo 91 (92), 2-3.13-14.15-16 (R.cf. 2a)

Refrão: É bom louvar o Senhor. Repete-se

Ou: É bom louvar-Vos, Senhor,
e cantar salmos ao vosso nome. Repete-se

É bom louvar o Senhor
e cantar salmos ao vosso nome, ó Altíssimo,
proclamar pela manhã a vossa bondade
e durante a noite a vossa fidelidade. Refrão

O justo florescerá como a palmeira,
crescerá como o cedro do Líbano:
plantado na casa do Senhor,
florescerá nos átrios do nosso Deus. Refrão

Mesmo na velhice dará o seu fruto,
cheio de seiva e de vigor,
para proclamar que o Senhor é justo:
n’Ele, que é o meu refúgio, não há iniquidade. Refrão

SEGUNDA LEITURA
1 Cor 15, 54-58

«Deu-nos a vitória por Jesus Cristo»

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios

Irmãos: Quando este nosso corpo corruptível se tornar incorruptível e este nosso corpo mortal se tornar imortal, então se realizará a palavra da Escritura: «A morte foi absorvida na vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?». O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei. Mas dêmos graças a Deus, que nos dá a vitória por Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, caríssimos irmãos, permanecei firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor, sabendo que o vosso esforço não é inútil no Senhor.

Palavra do Senhor.

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Filip 2, 15d.16a

Refrão: Aleluia. Repete-se

Vós brilhais como estrelas no mundo,
ostentando a palavra da vida. Refrão.


EVANGELHO
Lc 6, 39-45

«A boca fala do que transborda do coração»

+Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos a seguinte parábola: «Poderá um cego guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? O discípulo não é superior ao mestre, mas todo o discípulo perfeito deverá ser como o seu mestre. Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua? Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o argueiro que tens na vista’, se tu não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão. Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore conhece-se pelo seu fruto: não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas das sarças. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal; pois a boca fala do que transborda do coração».

Palavra da salvação.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

CÁTEDRA DE PEDRO

SÄO PEDRO

CÁTEDRA
Celebrado a 22 De Fevereiro

"Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela." Mt 16,18
Hoje celebramos o Dia da Cátedra de São Pedro. Não sabemos bem como se originou esta festa. Mas existe uma inscrição, datada de 370 - portanto, há mais de 1.600 anos - atribuída ao Papa São Dámaso, em que refere uma cadeira portátil, dentro do Vaticano, e que é considerada a "cátedra" do Apóstolo Pedro.
Hoje, dessa cadeira restam apenas algumas relíquias de madeira, conservadas e honradas, num lugar onde o grande artista Bernini levantou um monumento grandioso, em honra do primeiro Papa, a Basílica de São Pedro.
Escavações, feitas por cientistas de diversas nações, também provam que os restos mortais de São Pedro se encontram debaixo do mesmo Vaticano, que se torna, assim, símbolo de unidade da Igreja. A celebração da festa da Cátedra de São Pedro tem o importante significado, bem como o apelo à unidade dos cristãos, sob a orientação do Papa, este que é representante visível de Nosso Senhor Jesus Cristo, o nosso Salvador!
O Evangelho une-nos a S.bPedro, mas também a todos os apóstolos e membros da Igreja.

Fernando Ilídio