sexta-feira, 28 de junho de 2019

Solenidade de São Pedro e São Paulo

PRIMEIRA LEITURA
Actos 12, 1-11
«Agora sei realmente que o Senhor me libertou das mãos de Herodes»
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Naqueles dias,
o rei Herodes começou a perseguir alguns membros da Igreja.
Mandou matar à espada Tiago, irmão de João,
e, vendo que tal procedimento agradava aos judeus,
mandou prender também Pedro.
Era nos dias dos Ázimos.
Mandou-o prender e meter na cadeia,
entregando-o à guarda
de quatro piquetes de quatro soldados cada um,
com a intenção de o fazer comparecer perante o povo,
depois das festas da Páscoa.
Enquanto Pedro era guardado na prisão,
a Igreja orava instantemente a Deus por ele.
Na noite anterior ao dia em que Herodes
pensava fazê-lo comparecer,
Pedro dormia entre dois soldados,
preso a duas correntes,
enquanto as sentinelas, à porta, guardavam a prisão.
De repente, apareceu o Anjo do Senhor
e uma luz iluminou a cela da cadeia.
O Anjo acordou Pedro, tocando-lhe no ombro, e disse-lhe:
«Levanta-te depressa».
E as correntes caíram-lhe das mãos.
Então o Anjo disse-lhe:
«Põe o cinto e calça as sandálias».
Ele assim fez.
Depois acrescentou:
«Envolve-te no teu manto e segue-me».
Pedro saiu e foi-o seguindo,
sem perceber a realidade do que estava a acontecer
por meio do Anjo;
julgava que era uma visão.
Depois de atravessarem o primeiro e o segundo posto da guarda,
chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade,
e a porta abriu-se por si mesma diante deles.
Saíram, avançando por uma rua,
e subitamente o Anjo desapareceu.
Então Pedro, voltando a si, exclamou:
«Agora sei realmente que o Senhor enviou o seu Anjo
e me libertou das mãos de Herodes
e de toda a expectativa do povo judeu».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL
Salmo 33 (34), 2-3.4-5.6-7.8-9 (R. 5b)
Refrão: O Senhor libertou-me de toda a ansiedade. Repete-se
A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes. Refrão

Enaltecei comigo ao Senhor
e exaltemos juntos o seu nome.
Procurei o Senhor e Ele atendeu-me,
libertou-me de toda a ansiedade. Refrão

Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes,
o vosso rosto não se cobrirá de vergonha.
Este pobre clamou e o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias. Refrão

O Anjo do Senhor protege os que O temem
e defende-os dos perigos.
Saboreai e vede como o Senhor é bom:
feliz o homem que n’Ele se refugia. Refrão
SEGUNDA LEITURA
2 Tim 4, 6-8.17-18
«Já me está preparada a coroa da justiça»
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo:
Eu já estou oferecido em libação
e o tempo da minha partida está iminente.
Combati o bom combate,
terminei a minha carreira,
guardei a fé.
E agora já me está preparada a coroa da justiça,
que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia;
e não só a mim, mas a todos aqueles
que tiverem esperado com amor a sua vinda.
O Senhor esteve a meu lado e deu-me força,
para que, por meu intermédio,
a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada
e todos os pagãos a ouvissem;
e eu fui libertado da boca do leão.
O Senhor me livrará de todo o mal
e me dará a salvação no seu reino celeste.
Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Amen.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Mt 16, 18
Refrão: Aleluia. Repete-se

Tu és Pedro
e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Refrão
EVANGELHO
Mt 16, 13-19
«Tu és Pedro e dar-te-ei as chaves do reino dos Céus»
croce_vangelo.pngEvangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe
e perguntou aos seus discípulos:
«Quem dizem os homens que é o Filho do homem?».
Eles responderam:
«Uns dizem que é João Baptista,
outros que é Elias,
outros que é Jeremias ou algum dos profetas».
Jesus perguntou:
«E vós, quem dizeis que Eu sou?».
Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse:
«Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo».
Jesus respondeu-lhe:
«Feliz de ti, Simão, filho de Jonas,
porque não foram a carne e o sangue que to revelaram,
mas sim meu Pai que está nos Céus.
Também Eu te digo: Tu és Pedro;
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus:
tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus,
e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».
Palavra da salvação.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

A missão e formação dos leigos.

Porto, 03 de Junho de 2019 

Fernando Ilídio é teólogo leigo, casado e tem uma filha. Formado em Teologia pelo Centro de Cultura Católica do Porto, exerceu vários serviços pastorais na Paróquia de Matosinhos, de onde é natural. 

O caminho a percorrer no estudo da Teologia

Teólogo leigo: Fernando Ilídio 
Ilídio: é muito natural o leigo procurar formação, conhecimento, um curso de Teologia para a sua preparação pode ser uma mais-valia. A ideia de um leigo atuar mais na formação e na pesquisa teológica é algo a ser estudado. Na Europa, temos muitos exemplos de leigos e leigas na procura de uma formação teológica. A minha experiência vem da minha prática no serviço eclesial. Venho da Pastoral da Litúrgica. Tive uma formação muito forte pela participação em alguns grupos.
Por inspiração num Diácono, amigo meu e da família, fiz o curso de Teologia no Centro de Cultura Católica do Porto. Fui com intuito de aprender mais e crescer, mas também pela sede de querer aprender mais que fiz o curso. A Teologia é um universo encantador e apaixonante. Quanto mais se mergulha, mais nos encanta com as verdades que vamos descobrindo nas dúvidas e nas incertezas da fé, nas dúvidas e incertezas da nossa própria vida.

A Igreja a partir do Concílio Ecuménico Vaticano II
Ilídio: há muitas visões de Igreja atrás desta ou daquela proposta sem se dar conta do que se pensa. A proposta do Concílio e dos documentos que remontam à discussão é uma Igreja dialogante, aberta, com atitude voltada para o bem comum e um horizonte pautado pela prática do Reino no serviço. Uma formação teológica cristã para um agente da pastoral e qualquer fiel da Igreja, ou qual for a vocação, deve levar à condução de um cristão melhor, coerente.
O intimismo afasta e é contrário ao evangelho, atrapalha na evangelização. É bom olhar para nós mesmos e para a nossa comunidade e exercer o nosso sentido profético de chamar a atenção e falar. Sei que não é fácil chamar a atenção do olhar para a realidade da nossa vida. Se a formação que eu recebo não me leva a olhar o outro e a servir, essa formação é mesquinha e danosa e não visa o bem comum.
A Igreja precisa pensar a formação nas diversas vocações e olhar aquilo que é especifico de um homem e de uma mulher nas diferenças, que são uma riqueza. Existe uma beleza na teologia e na vida da Igreja, trazida por aqueles que são ordenados, mas também existe uma beleza e uma riqueza naqueles que são da vida consagrada e uma beleza e uma riqueza naqueles que, como eu, são leigos. Cada um tem o seu jeito próprio de ser Igreja no contexto da proposta do Concílio Vaticano II.
O Concílio muda a concepção pastoral e mudou a questão doutrinária da Igreja. Verificamos isso na Lumen Gentium, que antes via a Igreja como uma espécie de pirâmide. O Papa, os bispos, padres, diáconos e os leigos em baixo. E a vida consagrada, com um grau de santidade, que se retirava para oração e contemplação; enquanto os leigos estavam, numa linguagem popular, longe do sagrado. Estavam no mundo profano e no meio dos perigos. O Concílio definiu a Igreja como Povo de Deus e define o papel dos ordenados, do leigo e da vida consagrada.
A santidade compete a toda Igreja. Não podemos trazer uma disputa de classes para dentro da Igreja. A Igreja não pode ser uma democracia em que todos tenham voz ao mesmo tempo. Não pode ser uma monarquia a onde alguém decide sozinho. A Igreja tem que ser uma Koinonia, ou seja, uma comunhão que sabe comungar uma causa comum com diferentes frentes e realidades. Trazemos para dentro da Igreja problemas que não são propriamente dela, mas da nossa sociedade. Por exemplo, a discriminação da mulher que ocorre na sociedade e também na Igreja.

Participação feminina na Igreja
Ilídio: é impossível pensar a Igreja Portuguesa e fora dela sem considerar o aspecto feminino, que tem um forma própria de ser. Para mim, o modelo da Igreja foi a minha avó. Aquilo que fui, que sou e experimento sempre vêm-me as lembranças das suas palavras. Nos momentos de crise ela dizia-me: ‘espera um pouquinho’. ‘Não é por aí, espera’. Com um olhar atento e preocupante de uma mãe. Um movimento defende a hierarquização da mulher na elevação do ministério ordenado. Vejo como favorável a ordenação de mulheres. Mas há também uma matriz teológica que diz que não. São horizontes de discussão que a Teologia pode continuar a contribuir, mesmo depois do estudo já realizado pelo Santo Padre.
Nem sempre a elevação ao ministério ordenado feminino é ser equiparado a mesma posição e ao mesmo trabalho que a ordenação masculina. Nas cartas do Apóstolo São Paulo vemos as diaconisas. Há um risco quando se quer apenas colocar a elevação ao ministério. Isso pode fazer desaparecer aquilo que é mais belo na mulher: sua feminilidade. A sua forma própria de ser mulher. O desafio no que toca à mulher é garantir a presença dela como mulher. Quando falo de mulher é refiro-me aquelas que são de maior número e sustentam o dia-a-dia de muitas comunidades de fé. Suportam e sustentam muitas crises de fé. Aquelas que estão na base das estruturas e que têm a coragem e audácia do amor à causa que representa, ao exemplo de Maria, nossa Senhora e nossa Mãe.

A Postura do leigo na Igreja
Ilídio: não sou da vida consagrada, não sou padre. Sou leigo. Sou casado e tenho uma filha. Fiz esta opção na minha vida. A expressão ‘leigo’ é muito usada dentro da Igreja Católica. Nas outras igrejas cristãs aqueles que não são pastores e não têm uma liderança não são chamados de leigos. Têm outras nomenclaturas, como, por exemplo, povo e fiéis. Não se diferencia muito o tratamento e as atitudes. Há em algumas comunidades uma percepção mais ativa e em outras mais passiva dessa definição de leigo. O teólogo alemão Karl Rahner, na sua defesa do laicato, dizia que aquele leigo que exerce uma liderança ou um ministério de formação na liturgia não é mais leigo, ele já faz parte de uma estrutura hierárquica. Embora eu não concorde com Karl Ranner na totalidade, pois com a ideia dele se diz que tal categoria é menor ou maior que o todo.

As dificuldades enfrentadas pelos leigos 
Ilídio: as dificuldades da vida tocam os leigos e deixam marcas podendo ser a força na esperança que sustenta a fé. A pessoa só sobrevive na fé a partir da força de Deus, a partir daquilo que acredita, procura, almeja e espera. As dificuldades todas que nos cercam, tanto na vida pessoal como na vida eclesial, podem ser uma força e um degrau para nos fortalecer na fé. Se os leigos soubessem a força que tem a sua fé transformariam toda a sociedade.
Nenhuma mudança virá de cima nem eclesiologicamente e politicamente. Toda e qualquer mudança começa de baixo. É necessário recuperar o sentido da fé como Igreja, o sentido da fé na sociedade em conjunto. Vivemos hoje uma prática religiosa muito individualista, pessoal e cada um por si. O que é próprio do mundo moderno. Mas o que poderemos oferecer de melhor no sentido comunitário e partilhar o mesmo pão?

Os Leigos protagonistas na Igreja
Ilídio : se formos leigos e leigas e quisermos ter algo a mais e um espaço, teremos que lutar por este espaço. Existem circunstâncias que devemos dialogar mais e lutar menos. E outras, lutar mais e dialogar menos para mostrar que se existe. Contudo, a causa não é própria, mas da Igreja. Precisamos abrir mais portas e não fechar as poucas portas que temos. O protagonismo é uma conquista. A mentalidade do leigo que temos hoje é do próprio leigo e também da própria estrutura. Porque Francisco, enquanto Papa, quando é ele, ele é solto, mas quando está preso às estruturas sente-se engessado.

Novos modelos de família hoje
Ilídio: olhando para a família de Nazaré, que informações podemos colher da situação da jovem Maria? Uma jovem de 15 anos, grávida fora do casamento. A nossa sociedade trataria de que maneira esta menina? De José não sabemos quase nada. Diz-se que era um homem justo. Se ele morreu, se se divorciou ou abandonou, pela Bíblia, não sabemos nada. O que nós sabemos vem um pouco da relação que Jesus tem com Deus. Jesus chama Deus de Abba, que quer dizer Pai. Uma tese que eu trago e se os exegetas não concordam eu peço desculpas: se o pai terreno de Jesus não tivesse sido um pai bondoso, amoroso e justo, jamais Jesus chamaria Deus de Pai. Um judeu jamais chamaria Deus de paizinho.
Num trabalho com crianças em situação de vulnerabilidade social, se elas não receberam amor e carinho do pai e da mãe, estas terão uma dificuldade imensa de entender um Deus que é amor, um Deus que é Pai. Pedagogicamente recomenda-se que, nas escolas, celebrem o Dia da Família e não o Dia dos Pais e Mães. Nem todas as crianças têm uma situação familiar da mesma maneira. Para não excluir, mas incluir de maneira mais aberta. Na família de Nazaré temos Jesus que, na juventude, vai embora de casa, que "luta" com a religião e a sociedade da época e é morto como um criminoso. Esta é a família de Nazaré. Esta família poderia participar nas nossas comunidades? Receber os sacramentos? Ter acesso às questões pastorais? Não seríamos nós aqueles donos das hospedarias das portas fechadas para a família que bate? Olhando intrinsecamente para a família de Nazaré podemos encontrar ali uma realidade muito presente de modelo de família hoje. Não é a família que tem que ser plena. É Deus que é pleno, justo, é a graça que se faz presente. Aonde há amor, Deus ali está.

A Evangelização nos dias atuais
Ilídio: às vezes enfeitam em demasia os discursos para deixá-los mais bonitos, mas o conteúdo é velho e não corresponde com a Boa Nova. Parece que o deixamos velho com a nossa maneira de agir. Por vezes embeleza-se muito e não se traz uma reflexão nova. Assusta-me muito o discurso de alguns movimentos mais rígidos na educação moral da juventude. Este é um fenómeno pós-moderno em que a juventude se vê complexa e se agarra a religiosidade rígida como segurança. Há uma sede de formação, de fé e de procura. Se esta sede não for bem ouvida, o alimento que é dado pode embriagar e não sustentar. Se não tiver um planeamento e uma articulação daquilo que é oferecido, a sede e a fome vão continuar.
A crítica é sempre bem-vinda, sobretudo, para quem se coloca na disposição de refletir teologicamente. As ciências sociais e humanas podem contribuir e melhorar a nossa formação. Não só o estudo da Filosofia e a Teologia, mas outras ciências para poder evangelizar. Também as novas questões que envolvem a bioética devem fazer parte da reflexão das pessoas de fé. Uma formação integral deve contemplar todas as realidades.
Vou dar um exemplo simples. Numa formação para o Matrimónio, a pessoa chega com a Humanae Vitae e limita-se, nesta formação, no que o casal pode ou não pode fazer e esquece outros documentos do Magistério e do Vaticano II, que tratam da consciência da pessoa. Ter um olhar responsável na própria sociedade é levá-la a esta compreensão. Se tivermos uma evangelização fixada em proibições no que se pode ou não pode ou obedecer cegamente sem entender as razões eclesiásticas isso não é uma formação. Não é uma formação integral e nem específica, que não contribui na evangelização e nos seus processos.

Papa Francisco e uma Igreja ‘em saída’
Ilídio: isto não é novo na Igreja, o Papa São João Paulo II e os documentos do Celam já tratavam disso. Mas o Papa Francisco fala num tom novo e diferente. Ele sabe que sua eleição como pontífice está ligada à renúncia do Papa Bento XVI e aos problemas que a Igreja vinha enfrentando até então. Ele fala para mudar o pensamento clericalista e o uso dos espaços pelo poder que se tem. É preciso mudar esta estrutura. É exatamente isto que o Papa tem vindo a dizer. Esta mentalidade está em toda a Igreja desde os cardeais até o povo.
Muitas estruturas eclesiásticas agem como se Deus não existisse e como se o mistério revelado não acontecesse. Agem como que aquilo que vemos no evangelho fosse algo lá traz, do passado, e não nos toca mais na vida. A nossa fé diz-nos que Deus nos amou tanto e se fez carne, morreu e ressuscitou. Isso deveria ser o gás da nossa vida nas mais diversas questões humanas. Temos muitas estruturas administrativas e poucas missionárias, vocacionais e pastorais. A ideia é chocar para que se possa mostrar que alguns modelos de Deus devem morrer e o Deus verdadeiro aparecer.

Fernando Ilídio in Cantinho da Teologia®

sábado, 11 de maio de 2019

Reflexão IV Domingo de Páscoa ano C

Na Liturgia deste IV Domingo da Páscoa, veremos, na 1a Leitura (At 13, 14.43-52), a reação dos judeus frente à pregação de Paulo e Barnabé, por ocasião da conversão dos pagãos. Os Judeus pensavam ter o monopólio de Deus e da verdade, sentiam-se pessoas ‘religiosas’ e ‘de bem’, mas ficaram indiferentes às propostas cristãs. Os pagãos, ao contrário, responderam com alegria e entusiasmo, dispostos a seguir atentos à voz do Bom Pastor.
Os Judeus, por ciúmes, ridicularizam e põem em descrédito a mensagem dos apóstolos, reagem com violência, usam pessoas da elite económica e influentes para tal facto. Por estarem fechados e reagirem assim, o projeto de Deus não penetra em quem põe obstáculos. Neste sentido, vemos que o anúncio da Palavra mexe com o sistema vigente e, por isso, os apóstolos não são aplaudidos, mas sofrem tribulação, são expulsos do local. Como única alternativa: rompem com tal tipo de gente: “Os apóstolos sacudiram contra eles a poeira dos pés e foram para outra cidade”. Será que os judeus se salvaram? Será que um dia alguém conseguiu falar-lhes ao coração?
A 2ª Leitura (Ap 7, 9.14b-17) diz-nos que os cristãos que permanecem fiéis na história, apesar dos desafios e perseguições, um dia, serão vitoriosos: “Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro”.
No Evangelho (Jo 10, 27-30), Jesus apresenta-se como o ‘Bom Pastor’, capaz de deixar as 99 ovelhas sadias para procurar a que se perdeu, que se maguou , encontrando-a; então, Ele cura-a, carrega-a ao colo, salva-a.
Hoje, Jesus está presente nos nossos líderes e autoridades quando exercem os seus cargos em espírito de serviço e doação. O verdadeiro líder, pastor, também enfrenta o 'lobo', toma posições quando a dignidade das pessoas e o bem comum correm perigo. As ovelhas dependem da habilidade do pastor para se manterem vivas e seguras. Todos somos chamados a viver a espiritualidade do bom pastor, todos somos 'pastores' na família, no trabalho , na política etc, mas também todos somos ovelhas de Jesus.

"O homem de hoje rejeita com desdém o papel de ovelha e a ideia de rebanho, mas não nota que está completamente dentro. Um dos fenómenos mais evidentes de nossa sociedade é a massificação. Deixamo-nos guiar de maneira indiferente por todo tipo de manipulação e de persuasão oculta. Outros criam modelos de bem-estar e de comportamento, ideais e objetivos de progresso, e nós os seguimos; vamos a trás, e temerosos de perder o passo, condicionados e sequestrados pela publicidade. Comemos o que nos dizem, vestimos como nos ensinam, falamos como ouvimos falar, por slogan. O critério pelo que a maioria se deixa guiar nas próprias opções é o que o capitalismo dita ou então todos fazem assim" (Fernando Ilídio, Teólogo).

Cada um de nós é chamado a ser livre e a fazer a diferença no universo. O Bom Pastor, que é Cristo, propõe-nos fazer com Ele uma experiência de libertação. Pertencer no seu rebanho não é cair na massificação, mas ser preservado dela. "Onde está o Espírito do Senhor, ali está a liberdade" (2 Cor 3,17).

Cantinho da Teologia ®

terça-feira, 16 de abril de 2019

A Semana Santa

A Semana Santa é uma tradição  da Igreja em que se celebra a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo. Ela tem início no Domingo de Ramos, que relembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e termina com a ressurreição de Jesus, que ocorre no domingo de Páscoa, é um momento de reflexão e oração.
A semana santa tem diferentes nomes. Alguns povos a denominam “semana silenciosa”, querendo destacar que estes dias são diferentes dos demais. A quaresma também é denominada Época da Paixão. Mas, a intenção ao falar de uma semana santa é a mesma. Acompanhamos nestes dias os últimos passos de Jesus em Jerusalém, desde a sua entrada triunfal, no domingo de ramos, até à sua morte, na sexta-feira, e a ressurreição, no domingo de Páscoa.
Um hino do século 17 descreve não só a intenção da semana santa, mas de toda a quaresma: “Cristo quero meditar no teu sofrimento, queiras tu iluminar o meu pensamento”. A semana santa deve ser vista dentro do “ciclo de Páscoa” do ano litúrgico da igreja. Inicia na quarta-feira de cinzas (40 dias antes da Páscoa, excetuando-se os domingos) e termina 40 dias depois da Páscoa, na quinta-feira em que se comemora a Ascensão de Jesus Cristo.

A semana santa, bem como a quaresma, tem data variável: cada ano é diferente. O domingo de Páscoa cai no primeiro domingo depois da lua cheia após 20 de março, que é a data nominal do equinócio da primavera no hemisfério Norte. A partir da data de Páscoa fixam-se as demais datas dos dias anteriores e posteriores. Também o carnaval respeita esta antiga tradição: 40 dias antes da Páscoa inicia a Quaresma e, no dia imediatamente anterior ao início deste tempo, festeja-se o carnaval.
Quaresma – Os 40 dias foram estabelecidos no século VIII porque o número 40 tem significado especial na Bíblia: lembramos os 40 dias de Moisés, do profeta Elias e de Jesus Cristo no deserto.
Quarta-feira de Cinzas – Neste dia começa a quaresma, sempre numa quarta-feira. O nome  tem origem no costume de fazer o sinal da cruz na testa com cinzas, como sinal e símbolo de penitência, jejum e oração.
Ascensão – Quarenta dias depois do domingo da ressurreição termina o período de Páscoa, pois o livro de Atos relata que após a ressurreição Jesus apareceu “durante quarenta dias” aos discípulos e então subiu ao céu (Atos 1.1-11).
A semana santa no calendário litúrgico
Domingo de Ramos – Neste domingo anterior à Páscoa, com o qual começa a semana santa, lembra-se a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mateus 21.1-11).
Segunda-feira – Comemora-se a purificação do templo por Jesus (Mateus 21.12-13).
Terça-feira – Descrição de Jesus aos discípulos sobre a destruição de Jerusalém (Mateus 23.37-24.2).
Quarta-feira – Lembra-se a decisão de Judas de trair Jesus e entregá-lo por 30 moedas de prata aos sacerdotes (Mateus 26.14-16).
Quinta-feira Santa – Celebra-se a instituição da Eucarístia e lembra-se a agonia de Jesus no jardim do Getsêmani. Igualmente, é lembrado  também como Jesus lavou os pés dos seus discípulos (Mateus 26.26-30 e 36-46) (João 13.1-11).
Sexta-feira Santa – Lembra-se a crucificação e a morte de Jesus (Mateus 27.33-56).
Sábado de Aleluia ou Vigília Pascal– Reflete-se sobre o sepultamento de Jesus (Mateus 27.57-66).
Domingo de Páscoa – Celebração da ressurreição de Jesus (Mateus 28.1-10).
Significado teológico
“Nós pregamos a Cristo crucificado”, escreve o apóstolo Paulo na primeira epístola aos Coríntios (1.23). Não são os sinais e nem a sabedoria que devem estar no centro da reflexão e, com isto, da fé cristã, mas a morte de Jesus Cristo. Aqui está o centro de toda a teologia. Por este motivo, as igrejas cristãs têm no centro dos altares a cruz ou o crucifixo, como a lembrar que o acontecimento mais importante é a morte de Cristo. Podemos mesmo dizer que a morte de Jesus na cruz é a chave da passagem para a vida eterna. É lógico que tudo isto tem como objectivo maior a Ressurreição, sinal da vida e da vitória de Cristo sobre as trevas. 
O costume de celebrar a semana santa com todas as suas tradições, que se formaram ao longo dos séculos, pode ser um auxílio para compreender e memorizar que o centro da nossa fé cristã está na Paixão, Morte e Ressurreição de nosso Senhor.



Fernando Ilídio in Cantinho da Teologia ®

sexta-feira, 29 de março de 2019

São Paulo - Carta aos Romanos


Curso Básico de Teologia
Sagrada Escritura III




São Paulo
“A Justificação pela Fé”



Fernando Ilídio Maia Botelho da Silva
Porto, 2016









índice


Introdução
Carta aos Romanos - Contextualização
A Justificação pela Fé
Caraterísticas e resultados da justificação
Conclusão
Bibliografia







Introdução


A mais importante porção dos escritos apostólicos encontra-se, com toda a certeza, nas cartas do Apóstolo Paulo. As cartas apostólicas, como um todo, constituem num importantíssimo segmento do ensinamento neotestamentário, porque são um vasto celeiro de ensinamentos teológicos, doutrinários e morais. Marcam o momento em que a igreja sistematizou o conhecimento de Deus, até então expresso nos livros do Antigo Testamento, e desenvolveu, inclusive a partir da nova ótica trazida por Jesus Cristo, uma nova compreensão da forma como deveria relacionar-se com o Pai. Surge, neste período, de forma mais clara e didática, a doutrina da Trindade, os temas do amor de Deus, do chamado dos gentios, da salvação pela fé em Jesus Cristo, da ressurreição dos mortos, da vida eterna e tantos outros.
As cartas de Paulo, por sua vez, compreendem mais da metade de todo esse legado da igreja primitiva, e estão entre os mais importantes documentos que nos têm chegado às mãos.
Na sua grande maioria, tratam-se de escritos ocasionais, ou seja, nasceram da necessidade sentida pelo Apóstolo de intervir em alguma situação eclesiástica, onde não poderia fazê-lo pessoalmente. Ora, apresentava-se o caso de argumentar dúvidas doutrinárias, ora apaziguavam-se litígios, ora recomendavam-se ações, providências e posturas a discípulos, ou mesmo apresentava-se a compreensão que o Apóstolo tinha do plano salvífico de Deus, como forma de apresentação pessoal, anteriormente a uma visita.
Paulo não escrevia de seu próprio punho, conforme era costume dos escritores antigos. Antes, ditava-as a um servo de sua confiança. No final, o Apóstolo anexava as suas saudações finais de punho próprio.
Dentre as cartas de Paulo, certamente, a Carta aos Romanos ocupa lugar de destaque. Alguém já a chamou de “evangelho dentro do evangelho”, dado à forma linear, sistemática, profunda e completa pela qual o seu autor expõe a sua compreensão do plano da salvação. Neste trabalho dar-se á especial relevância ao tema a “Justificação pela Fé” e a todas as suas características.


Carta aos Romanos - Contextualização


Paulo estava animado com a ideia de finalmente poder ministrar a igreja, e todos estavam bem conscientes desse fato (Romanos 1:8-15). A carta aos Romanos foi escrita em Corinto pouco antes da viagem de Paulo a Jerusalém para entregar as ofertas que haviam sido dadas aos pobres de lá. Ele tinha a intenção de ir a Roma e depois a Espanha (Romanos 15:24), mas os seus planos foram interrompidos quando foi preso em Jerusalém. Ele acabaria por ir para Roma como prisioneiro. Febe, um membro da igreja em Cencreia perto de Corinto (Romanos 16:1), provavelmente levou a carta para Roma.
 O livro de Romanos fala-nos sobre Deus, quem Ele é e o que tem feito. Ele fala de Jesus Cristo, e o que sua morte alcançou. Ele fala-nos sobre nós mesmos, o que éramos sem Cristo e quem somos depois de termos confiado em Cristo. Paulo recorda que Deus não exige que os homens endireitem suas vidas antes de virem a Cristo. Enquanto éramos ainda pecadores, Cristo morreu na cruz por nossos pecados.

 Paulo usa várias pessoas e eventos do Antigo Testamento como ilustrações das gloriosas verdades encontradas no livro de Romanos. Abraão acreditou e a justiça foi-lhe imputada pela sua fé, e não pelas suas obras (Romanos 4:1-5). Em Romanos 4:6-9, Paulo refere-se a David, o qual reiterou a mesma verdade: "Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado." Paulo usa Adão para explicar aos Romanos a doutrina do pecado herdado e usa a história de Sara e Isac, o filho da promessa, para ilustrar o princípio dos cristãos sendo os filhos da promessa da graça divina através de Cristo. Nos capítulos 9 a 11, Paulo narra a história da nação de Israel e declara que Deus não os rejeitou completamente e definitivamente (Romanos 11:11-12), mas permitiu-lhes "tropeçar" somente até que o número total dos gentios seja trazido à salvação.




A Justificação pela Fé

Quando se questiona: "A salvação vem somente pela fé ou pela fé mais as obras?"

 Sabemos desde cedo que esta talvez seja a mais importante pergunta em toda a Teologia Cristã. Esta pergunta motivou a Reforma: a separação entre a Igreja Protestante e a Igreja Católica. Nesta pergunta está a diferença crucial entre o Cristianismo Bíblico e a maioria dos cultos “Cristãos”. A salvação dá-se somente pela fé ou pela fé mais as obras? Sou salvo apenas por crer em Jesus ou tenho que crer em Jesus e fazer certas “obras”?
A questão da fé somente, ou fé mais as obras faz-se difícil por causa de algumas passagens bíblicas de difícil correlação. Comparemos Romanos 3:28, 5:1 e Gálatas 3:24 com Tiago 2:24. Há quem veja alguma diferença entre Paulo (a Salvação vem somente pela fé) e Tiago (a Salvação vem pela fé mais as obras). Na verdade, Paulo e Tiago, de maneira alguma, discordam entre si. O único ponto de discordância que alguns afirmam existir é a respeito da relação entre fé e obras. Paulo dogmaticamente diz que a justificação se dá somente pela fé (Efésios 2:8-9) enquanto Tiago aparentemente diz que a justificação é pela fé mais as obras. Este aparente problema é resolvido ao examinarmos com precisão sobre o que Tiago discorre. Ele nega a crença de que a pessoa possa ter fé sem produzir quaisquer boas obras (Tiago 2:17-18). Tiago está assim, a enfatizar o argumento de que a fé genuína em Cristo produzirá uma vida transformada e boas obras (Tiago 2:20-26). Tiago não está com isto a dizer que a justificação se dá pela fé mais as obras, mas, ao invés disso, diz que a pessoa que é verdadeiramente justificada pela fé produzirá boas obras durante a sua vida. Se uma pessoa afirma ser crente, mas não produz boas obras na sua vida - então ela provavelmente não tem fé genuína em Cristo (Tiago 2:14, 17, 20, 26).
Paulo escreve o mesmo. O bom fruto que os crentes devem produzir nas suas vidas é citado em Gálatas 5:22-23. Logo depois de nos dizer que somos salvos pela fé, não por obras (Efésios 2:8,9), Paulo informa-nos que fomos criados para as boas obras (Efésios 2:10). Paulo espera tanto de uma vida transformada quanto Tiago. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (II Coríntios 5:17)! Tiago e Paulo não discordam nos seus ensinamentos sobre a salvação. Eles abordam o mesmo assunto sob diferentes prismas. Paulo simplesmente enfatizou que a justificação vem somente pela fé enquanto Tiago enfatizou o fato de que a fé em Cristo produz boas obras. Em última análise podemos dizer que ambas andam de braço dado no que diz respeito á nossa salvação.




Caraterísticas e resultados da justificação


Na Carta aos Romanos, no verso 21 do capítulo 3, Paulo afirma que o processo de salvação, concebido por Deus, independentemente da lei, já era conhecido no Antigo Testamento (lei e profetas). Para demonstrar este argumento, ele escolhe alguém que, se pudesse ser justificado por obras, o seria, com toda certeza: Abraão. Ora, diz o Autor, se Abraão foi justificado por alguma coisa boa que tenha feito, isto deve ser motivo de orgulho para ele, porque a sua justificação seria uma espécie de pagamento a que teria direito. Mas não é — conclui Paulo — porque a Escritura diz que Abraão foi justificado pela fé, e não pelas obras.
6-8 Precisamos de mais um exemplo de que a justificação sempre foi obtida pela fé? Então escolhamos outro que teria todas as condições de obtê-la por obras: David, que foi considerado um homem “segundo o coração de Deus” Paulo, então, demonstra que David também confiava na graça de Deus para a sua justificação.
9-12 Paulo volta a Abraão para demonstrar que não há ligação entre a circuncisão (sinal da lei) e a justificação. Faz isto, lembrando que o Patriarca foi justificado pela fé, muito antes de ter recebido o sinal da circuncisão. Na verdade, aquele rito foi consequência, selo da fé, e não causa (cf. 11).
13 Justiça da fé. Paulo refere-se ao processo justificador daquele que não confia nas suas próprias capacidades, mas sim naquele que torna justo ao ímpio (v. 5).
22 Imputado. Pode ser entendido como a figura de um depósito em conta. Isto lhe foi creditado como condição justificadora. Quer dizer que esta fé foi levada em conta (v. 25) por Deus.
25 Por causa...justificação. Encerra-se, aqui, o argumento do tema apresentado em 1:17: “aquele que pela fé é justo...viverá”. Esse argumento visou demonstrar a justiça de Deus, também como um processo por ele proposto para a justificação do pecador: Por um lado, sua justiça condena o pecado; por outro, ela se derrama em graça e torna justo o pecador, mediante a fé em Jesus Cristo.


A Justificação de Abraão (Romanos 4:1-25)

Como podemos ver, Paulo encerrou o capítulo 3 com a afirmação que a fé confirma e não anula a lei. Ele continua o seu argumento, citando o exemplo do pai do povo da aliança, Abraão. Todos os judeus respeitavam profundamente o pai da sua nação. Mostrando que Abraão foi justificado por fé, e não por obras de lei, Paulo reforça a sua defesa do evangelho entre os judeus. Vejamos em pormenor.

Abraão justificado pela fé (1-8)

Abraão foi justificado por obras de mérito, recebendo o salário justo pelas suas obras? Não! Deus aceitou a sua fé no lugar de perfeita justiça. Assim, Abraão recebeu o favor (graça) de Deus, e não recebeu um salário devido por serviço prestado ao Senhor (1-4). Quando a pessoa confia em Deus, crendo que ele justifica o ímpio, Deus aceita a fé no lugar da justiça (5).
David, outro homem muito respeitado entre os judeus, entendeu que um homem abençoado é aquele que recebe o benefício da graça de Deus, o perdão dos seus pecados (6-8). Lembramos que Paulo citou vários salmos para mostrar a culpa do homem (3:10-18); agora cita o salmista para mostrar a dependência de todos na graça de Deus.

Gentios salvos pela fé (9-15)

O pai dos judeus foi justificado pela fé. Como, então, os gentios seriam justificados? Pela lei? Não! Eles também podem ser salvos pela fé.
A circuncisão não salva (9-12). Abraão recebeu a graça de Deus pela fé antes de ser circuncisado (veja Génesis 12, onde recebeu as promessas, e Génesis 17, onde recebeu a ordenança da circuncisão 24 anos depois). A circuncisão por si só não serve para nada diante de Deus. É necessária a obediência, andando “nas pisadas da fé que teve Abraão...antes de ser circuncidado” (12).
A lei não salva (13-15). Nem Abraão nem a sua descendência receberam o favor de Deus mediante a lei. Se a herança pertencia exclusivamente aos da lei, a promessa e a fé seriam anuladas (compare-se Gálatas 3:16-18). A lei suscita a ira (15), trazendo conhecimento do pecado (3:20) e encerrando tudo sob o pecado (Gálatas 3:22). Vemos mais sobre isso a partir de 5:13.

Pai daqueles que creem (16-25)

Abraão é o pai de todos os que creem, e não apenas daqueles que receberam a lei (16-20). O mesmo Deus que levantou uma nação a um homem “amortecido” (19; Hebreus 11:12) poderá levantar uma nação santa de povos já considerados mortos pelos judeus. (O mesmo texto que traz a ordem original da circuncisão, também inclui a promessa ao velho Abraão que seria pai do filho da promessa, e que seria pai de muitas nações – Génesis 17).
Abraão acreditou, mesmo nas promessas que pareciam impossíveis, porque confiou em Deus Todo-Poderoso (20-21). Deus aceitou a fé de Abraão como justiça (22).
O mesmo princípio se aplica a todos os que creem nas promessas “impossíveis” de Deus, especificamente na ressurreição de Jesus Cristo (23-25). Ele foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitado por causa da nossa justificação.
As nossas transgressões causaram a morte de Jesus. Neste sentido, a nossa justificação, feita pelo sacrifício d´Ele, “causou” a sua ressurreição. Uma vez cumprida a sua missão, Ele foi ressuscitado de entre os mortos, mostrando para todos a base da esperança dos crentes.

Conclusão


A carta aos Romanos deixa, grosso modo, claro, que só através da nossa fé em Cristo Jesus e da graça misericordiosa de Deus nosso Pai podemos ser salvos. Deus expressou a sua graça e misericórdia ao enviar o Seu filho, Jesus Cristo, para morrer na cruz para expiação dos nossos pecados. Quando entregamos as nossas vidas a Cristo, não somos mais controlados pela nossa natureza pecaminosa, mas pelo Seu Espírito Santo. Se fizermos a confissão de que Jesus Cristo é o nosso Senhor, e acreditarmos verdadeiramente que Ele ressuscitou dos mortos, somos salvos, nascidos de novo. Precisamos de viver uma vida oferecida a Deus como sacrifício vivo para Ele. A adoração do Deus que nos salvou, através do Seu filho único, deve ser o nosso maior desejo. Talvez a melhor aplicação de Romanos seria a execução prática de Romanos 1:16 “e não nos envergonharmos do evangelho. Em vez disso, vamos todos ser fiéis em proclamá-lo!”



Bibliografia


ARTOLA, Antonio M., CARO, José Manuel Sánchez, Escritos Paulinos, vol.7, Editorial Verbo Divino, Espanha, 1995;
Bíblia Sagrada, Capuchinhos, Lisboa, 1999;
ECHEGARAY, J. Gonzáçez et al, La Biblia en su entorno, vol.1, Editorial Verbo Divino, Espanha, 1999;
MARTINS, António et al, S. Paulo, Apóstolo da Palavra, Difusora Bíblica, Fátima, 2008;
O’CONNOR, Jerome Murphy, Paulo, 2ªEd., Editorial Paulinas, Prior Velho, 2008.





sexta-feira, 22 de março de 2019

A vocação dos leigos na Igreja



Qual é, então, a vocação do leigo na Igreja? O que é que ele está chamado a fazer?


Entender porque motivo se faz esta pergunta atualmente já é um bom caminho no sentido da direção da resposta que procuramos. Parece existir na Igreja uma noção errada de que os clérigos (bispos, padres e diáconos, em oposição aos leigos, que são todos os demais fiéis) são os “mais importantes e os protagonistas” da Igreja, enquanto os leigos são “os que escutam”, que passivamente se alimentam daquilo que os clérigos possuem para dar. A este clericalismo o Concílio Vaticano II respondeu voltando a afirmar a dignidade e a missão fundamental dos leigos na Igreja.
Devido à sua realidade de batizados, todos os leigos não estão apenas na Igreja, mas são Igreja, são parte do corpo que tem Cristo por cabeça, assim como os clérigos. Como tal, estão também chamados a ser discípulos missionários, participantes da missão da Igreja de anunciar o Evangelho a todas as nações do mundo inteiro. E para isto é necessário experimentar renovadamente  o encontro verdadeiro de cada um com Jesus, a fim de anunciá-lo na primeira pessoa. Isto acontece por meio de uma vida de oração intensa, onde se saboreia a mensagem de Jesus e se experimenta a sua graça sempre presente.
A partir deste encontro renovado, deve-se superar alguns antagonismos que hoje vemos muito presentes. Um primeiro antagonismo é o que se dá entre a fé e a vida, que faz referência a uma espécie de separação da vida de fé e da vida prática, como se as duas realidades não se relacionassem. Muitos vivem uma espécie de agnosticismo funcional, no qual a fé não interpela mais a vida cotidiana. São os cristãos de Domingo e dias de festa, quando o verdadeiro chamado é a ter uma vida (completamente) cristã.
Outro antagonismo que precisa ser superado acontece entre a Igreja e o Mundo. Muitos podem pensar que a Igreja é uma espécie de refúgio, no qual se pode fugir do mundo hostil. Se bem que é verdade que na Igreja encontramos este espaço de paz verdadeira, precisamos reconhecer que é essencial que esta paz chegue aos quatro cantos do mundo. Cristo, com a sua encarnação, valorizou o mundo e os homens, e é por isso que não nos desentendemos do mundo, mas procurámos transformá-lo, de acordo com o máximo das nossas capacidades e possibilidades, fazendo com que seja cada vez mais conformado com Cristo e o Reino de Deus de que Ele nos veio anunciar.
Superado estes (e outros) antagonismos, o leigo percebe que está chamado a ser o que se dá o nome de Sujeito Eclesial, que significa reconciliar toda a realidade humana e divina  numa mesma pessoa, o cristão, à imagem daquele que é Deus e homem, Jesus. Este sujeito atua no mundo como cidadão, mas o seu atuar é fruto do seu ser, e o seu ser é católico. Noutras palavras, o sujeito eclesial está chamado a fazer parte ativa da missão da Igreja de restaurar tudo em Cristo.

Fernando Ilídio
in Cantinho da Teologia ®

terça-feira, 5 de março de 2019

Quarta feira de Cinzas

A Quarta-feira de Cinzas observa-se um dia depois da terça-feira de Carnaval .

Também conhecido como o Dia das Cinzas, é o primeiro dia da Quaresma no calendário cristão. É celebrado 40 dias antes da Páscoa (sem contar os domingos) e calha sempre entre o início de fevereiro (dia 4) e a segunda semana de março (dia 10).

Não é feriado, mas é um dia importante no calendário cristão, apelando-se ao jejum e abstinência, a dar esmolas e à reflexão profunda.

Tradições da Quarta-feira de Cinzas

As cinzas, que provêm da queima dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior, representam a mortalidade e o arrependimento dos pecados. Por isso, as cinzas são colocadas pelo Sacerdote na testa dos Fiéis durante as missas realizadas neste dia, onde se recorda:9

“Com o suor do teu rosto
comerás o teu pão,
até que retorne ao solo,
pois dele foste tirado. 
Pois tu és pó,
e ao pó tornarás".



(Gênesis 3, 19)

Enquanto traça a cruz na testa dos fiéis, o sacerdote profere estas palavras: "arrependei-vos e acreditai no Evangelho".


Esta tradição remonta ao antigo Médio Oriente, onde o ato de colocar cinzas sobre a cabeça era um símbolo de arrependimento perante Deus.

Desta forma, os católicos começam a preparar-se para a Quaresma, que simboliza os quarenta dias que Jesus ficou no deserto, em penitência e sendo tentado pelo maligno.

A Quarta-feira de Cinzas é um rito próprio da Igreja Católica Romana, não sendo observada pelas igrejas ortodoxas.

Fernando Ilídio 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Maria Mãe de Deus e Mãe da Igreja



A Igreja apresenta-nos quatro dogmas sobre Maria 

Gostaria de iniciar por falar sobre os quatros dogmas que a Igreja proclamou sobre a Virgem Maria. Quando a Igreja proclama um dogma através do Papa, num Concílio, nós precisamos de o acolher como verdade, mesmo que por vezes não o entendamos. Santo Agostinho dizia: “Deus não é para ser entendido, mas adorado”. O Deus verdadeiro não cabe na nossa cabeça; por isso, muitas vezes, não entendemos os dogmas da fé.

Sobre Maria, é nos apresentado quatro dogmas:

 A Maternidade divina, a Imaculada Conceição, a Assunção de Nossa Senhora ao céu e a Virgindade Perpétua de Maria.

Primeiro Dogma: 

Maternidade Divina. A maior glória de Nossa Senhora foi ter sido escolhida para ser a Mãe de Deus, do Verbo Encarnado. É claro que Ele sempre existiu no seio da Santíssima Trindade, pois o Senhor é eterno. Ao contrário de nós que fomos criados, Deus sempre existiu. Por isso, no Credo, Niceno-Constantinopolitano diz-se: “Creio em um só Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos. ”. Jesus nasceu de forma humana, mas não deixa por isso de ser divino. Quando o Catecismo(CIC) fala da escolha de Nossa Senhora diz que, desde toda a eternidade, Deus já a havia escolhido para ser a Mãe de Seu filho ( 488).

“Deus juntou todas as águas e fez o mar. Deus juntou todas as graças e fez Maria” (Luís Maria Grignion de Montfort).

“Deus é um instante que não passa” (Karl Rahner). Podemos desta forma questionarmo-nos: “Porque Deus escolheu Maria?”. Ela responde no Magnificat: “Ele olhou para a pequenez de sua serva” (Lc. 1,45). Dizem que todas as mulheres de Israel tinham o sonho de ser mãe do Salvador, mas Nossa Senhora não tinha essa pretensão.

“Deus criou o homem para a imortalidade” (Sabedoria 2,23), mas este não quis obedecer a Deus. E o Senhor, para trazer a salvação ao mundo, enviou uma nova Mulher para vencer a soberba. Se pela soberba de Eva o pecado entrou no mundo, pela humildade de Maria entrou a salvação.

Quando Isabel ficou grávida e Maria foi visitá-la, o filho de Isabel estremeceu no seu seio, pois, no ventre de Maria, estava o Salvador; e no de Isabel, o precursor de Jesus, João Baptista. Isabel disse: “A que devo a honra de receber a visita da Mãe do meu Senhor”. A primeira parte da Ave-Maria, saiu da boca de Isabel e do Anjo Gabriel.

Desde os primeiro séculos, que já se acreditava neste dogma, Maria, a Mãe de Deus. Na biblioteca de Alexandria há papiros que dizem: “À vossa proteção nos recorremos Santa Mãe de Deus”. Esta oração é de meados do século 200. Nessa região houve muitas perseguições e martírios aos Cristãos. Quando chegou o ano 430, surgiu uma heresia: o Patriarca de Constantinopla dizia que Maria não era a Mãe de Deus. A Igreja precisou fazer um Concílio, na cidade de Éfeso, na Turquia, e ai a Igreja disse solenemente: “Maria é a Mãe de Deus (Theotokos).

Sabemos que existem, infelizmente, cristãos não dizem a “Mãe de Deus”, mas a “Mãe de Jesus”. Nós dizemos que Maria é a Mãe de Deus, porque Jesus é Deus. E tudo o que o Filho precisa, Ele pede à Mãe.


Segundo Dogma: 

A Imaculada Conceição. A Virgem Maria não teve pecado original. Santo Agostinho disse: “Nem se deve tocar na palavra “pecado” ao se tratar de Maria; e isto por respeito Àquele de quem ela mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça.”

Pio IX no ano de 1974: “Maria foi concebida sem pecado original”. Não teve pecado original e pessoais. Quatro anos depois, Nossa Senhora começou a aparecer a Bernadete, em França. Ela era uma criança, que mal sabia falar francês. Maria disse-lhe: “Diz ao padre que quero uma capela”. O Sacerdote, não acreditando na pobre menina, disse a Bernadete que perguntasse o nome dela. Maria disse a Bernadete, no dia 25 de março: “Je sui le Immaculée Conception” (Eu sou a Imaculada Conceição). Nossa Senhora ainda deixou um sinal especial, pediu que Bernadete cavasse no chão um buraco, pois ali haveria uma mina. Maria veio trazer um sinal do céu, e este sinal está em Lourdes.

Terceiro Dogma:

 Maria é sempre Virgem. Maria é virgem antes do parto, durante o parto e depois dele. A Igreja, na cidade de Cápoa, em 1972, proclamou este dogma. O Papa São João Paulo II disse: “Não queiras entender pela medicina, porque isso é um milagre”. “Eis que conceberás a luz e dará à luz” (Lc. 1,31). “A luz não passa no vidro sem quebrá-lo?”. 

“Para Aquele que é extraordinário, todos os fatos são excepcionais” (Santo Agostinho).


Quarto Dogma: 

Assunção de Nossa Senhora. Maria foi levada ao céu de corpo e alma. A Tradição da Igreja sempre acreditou nisto. Mas o Papa Pio XII disse: “A Virgem Maria é Mãe de Deus e Imaculada. Ao término da vida terrena, foi levada de corpo e alma para o céu”. É a única pessoa que a Igreja proclama que ressuscitou depois de Jesus. Os santos em espírito no céu e os corpos ainda na terra. Maria, onde aparece, mostra a sua feição conforme o lugar. Só pode fazer isso o corpo que ressuscitou, porque ele não está sujeito ao tempo nem ao espaço. Como Jesus, que apareceu aos discípulos no caminho de Emaús, e os discípulos não o reconheceram. Maria subiu ao céu para preparar o caminho de todos nós, seus filhos.

No meio do Concílio, o Papa proclamou: “Mater Eclesi” (Mãe da Igreja). Assim como nós precisamos de uma mãe para nos gerar e criar, para nos dar o alimento, também precisamos de Maria como nossa Mãe no céu.


Fernando Ilídio, 01 de Janeiro de 2019

Cantinho da Teologia ®


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Entrevista Especial 2019

Uma entrevista especial com o teólogo Fernando Ilídio sobre a Igreja e os seus Leigos.

Ilídio é dos mais promissores teólogos católicos da novíssima geração. Com 39 anos de idade, é formado em Teologia pelo Centro de Cultura Católica do Porto, onde concluiu os três anos do curso básico. Pesquisador, e Fundador do CDT (Cantinho da Teologia). Foi Acólito, Ministro Extraordinário da Comunhão, participou como representante do grupo de Acólitos de Matosinhos, no Concelho Pastoral Paroquial, fez parte do grupo de CPM (Preparação para o Matrimonio) , foi membro da equipa Pastoral Vocacional, formador do Grupo de Acólitos da Paróquia de Matosinhos e membro da equipa de Liturgia. 

Na entrevista, ele foi contundente e realista:


os leigos devem se afastar deste modelo estrutural e buscar novos caminhos, novas maneiras de viver a fé, dentro do chamado que é próprio da sua vocação, que é o mundo secular e as grandes causas da humanidade. Aqui está a vocação e a missão dos leigos! Ai devem ser sal e luz. Sujeitos da história. É onde os leigos, como Igreja que são, podem oferecer o seu testemunho e o seu serviço concreto. Observo que as ações do Papa Francisco também vão por aí.

Mostrou-se profundamente alinhado com o papa Francisco, quando afirma que

o clericalismo é uma doença que impede a Igreja de ser serviço e, com isso, inibe as demais vocações, sobretudo os leigos, de assumirem o seu papel, a sua missão dentro do corpo eclesial, e também na sociedade. O clericalismo traz e vive de uma imagem de Igreja que se quer garantir por si mesma, sem abertura ao novo e que busca sempre o poder, que quer estar acima, que vive ‘à parte’ e agarra-se nas estruturas, na dureza das tradições, no enrijecimento da doutrina, na dominação de uma letra sem espírito e num autoritarismo eclesiástico/hierárquico doente.

No momento em que Francisco abre a Igreja, os resultados dos anos de domínio conservador estão à vista:

o clero mais jovem, que se satisfaz em formalismos, panos e paramentos riquíssimos (até medievais) e em ritos antigos, carregados na rigidez, ou camuflados de aspectos modernos, em alguns casos, mas muito distante da simplicidade do Evangelho, o que é lamentável. Seja pela linguagem ou pela vestimenta, cria-se uma estrutura que decide por caminhar separada do mundo, distante dos problemas e com a sustentação de um ar superior.

Segundo Ilídio, pode-se constatar que a Igreja, infelizmente, continua impermeável aos leigos:

“Numa carta ao Cardeal Marc Ouellet, em 2016, o papa Francisco recorda que desde o Concílio Vaticano II se falou muito sobre a ‘hora dos leigos’, mas para o Papa esta hora ainda está longe de se concretizar. Para Francisco, e aqui para nós que nos unimos a ele, as causas são várias, mas a passividade é por culpa do próprio laicado, é um fato, mas também das estruturas, que não formam e não permitem um espaço favorável, onde leigos e leigas possam exercer criticamente e com maturidade a sua vocação.

O caminho, aponta o teólogo, é retomar a originalidade do cristianismo:

Se na resposta da Igreja antiga precisou se falar que não há escravos ou livres, homens ou mulheres, mas todos são um em Cristo Jesus, deveríamos trazer esta máxima para hoje, como uma definição basilar, para que não haja mais clero ou leigos, mas para que todos possamos ser uma só Igreja n'Ele.

Superar a contradição profunda que ainda persiste entre o laicado e a estrutura:

como é ser leigo, sujeito eclesial, numa Igreja clericalizada? Impossível! É necessário romper com isto!

Na opinião de Ilídio, muitos processos posteriores ao Concílio Vaticano II tentaram de certa forma revogar a abertura aos leigos:

Por exemplo: o que significa ser discípulo missionário, hoje? Será que há alguma mudança?… Por certo que não. Raras exceções. Continuamos com as mesmas estruturas e linhas de ação, seguimos com os mesmos planos e projetos pastorais, a mesma insistência na formação clerical dos nossos seminaristas e na pouca valorização da formação laical (…).

Consequente com a reflexão desenvolvida, foi taxativo:

Sem a ação dos leigos não há uma ação de Igreja em saída.

Cantinho da Teologia® - 02-01-2019